quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Infraero incha número de funcionários em Congonhas

No primeiro andar de Congonhas, um funcionário fica postado diante de uma maquete do aeroporto. A função dele: observar quem entra e quem sai do refeitório de funcionários, como uma espécie de vigia -que não precisar checar o crachá de ninguém.

O posto de "vigia" de refeitório, criado há poucos meses, é reflexo do inchaço de funcionários da Infraero em Congonhas. Eram 336 trabalhadores em dezembro -em junho, o número subiu para 573.

O aumento, de 70,5%, ocorre por conta da concessão à iniciativa privada dos aeroportos de Cumbica (Guarulhos) e Viracopos (Campinas). Parte dos funcionários desses locais ou não foi aproveitada pelos novos administradores ou não quis continuar lá.

Resultado: todos foram alocados em Congonhas e no Campo de Marte, aeroporto na zona norte de São Paulo exclusivo para aviões particulares. Ali, o número de trabalhadores passou de 45 para 93.

Em Congonhas também dobrou o número de atendentes nos balcões de informações; eram dois, agora são quatro por turno.

A estatal colocou pessoal com colete de "Posso ajudar?" nas áreas de embarque e desembarque e prevê encerrar contratos com terceirizados.

Na semana passada, cerca de cem funcionários, de Cumbica e de Campinas, se apresentaram em São Paulo e esperavam para serem alocados.

São pessoas que atuavam, por exemplo, no terminal de cargas e passarão para áreas administrativas.


Sem demissões

Na empresa, havia a expectativa de que mais funcionários seriam aproveitados pelas concessionárias. Só que os salários oferecidos eram, na maioria dos casos, inferiores aos da Infraero. A maioria preferiu ficar. 

Uma solução seria dispensar o excedente. Mas quase ninguém pode ser demitido: a Secretaria da Aviação Civil e a Infraero assinaram um acordo em 2011, antes das concessões dos aeroportos, em que se comprometem a demitir, sem justa causa, no máximo sete trabalhadores por ano até 2018 -a Infraero tem 14 mil funcionários.

O acordo foi assinado com o sindicato dos trabalhadores aeroportuários, que defende sua legitimidade. Na ocasião em que foi feito havia o temor de demissões em massa com entrega de aeroportos a operadores privados.

Os funcionários da Infraero estão em greve por aumento salarial. Quem trabalha em Congonhas atribui ao excesso de trabalhadores o fato de os passageiros não terem sido afetados. O sindicato diz que a adesão é expressiva.

Outro lado

Com 14 mil empregados no país, a Infraero disse que está fazendo "todos os esforços para redistribuir os funcionários de aeroportos concedidos" à iniciativa privada.

Entre as ações em todo o Brasil estão a transferência de 402 empregados para outras localidades, a substituição de 122 trabalhadores terceirizados por funcionários próprios e a reativação de postos de trabalho, o que abrigou 367 funcionários.

Outra iniciativa foi ceder 300 trabalhadores a órgãos públicos, como a Polícia Federal -o efetivo irá atuar em funções como a checagem de passaportes no aeroporto de Cumbica (Guarulhos), a partir deste mês.

A estatal também colocou empregados com coletes de "Posso ajudar?" nas áreas de embarque e desembarque, o que até então não existia, para atender os passageiros.

Para reduzir a quantidade de empregados, a empresa adotou um programa de demissão voluntária -nem todos os funcionários podem aderir; há regras específicas.

Ainda segundo a Infraero, com as saídas no programa de desligamento e os pedidos de demissão individuais, o quadro de pessoal em todo o Brasil foi reduzido em 607 funcionários, cerca de 4%.

Outros 703 desligamentos também estão previstos, considerando a adesão de mais empregados ao programa de demissão voluntária.

Há mais uma frente na qual a estatal tenta absorver o quadro excedente: a Infraero pretende prestar serviços para operadores aeroportuários, especialmente no caso dos aeroportos regionais.

"Tal linha de atuação vai exigir um contingente de profissionais capacitados", afirma a empresa.

A Infraero não comentou a situação do funcionário que toma conta do refeitório reservado a empregados da empresa em Congonhas.

O acordo assinado em 2011 com o sindicato dos funcionários que limita demissão dos trabalhadores não será revogado.

Fonte: Ricardo Gallo (jornal Folha de S.Paulo) - Foto: Luiz Carlos Maraukas/Folhapress

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