segunda-feira, 15 de março de 2010

Justiça à atuação de pracinhas

Reconhecimento. Câmara dos Deputados irá homenagear ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial

Parte da população desconhece esse capítulo da história; evento ocorre hoje

Memória. Na capital, a Associação dos Veteranos de Guerra do Brasil conta com um museu da FEB; ex-combatentes esperam por reconhecimento

Brasília. Sessenta e cinco anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no conflito ainda é um capítulo ignorado por boa parte da população do país. Ao todo, 25.334 homens da FEB se arriscaram na Europa, principalmente em terras italianas, para, ao lado dos exércitos dos Aliados, derrotarem as forças do Eixo, composto pela Alemanha (de Adolf Hitler), Itália e Japão.

A campanha brasileira envolveu Exército, Aeronáutica e Marinha com as primeiras tropas sendo transportadas para o continente europeu em 2 de julho de 1944. Os soldados brasileiros permaneceram 239 dias em combate. Essa história da FEB ainda reside na memória dos ex-combatentes, a maioria acima dos 90 anos, mas agora deve ser recontada por um grupo interessado em fazer justiça com os militares envolvidos naquela campanha.

"Essa história precisa ser recontada, e da forma correta. Quem sabe desses feitos hoje? Esse material não faz parte do conteúdo da maioria das escolas públicas", lamenta o deputado Ciro Pedrosa (PV-MG), autor de um requerimento para homenagear e relembrar na Câmara a história dos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra.

Conforme o deputado, a sessão de homenagem aos ex-combatentes na Câmara dos Deputados irá ocorrer hoje e deve reunir mais de 50 ex-integrantes da FEB. "Aproveitamos esta data, dos 65 anos do fim da guerra, para trazer os pracinhas ainda vivos e também homenagear uma maioria já morta", conta Pedrosa. Os militares de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro serão transportados para a solenidade por um aviação da Força Aérea Brasileira (FAB).

A ideia da homenagem partiu do parlamentar, após um grupo, do qual faz parte João Barone, integrante do conjunto "Paralamas do Sucesso", pedir ajuda para recontar a história dos pracinhas. "Há muita injustiça e muitos casos contados de forma equivocada. A participação brasileira foi muito importante e decisiva para o fim da guerra. A campanha brasileira ainda é lembrada na Itália", comenta Pedrosa.

A homenagem feita na Itália ocorre nos meses de abril, durante as comemorações anuais da Tomada de Montese, uma das batalhas mais sangrentas da guerra. A Tomada de Montese está entre as principais conquistas da FEB e é atribuída aos mineiros, que estavam, naquela estratégia específica, na frente de ataque.

Dados. Estima-se que estejam vivos atualmente cerca de 2.500 ex-combatentes brasileiros. Desses, cerca de 220 são mineiros. Mas, como a média de idade é de 88 anos, não há um acompanhamento exato dos registros mensais de óbitos.

Símbolo. Um detalhe curioso é sobre um dos símbolos e lemas da FEB naquela guerra: "a cobra está fumando."

Segundo historiadores, a origem do símbolo foi em razão da demora do Brasil para tomar partido no conflito e se aliar contra o Eixo. A polêmica rendeu a expressão de que "era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra".

Resultado

Mais de 400 morreram na guerra

Os livros de história não contam, mas a Força Expedicionária Brasileira (FEB) trouxe o melhor resultado proporcional de todas as tropas que foram para a Segunda Guerra Mundial. Os brasileiros capturaram 20.573 alemães e os colocaram em um único campo de confinamento. Por outro lado, 35 integrantes da FEB foram aprisionados pelo inimigo. Ao fim da guerra, todos foram libertados. Retornaram ao Brasil 2.722 feridos, e 457 morreram.

Mas, até hoje, nossos ex-combatentes estão à espera de reconhecimento. “Nós não nos julgamos heróis. Fomos privilegiados por ter tido oportunidade de servir à pátria numa época tão difícil para os brasileiros”, contou, com elevado patriotismo, o tenente Geraldo Campos Taitson.

Aos 88 anos, Taitson lembrou que, até ser convocado, em junho de 1944, ele não sabia muito bem de que lado poderia lutar. “O presidente Getúlio Vargas era um ditador, amigo de Mussolini e admirador do Hitler. Mesmo sabendo que eram alemães que estavam afundando navios na costa brasileira, alguns governantes queriam nos convencer de que poderiam ser armadilhas dos norte-americanos”. De acordo com Taitson, foi a pressão popular que obrigou o governo a tomar um posicionamento.

Várias histórias do conflito podem ser ouvidas nas Associações dos Veteranos de Guerra do Brasil, que funcionam em dezenas de cidades e têm matriz no Rio de Janeiro.

Em BH, alguns ex-combatentes passam o dia na sede, localizada na região Centro-Sul. Lá, trabalha o capitão Divaldo Medrado, 88, que foi comandante de grupo de combate na Itália.

Ao receber os visitantes, Medrado faz questão de contar suas experiências pessoais e mostrar objetos. Do conflito, ele traz cicatrizes dos 13 tiros que levou na Tomada de Monte Castelo, em 12 de dezembro de 1944.

Fonte: Murilo Rocha / Tereza Rodrigues (O Tempo) - Foto: Cristiano Trad

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