A Embraer encaminhou em três dias vendas que podem engordar sua carteira de pedidos em cerca de US$ 9 bilhões, pondo fim a um jejum de mais de dois anos na aviação comercial e avançando na ambição de ser uma presença maior no mercado global de defesa. Até agora nesta semana, a fabricante brasileira de jatos anunciou acordos com as companhias aéreas Flybe e Republic Airlines, da Inglaterra e dos Estados Unidos, respectivamente, e com Azul e Trip, ambas do Brasil. Além disso, fechou negócios com a empresa de aluguel de aeronaves Air Lease e com a Força Aérea Brasileira (FAB).
Todos os contratos e cartas de intenções ocorreram na feira aérea de Farnborough, na Inglaterra, marcada pela retomada de encomendas por aviões para as principais fabricantes de jatos.
No caso da Embraer, a enxurrada de pedidos indica uma antecipação da retomada da demanda mundial por aeronaves comerciais, que executivos da companhia estimavam que ocorreria com força apenas em 2011.
Depois de encerrar 2007 com 476 pedidos em carteira por aviões comerciais, maior quantidade da série histórica disponível no site da Embraer com início em 2002, a fabricante viu queda expressiva do número em meio à crise da economia global entre 2008 e 2009.
Na prática, isso significa que a empresa não estava sendo capaz de fechar novas vendas em ritmo superior ou pelo menos próximo do patamar de entregas de jatos de encomendas passadas.
No fim de junho, a Embraer tinha carteira de pedidos (backlog) com 232 aviões comerciais, equivalentes a menos de dois anos de entregas. Mas o quadro do backlog deve ser diferente no encerramento do terceiro trimestre.
Nesta quarta-feira, Embraer assinou carta de intenções para aquisição de 24 jatos Embraer 190 pela Republic Airlines, com valor de US$ 960 milhões. A Republic já tem 145 jatos de 70 a 122 passageiros da fabricante brasileira, sendo a maior operadora desses aviões no mundo.
Na véspera, a Embraer anunciou pedido firme da Flybe por 35 unidades do avião modelo 175, de 88 passageiros, por US$ 1,3 bilhão -a maior encomenda desde março de 2008. A empresa aérea britânica, que lançou o modelo Embraer 195, tem opções e direitos de compra para 105 aeronaves, que se confirmadas elevarão o acordo a US$ 5 bilhões.
"A decisão da Flybe de selecionar o Embraer 175 para complementar sua atual frota de 14 Embraer 195 é uma grande notícia", afirmou o presidente-executivo da Embraer, Frederico Curado.
Já a Air Lease, também na terça, assinou carta de intenções para encomenda firme de 10 a 15 unidades do Embraer 190. O contrato definitivo incluirá opções de compra de mais cinco jatos. Considerando o total possível de 20 aeronaves, a transação chegará a 800 milhões de dólares, a preços de tabela.
Na terça-feira, as ações da Embraer dispararam 6,14%, em meio ao otimismo de investidores com as novas encomendas. Nesta quarta, os papéis exibiam alta de 0,29% às 14h37, a R$ 10,23, enquanto o Ibovespa tinha oscilação positiva de 0,76%.
Antes, na segunda-feira, a Embraer tinha divulgado acordos para venda de um total de sete jatos para Azul e Trip, por estimados US$ 290 milhões.
Cargueiro militarNa área de Defesa, a FAB manifestou nesta quarta-feira a intenção de comprar 28 cargueiros KC-390, em desenvolvimento pela Embraer. O tamanho da encomenda é maior que o estimado anteriormente, de cerca de 20 aviões.
A FAB e a Embraer assinaram em abril de 2009 contrato para o desenvolvimento do KC-390, com investimento de US$ 1,3 bilhão da União. Esse valor inclui apenas a produção de dois protótipos da aeronave. Assim, um contrato novo referente ao pedido pelos 28 cargueiros ainda precisará ser firmado.
A Embraer não definiu o preço do KC-390, que será o maior avião já produzido pela companhia, mas o novo contrato pode rondar os US$ 2 bilhões. A fabricante já informou querer um terço do mercado global de cargueiros de 700 unidades em 15 anos, o que significaria receita de US$ 18 bilhões. Com base nesses números, é possível chegar a um valor médio por aeronave próximo a 80 milhões de dólares.
A previsão é que o primeiro voo do cargueiro da Embraer ocorra em 2014, com entrada em serviço no final de 2015.
O cargueiro se insere no esforço da Embraer de diversificar suas receitas, hoje concentradas na aviação comercial, segmento mais suscetível aos altos e baixos da economia. Na área de Defesa, por exemplo, os orçamentos são dos governos e, assim, mais estáveis.
Outra forte aposta da Embraer é na aviação executiva, segmento no qual a empresa caminha para ter uma linha completa de produtos disponíveis.
Fonte: Reuters via O Globo