quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Força-tarefa contra caos aéreo: aeroportos terão esquema para evitar apagão em eleição

Para evitar caos nos aeroportos nas eleições, o governo montou um esquema especial para o fim de semana. Coordenado pelo Ministério da Defesa, a operação começa nesta quinta-feira à noite e vai até a terça-feira que vem, com a participação da Infraero e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Problemas causados pela Webjet, que nesta terça-feira voltou a cancelar voos, acenderam o sinal de alerta. Segundo balanço da Infraero, até as 17h desta terça, 35 (38,5%) dos 91 voos programados até aquele horário foram cancelados e 19 (20,9%) tiveram atraso superior a 30 minutos. Especialistas temem que a confusão nos aeroportos, causada em parte por falta de tripulação para atender a demanda, afete a segurança dos voos. O Sindicato Nacional dos Aeronautas acredita que novo caos aéreo pode acontecer no fim do ano, quando a procura cresce muito e as escalas de tripulação tendem a ficar ainda mais apertadas.

De acordo com o plano, elaborado pela Secretaria de Aviação Civil (SAC) da pasta, foi determinado à Infraero a suspensão de obras que possam prejudicar o fluxo de aeronaves e passageiros nesses dias. Para reforçar a equipe nos aeroportos, a estatal foi orientada a cortar folgas e reativar um centro de gerenciamento operacional em Brasília. A Anac também será orientada a manter fiscais nos terminais e determinar às empresas aéreas dispor de tripulação reserva e aviões para atender eventuais emergências.

O assunto foi discutido nesta terça-feira em reunião no Ministério da Defesa. "Haverá uma atenção especial para que, se houver algum problema localizado, seja resolvido com maior rapidez, para evitar riscos a eleitores que estejam se deslocando para votar", disse o Ministério em nota. O texto diz, porém, que a previsão é que o movimento nos aeroportos seja inferior ao de feriados longos, como Natal e Ano Novo.

Falta de piloto é problema mundial

A Webjet continua proibida de vender passagens até sexta-feira porque seu índice de cancelamentos permanece alto. Desde o início de setembro, a companhia vem cancelando voos, de modo a evitar que sua tripulação exceda a carga de trabalho determinada em lei: 85 horas de voo por mês, 230 horas por trimestre e 850 horas por ano. A Anac autuou a Webjet 55 vezes por desrespeito ao limite de horas trabalhadas, o que poderá levar a multa de R$ 225 mil. Trip e Passaredo receberam 41 autos de infração cada pela mesma razão, o que deverá totalizar R$ 164 mil em multas.

Sindicatos e especialistas temem que o ocorrido com a Webjet e a Gol, que no início de agosto enfrentou problemas parecidos, comprometam a segurança dos voos. Para Jorge Barros, diretor da consultoria Nvtec, a experiência das empresas mostra que há uma desorganização na gestão:

- Parece que o setor que vende passagens e o operacional não estão se falando. Isso denuncia uma desorganização gerencial, que pode ter desdobramentos para o setor de manutenção. Outro ponto preocupante é a escassez de pilotos. Temo que as empresas comecem a reduzir suas exigências para preencher as vagas.

O especialista em segurança de voo e diretor técnico do Sindicato Nacional de Empresas Aeroviárias (Snea) Ronaldo Jenkins, minimiza o impacto do caos aéreo sobre a segurança. Para ele, o problema é a escassez de mão de obra e o custo de sua formação:

- É um problema no mundo todo.

De acordo com a Organização Internacional de Aviação Civil, as companhias áreas do mundo vão precisar de 49 mil pilotos por ano de 2010 a 2030, mas a capacidade de formação é de 47.025. Não à toa, muitas buscam profissionais no Brasil. Neste mês, a Qatar Airways chegou a anunciar processo de seleção para comissários.

O Snea prevê um apagão de mão de obra em dois anos no Brasil, especialmente de pilotos, caso seja mantido o ritmo de crescimento do setor. Segundo a Anac, há cinco mil pilotos e dez mil comissários com licenças válidas para trabalhar nas companhias aéreas. Marco Reina, diretor de Fiscalização do Sindicato Nacional dos Aeronautas, alerta para a possibilidade de novo caos aéreo no fim do ano, porque pilotos e copilotos têm excedido o limite de horas.

- É preocupante a falta de estrutura das empresas, a despeito de um setor que cresce acima de 20%. Não há outra saída, que não seja contratar - disse ele, acrescentando que, das mais de mil denúncias recebidas por excesso de trabalho ou descumprimento de direitos dos trabalhadores, a maioria vem de Gol, Webjet e TAM.

Ele lembra que um piloto - que agora requer nível superior - leva de quatro a cinco anos para se formar. E essa formação é cara: custa de R$ 300 mil a R$ 400 mil. Segundo Reina, os salários dos brasileiros são inferiores aos de outros países, o que levou muitos a deixarem o país após as crises de Varig e Vasp. Enquanto a média de um comandante de uma grande companhia no Brasil gira em torno de R$ 12 mil, nos EUA é de US$ 15 mil.

As quatro maiores empresas do país, Tam, Gol, Webjet e Azul, afirmaram que estão contratando pessoal e que cumprem o limite de horas de voos de seus funcionários.

Fonte: Geralda Doca, Danielle Nogueira e Fabiana Ribeiro (O Globo) - Foto: Fernando Quevedo/Arquivo

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