A Embraer deve reenviar a sua proposta de vender 20 aviões Super Tucanos para a Força Aérea americana, uma vez que for reaberta a concorrência suspensa no fim de fevereiro pelas autoridades americanas.
O presidente da Embraer, Frederico Curado, disse a jornalistas em Washington que ficou "desapontado" com a reversão do processo – a empresa foi anunciada como vencedora em janeiro–, mas disse confiar que a companhia tenha "não o melhor, mas o único" produto adequado às necessidades da licitação.
"Ficamos muito desapontados (com o cancelamento da licitação), e esperamos, quando o processo for reaberto, que as mesmas razões que nos levaram a vencer pela primeira vez nos levem a vencer pela segunda", disse Curado.
Não há previsão para a retomada da concorrência – possivelmente em questão de semanas– nem se sabe se haverá mudança nos critérios de escolha.
A licitação no valor de US$ 355 milhões foi aberta para adquirir aeronaves de monitoramento para a Guerra no Afeganistão. A Embraer afirma que os versáteis Super Tucanos, concebidos para combater o tráfico de drogas na Amazônia, têm o perfil adequado para combater a contrainsurgência afegã.
Entretanto, a concorrência foi cancelada depois que a empresa perdedora na disputa, a Hawker Beechcraft, questionou o processo na Justiça.
Embora as autoridades tenham alegado um suposto problema na sua própria documentação, muitos observadores levantaram fatores políticos – sobretudo em relação à criação de empregos – que, crêem, podem ter influenciado na disputa.
O presidente da Embraer evitou endossar essas interpretações. "Nós temos em princípio confiar no que nos dizem", disse Curado. "Temos de crer que vamos ser selecionados novamente, o que provaria que não houve influência política na decisão."
Guerra do emprego
Um dos pontos levantados pela Hawker-Beechcraft em defesa de seu AT-6 foi o de que o avião é fabricado nos Estados Unidos.
A companhia alegou que a escolha de uma empresa estrangeira na disputa colocaria em risco 800 postos de trabalho em Kansas e Arkansas, e mais 600 em outros Estados.
A Embraer e sua parcera americana, Sierra Nevada, refutam o argumento. As empresas ressaltam que a construção das 20 aeronaves implicaria um investimento industrial em Jacksonville, na Flórida (a Embraer já tem uma fábrica em Melbourne, no mesmo Estado), a contratação de 50 trabalhadores qualificados e, por causa do alto conteúdo local do avião, a manutenção de outros 1,2 mil empregos no país.
"Nós temos um grande compromisso com o conteúdo local", disse Curado, acrescentando que o contrato também inclui a prestação de serviços e manutenção, que também exigiriam empregados locais. "O argumento de que esta é a razão para tirar o contrato da Embraer/Sierra Nevada é impreciso."
A Embraer, líder no mercado de aeronaves executivas, vê a licitação como um "nicho de mercado". Curado ressaltou que o mais importante, neste processo, é a "parceria estratégica" que a empresa travaria com o governo americano.
O Super Tucano é uma geração além do Tucano, uma aeronave usada por cerca de 15 Forças Armadas de diversos países. No caso americano, a demanda após a entrega dos 20 primeiros poderia até dobrar, segundo Curado.
O executivo, que fez parte da comitiva que acompanhou a presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos, disse que o governo brasileiro mencionou o tema para o governo americano durante a visita, "com delicadeza, para não ferir questões de soberania nacional".
Na sua declaração final do encontro, os governos de ambos os países anunciaram a criação de um canal de diálogo bilateral no setor de defesa. Para o presidente da Embraer, a prestação de serviços para o Departamento de Estado americano "se encaxaria perfeitamente nesse contexto".
Fonte: Pablo Uchoa (BBC Brasil) - Foto: AFP
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