quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Livro publica íntegra das conversas dos pilotos do AF 447

Um livro com o registro completo das conversas entre os pilotos do voo 447 da Air France será publicado na quinta-feira, na França. Segundo o jornal francês Le Monde, o livro de Jean-Pierre Otelli será o quinto de uma série chamada "Erros de pilotagem", da editora Altipresse. A publicação contém a transcrição da gravação feita pela caixa-preta de voz (cockpit voice recorder, CVR), que começa às 0h26 e termina às 2h14 - captando o momento em que as sondas Pitot, que mediam a velocidade do avião, congelaram, às 2h10.

Os registros confirmam que os dois pilotos do AF 447 não entendiam o que estava acontecendo. A análise deles sobre o problema da aeronave não estava correta. O comandante não estava na cabine, pois havia saído para descansar. Ao voltar rapidamente, ele não entendeu a situação. "Nós perdemos o controle do avião. (...) Não entendemos nada. Já tentamos de tudo", disse um copiloto. "O que precisamos fazer?", perguntou, em seguida, um copiloto. "Então, eu não sei! Ele vai descer", respondeu o comandante.

As últimas palavras antes do impacto no Oceano Atlântico mostravam a confusão que imperava, inclusive com palavrões. "Nós vamos bater... não é verdade!", disse um copiloto. "Mas o que está acontecendo?", perguntou um copiloto. O livro de Jean-Pierre Otelli também indica que a tripulação não reagiu alarme de perda de sustentação, que entre as 2h10 e 2h14 tocou 75 vezes como uma gravação de voz dizendo "Stall". O relatório do Escritório de Investigação Análises para a Segurança da Aviação Civil (BEA), de 29 de julho, já havia destacado a desconsideração dos alarmes e salientou que os pilotos tiveram reações inadequadas.

Se o relatório confirmou as dificuldades técnicas, também constatou o fracasso dos pilotos. A essa altura, as responsabilidades não são estabelecidas, disse o BEA, afirmando que o relatório definitivo será publicado no primeiro semestre de 2012.

"Encenação sensacionalista"

A Air France criticou a publicação que, segundo a companhia, suscita "emoção" e irritação diante do vazamento de dados repetidos. O livro "não acrescenta nada de novo sobre o acidente do AF 447 Rio-Paris. Trata-se de uma encenação com objetivo sensacionalista sobre uma fonte de informações não verificadas e não confiáveis", afirmou a companhia aérea. "Essa publicação, que constitui uma violação do sigilo das investigações, prejudica gravemente a memória da tripulação e dos passageiros vítimas do acidente", disse a Air France.

Para a empresa, "esses elementos vão bem além do que foi comunicado pelo BEA em julho de 2011". "A companhia se pergunta sobre as razões que levaram à publicação e pede às autoridades responsáveis pela investigação para esclarecer as origens desse vazamento", afirmou a Air France.

Por outro lado, o autor, Jean-Pierre Otelli, explica: "eu escrevo livros sobre a segurança da aviação há muito tempo, eu tento analisar mais de perto o que aconteceu e eu conto". Contatado, o Sindicato dos Pilotos de Avião francês (SNPL) e o BEA não quiseram se manifestar imediatamente, já que queriam analisar as informações publicadas no livro. A Airbus, por sua vez, não fez nenhum comentário.

Fonte: Terra - Imagem: Reprodução

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