segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Nem Airbus, nem Boeing: veja empresas que querem de volta os aviões supersônicos

Empresas dos EUA e até a Nasa estão envolvidos em projetos para viabilizar o retorno dos aviões comerciais supersônicos.

A empresa com o projeto de avião comercial supersônico mais adiantado do momento é a
Boom Supersonic, dos Estados Unidos
Em 24 de outubro de 2003, o Concorde, o último avião comercial supersônico do mundo, fez seu voo derradeiro com as cores da companhia aérea British Airways. Cinco meses antes, a Air France, o outro operador do clássico jato com asa delta, já havia retirado de cena os seus aparelhos após 27 anos de serviço.

O Concorde é um raro caso de uma aeronave comercial que foi aposentada e não teve um substituto imediato capaz de repetir sua performance de forma mais eficiente. Era caro demais desenvolver um novo supersônico de passageiros naquele momento, e o retorno financeiro era incerto, afinal, esse tipo de avião tem custos operacionais exorbitantes e causam um preocupante impacto ambiental.

Para voltar ao mercado civil, os aviões supersônicos precisam superar os problemas que levaram à aposentadoria precoce do Concorde.

A maior ‘pedra no sapato’ do jato anglo-francês era seu altíssimo consumo de combustível. Em um voo entre Londres e Nova York, realizado em três horas e a mais de 2.100 km/h, a aeronave consumia quase uma tonelada de querosene por passageiro – o Concorde podia transportar até 120 passageiros e quase 100 toneladas de combustível.

A United anunciou em junho a compra de aviões supersônicos da Boom
Quem pagava essa conta eram os passageiros, que desembolsavam até US$ 12.000 para viajar no jato supersônico.

O outro problema do Concorde é que objetos que se deslocam na velocidade do som (acima de 1.234 km/h) geram o fenômeno do estrondo sônico (sonic boom, em inglês), que são ondas de choque que soam como explosões.

Por conta desse efeito, o jato europeu (e seu concorrente soviético menos conhecido, o Tupolev Tu-144) foi proibido de voar em velocidade supersônica sobre regiões continentais. Essa imposição inviabilizou a aeronave, que só podia alcançar sua velocidade máxima sobre os oceanos.

Passados quase 20 anos da aposentadoria do avião construído em parceria pela britânica BAC (atual BAE Systems) e a francesa Sud Aviation (que unida a outras fabricantes europeias formou o grupo Airbus), novos nomes e grandes corporações da indústria aeroespacial, incluindo a Nasa, estão comprometidos em sanar os problemas do voo supersônico comercial e abrir o caminho para os sucessores do Concorde.

Corrida supersônica


Nem Airbus, nem Boeing. A empresa com o projeto de avião comercial supersônico mais adiantado do momento é a Boom Supersonic, dos Estados Unidos.

Baseada em Denver, no estado do Colorado, a companhia fundada em 2014 trabalha no desenvolvimento do Overture, um trimotor com espaço para 55 passageiros e projetado para voar a 1.800 km/h com autonomia transoceânica de 8.334 km.

O modelo Overture da Boom é projetado para voar a 1.800 quilômetros por hora
Em sua página na internet, a Boom informa que pretende iniciar a construção do Overture no ano que vem, e a apresentação do primeiro modelo está marcada para 2025. Já o início das atividades comerciais, com transporte de passageiros, é previsto para 2029.

Ainda neste ano, a empresa americana deve iniciar os testes de voo com o demonstrador supersônico XB-1. Segundo a fabricante, o protótipo impulsionado por três motores turbofans com pós-combustor (semelhantes aos motores de aviões de caça) tem um terço da escala proposta para a versão final do Overture e servirá para avaliar as novas tecnologias e o design da aeronave, que é projetada para minimizar os efeitos do estrondo sônico a níveis aceitáveis ou imperceptíveis.

Com um projeto promissor, a Boom conseguiu atrair uma série de investidores e angariou mais de US$ 150 milhões para continuar desenvolvendo a aeronave, que inclusive já tem encomendas.

Ainda neste ano, a Boom deve iniciar os testes de voo com o demonstrador supersônico XB-1
Em junho deste ano, a companhia aérea norte-americana United Airlines anunciou um acordo para comprar 15 exemplares do Overture com opção para mais 35 unidades adicionais. É um pedido e tanto se comparado à carreira do Concorde, que teve apenas 14 unidades de série concluídas.

A Boom também tem pré-encomendas de dez unidades do Overture para o grupo Virgin, liderado pelo bilionário britânico Richard Branson (que no passado tentou comprar os Concordes da British Airways), 20 unidades para a Japan Airlines e de outros três potenciais clientes ainda não identificados.

O governo dos Estados Unidos é outro interessado na aeronave, tanto que encomendou com a fabricante um estudo sobre um Air Force One (avião presidencial dos EUA) supersônico.

Além de solucionar a questão do estrondo sônico, a Boom também garante que o Overture será econômico a ponto de permitir aos seus operadores vender bilhetes a preços comparáveis aos de tarifas de classe executiva em aviões convencionais.

A empresa americana também promete que o avião supersônico terá zero emissão de carbono, já que será abastecido com SAF (sigla em inglês para Combustível de Aviação Sustentável).

A startup Spike projeta o S-512, jato executivo supersônico
Outro nome dos Estados Unidos que propõe um avião civil supersônico é a startup Spike Aerospace, de Massachusetts, que projeta o jato executivo S-512 para 18 passageiros e com velocidade máxima de 1.700 km/h. No entanto, diferentemente da Boom, a Spike ainda não apresentou avanços significativos ou datas de lançamento de sua aeronave.

A Aerion Corporation, de Nevada, também propunha um jato de negócios supersônico, mas a empresa fechou as portas em março deste ano após ficar sem financiamento.

Há também estudos sobre aviões comerciais supersônicos na Rússia e Japão, embora poucas informações sobre essas iniciativas tenham sido divulgadas.

A Nasa trabalha em conjunto com a Lockheed Martin no projeto X-59 Quiet SuperSonic Technology
É uma postura bem diferente da Nasa, a agência espacial dos EUA, que trabalha em conjunto com a Lockheed Martin no projeto X-59 Quiet SuperSonic Technology (Tecnologia Supersônica Silenciosa).

“Usando nossa aeronave de pesquisa X-59, forneceremos aos formuladores de regras os dados necessários para suspender as proibições atuais de viagens aéreas mais rápidas do que o som em terra e ajudar a habilitar uma nova geração de aeronaves supersônicas comerciais”, diz a Nasa, referindo-se a proibição dos voos supersônicos na região continental dos Estados Unidos.

O X-59 está sendo construído em Palmdale, na Califórnia, na sede da Skunk Works, a divisão de projetos avançados da Lockheed Martin e onde foram desenvolvidas algumas das aeronaves mais espetaculares do mundo, entre eles o SR-71 Blackbird, o avião mais rápido de todos os tempos (alcançava 3.529 km/h).

O modelo X-59 da Nasa está em construção na sede da Lockheed Martin
O primeiro voo do demonstrador da Nasa está programado para 2022.

Via Thiago Vinholes (CNN Brasil Business) - Imagens: Divulgação

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