sexta-feira, 25 de julho de 2008

Aviões russos já estiveram em Cuba para operações de reconhecimento

Os aviões russos já aterraram em Cuba e realizaram o reconhecimento de locais, noticiou nesta quinta-feira (24) o diário Izvestia.

O jornal, que sublinha a confirmação da notícia pelo Ministério da Defesa russo, afirmou que “os aviões portadores de mísseis estratégicos Tu-160 e Tu-95 MS podem a qualquer momento ser transferidos para aeródromos na América Latina e África”.

O Tupolev Tu-160 "Blackjack"

O Tupolev Tu-95/MS "Bear"

“Não se trata apenas de Cuba, mas também da Venezuela e Argélia”, sublinhou o Izvestia.

“Os militares não escondem que a transferência de aviões porta-mísseis para as costas da América é uma reacção à instalação de elementos do sistema de defesa antimíssil norte-americano na Polónia e na República Checa, bem como ao alargamento da NATO para Leste”, declarou uma fonte militar ao diário russo.

O Izvestia, citando fontes militares, sublinhou que as operações de reconhecimento podem não ter sido realizadas por bombardeiros estratégicos, mas por aviões de transporte.

Outra fonte militar, citada pela agência noticiosa russa Interfax, desmentiu todas essas notícias: “Nada disso é verdade. Só no tempo da União Soviética é que aterravam aviões estratégicos em Cuba”.

Os aviões soviéticos de longo alcance Tu-95MC começaram a sobrevoar as costas do Continente Americano no início da década de 1980, como resposta à instalação pelos Estados Unidos de mísseis de cruzeiro no Sul de Inglaterra, Norte de Itália e Alemanha Ocidental.

Em 1992, a Rússia suspendeu esses voos por falta de meios, mas, a 17 de Agosto de 2007, Vladimir Putin, então Presidente da Rússia, anunciou o reinício dos voos da aviação estratégica de longo alcance.

“O voo até à América demora dez horas, mas mesmo com dois reabastecimentos no ar, o aparelho pode estar apenas hora e meia perto da costa dos Estados Unidos”, explicou Piotr Deinekin, antigo comandante da Força Aérea da Rússia.

Mas se na América Latina for instalado um aeródromo para reabastecimento, os voos podem ser permanentes.

Segundo militares citados pelo Izvestia, “em Cuba poderão basear-se os aviões abastecedores Il-78. Externamente, não se distinguem dos aviões de transporte Il-76, por isso os americanos não deverão fazer perguntas. Eles irão reabastecer os Tu-95MC e Tu-160”.

Nos últimos anos, esses tipos de aparelhos foram profundamente modernizados, podendo transportar mísseis de cruzeiro H-555, que podem voar mais do que 3.500 quilómetros. Tendo em conta a mobilidade desses bombardeiros, não necessitam agora de uma base em países distantes, mas apenas de serem reabastecidos.

Além disso, segundo peritos russos, os actuais complexos de defesa anti-aérea são impotentes perante os mísseis H-555.

Washington tem revelado forte nervosismo face a estas notícias na imprensa russa, mas Moscovo responde com ironia.

Anatoli Korniukov, antigo chefe da Força Aérea da Rússia, declarou: “Os nossos bombardeiros têm direito a utilizar aeródromos estrangeiros, nomeadamente em Cuba, se os seus governantes não estiverem contra. Não obstante eles ficarem por baixa da “barriga” dos Estados Unidos, não serão uma ameaça, tal como o sistema de defesa antimíssil dos Estados Unidos na República Checa”.

O general Mikhail Oparin, comandante da Aviação de Longo Alcance russa entre 1997 e 2002, revelou ao diário Nezavissimaia Gazeta que essa proposta foi analisada há dez anos atrás.

"Porém, então, não foi tomada a decisão política respectiva. Se agora for tomada essa decisão, só a podemos saudar. São precisos aeródromos de reabastecimento no Vietname, África Ocidental, resumindo, em todo o mundo", declarou o general.

O Nezavissimaia Gazeta destacou o facto de esta iniciativa russa ser extremamente dispendiosa.

“O transporte para a Ilha da Liberdade de gasolina, nas quantidades necessárias, exige meios significativos. Trata-se de várias caravanas de petroleiros. Além disso, é preciso muito dinheiro para organizar a infra-estrutura, só o arrendamento de uma base militar no estrangeiro exige centenas de milhões de dólares. No orçamento militar não estão previstos valores desses”, escreveu o diário.

“Por isso, a resposta ao sistema de defesa antimíssil americano na Europa deixa de ser assimétrica, como tinha sido prometido, mas extremamente onorosa”, concluiu o Nezavissimaia Gazeta.

Fontes: Agência Lusa / AO online (Portugal) - Fotos: Wikimedia Commons

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