segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Promoções e frota menor são armas de aéreas

Adequar os negócios à demanda menor que se desenha para 2009 será o grande desafio das companhias aéreas brasileiras neste ano. A realização de promoções, como forma de estimular a demanda, é uma alternativa que certamente será adotada, mas que terá impacto sobre as margens, segundo especialistas. Eles adiantam ainda que a redução do plano de frota também pode ser uma opção.

Os analistas explicam que o mercado de aviação é extremamente sensível à conjuntura econômica global. Isso acontece porque esse mercado está diretamente relacionado às perspectivas de negócios, no segmento corporativo, e ao mercado de turismo, que é altamente influenciado por nível de atividade e renda das famílias. No final do ano a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) reviu suas projeções para o setor em 2009 devido à crise financeira internacional. A nova estimativa da presidente da Anac, Solange Paiva Vieira, é de um crescimento entre 3% e 5% na demanda doméstica, ante previsão inicial de até 8%. A estimativa decreta o fim do ciclo de crescimento acima de dois dígitos registrado pelo setor desde 2004.

As expectativas da TAM Linhas Aéreas, presidida por David Barioni Neto, e da Gol Linhas Aéreas, comandada por Constantino de Oliveira Júnior, são de alta entre 5% e 9% em 2009. As estimativas, no entanto, são consideradas otimistas demais por muitos analistas, que preveem crescimento mais modesto para o próximo ano. Além disso, as companhias terão um novo concorrente em 2009, a Azul, fundada pelo empresário David Neeleman.

Em 2008 o setor registrou aumento de 7,4% no transporte doméstico de passageiros, ante alta de 11,9% de 2007 e crescimento de 12,3% em 2006. Analistas lembram que a desaceleração chega no momento em que as empresas vinham investindo em expansão. A oferta de assentos no País teve crescimento de 12,8% no ano passado. Sobre as vendas no mercado doméstico ao longo das próximas semanas, até o carnaval, Barioni afirma que elas estão em linhas com o crescimento de demanda que a TAM projeta para 2009, entre 5% e 9%. Em relação às vendas a partir de março, mês que marca o fim da temporada de férias a lazer e a retomada do tráfego de viajantes de negócios - cerca de 70% do público da TAM -, o executivo diz que é cedo para uma avaliação.

Para a TAM, as vendas para esse período começam a ocorrer com 40 dias de antecedência, de forma que será possível ter uma ideia o fluxo nas próximas duas semanas. Hoje, a empresa tem 129 aviões e pretende elevar o número para 131, até o fim do ano. Mas novos contratos de compra não devem ser firmados pelos próximos dois anos. Além do ambiente de queda de demanda doméstica e internacional, consequência de queda da renda das pessoas, aumento do desemprego, novo patamar do dólar, entre outros problemas trazidos com a crise, haverá uma intensificação da concorrência entre TAM e Gol.

O consultor da Multiplan Consultoria Aeronáutica, Paulo Bittencourt Sampaio, diz que as empresas aéreas não conseguirão fugir da disputa de tarifas a partir de março, quando acaba a influência das férias de verão. "As duas principais empresas do setor têm frotas grandes e esta é uma saída para encher os aviões", afirma. Ele lembra que é esperada uma redução dos passageiros de negócios, por conta da crise, o que também contribui para a retração da demanda neste ano.

Sampaio ressalta que TAM e Gol, que juntas detém mais de 90% de participação no mercado doméstico, devem comandar esse movimento "A disputa entre as duas empresas vai pautar o ano de 2009", avalia. O consultor prefere, no entanto, não arriscar quanto pode chegar a queda nos preços das passagens. Ele justifica que não se sabe ao certo a extensão e profundidade da crise.

O especialista em aviação da Bain & Company, André Castellini, concorda que as promoções devem ser utilizadas pelas aéreas para estimular a demanda em 2009. Castellini lembra que o plano de frota já anunciados por TAM e Gol indica um aumento de 6% na oferta neste ano. "Se as companhias mantiverem essa programação é natural vermos mais promoções neste ano."

Castellini acrescenta que seria mais racional que as empresas reduzissem a frota, a exemplo do que vem sendo feito no primeiro mundo. O especialista acrescenta ainda que as empresas não têm margens "tão gordas" para gastar com promoções.

"Mas ainda é difícil falar em demanda para o setor, visto que o segmento é muito dependente da economia, onde há ainda tantas incertezas", afirma. Ele lembra, no entanto, que se o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ficar em 2% como o mercado espera, o volume de passageiros não deverá cair neste ano, mas apenas apresentar desaceleração no ritmo de crescimento. "Acho que o que TAM e Gol estão prevendo é factível", declarou.

Descontos

Apesar da alta temporada terminar a partir de março, as aéreas já trabalham para oferecer mais descontos e facilidades aos passageiros, para elevar suas taxas de ocupação neste período conturbado. A TAM anunciou a venda de passes internacionais aos clientes fora do País, para viajarem pelo Brasil e pela América do Sul pagando tarifas diferenciadas. Os programas, denominados Tam Brazil Airpass e do Tam South America Airpass, já podem ser adquiridos, desde que o cliente compre um bilhete com origem de outro país para qualquer cidade brasileira atendida pelas empresas. A partir daí, o passe promocional é emitido à parte e depois vinculado ao bilhete internacional.

Com ações nesse sentido, adotadas por empresas do setor, a equipe de análise da corretora Link Investimentos lembra que as companhias deverão registrar crescimento nos meses de janeiro e fevereiro, por conta do período de alta temporada, mas encontrarão o mercado mais retraído a partir de março. "Devemos ver aumento da concorrência depois do carnaval", diz um analista da corretora, que acrescenta não acreditar em guerra de tarifas, mas em mais promoções.

Para driblar a demanda, que deve ser menor no mercado doméstico este ano, as companhias aéreas brasileiras devem adotar promoções para tentar manter boa ocupação este ano.

Fonte: DCI

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