domingo, 19 de fevereiro de 2023

Por que os EUA escolheram um avião agrícola para caçar terroristas?

(Foto: Divulgação/Air Tractor)
A vitória de um avião agrícola sobre aeronaves militares na disputa de um contrato para as forças especiais dos EUA, no ano passado, chamou a atenção e levantou questionamentos. Mas há uma explicação para isso.

Derivado direto do cinquentão AT-802, da Air Tractor, o AT-802U Sky Warden é um avião de vigilância, reconhecimento e ataque ao solo, desenvolvido em conjunto com a L3 Harris, uma das grandes empresas do setor de comunicação, radares e equipamentos de vigilância dos EUA.

Ele ganhou a disputa contra o Leidos Bronco II, do polonês PZL MC-145B Wily Coyote, do Cessna Caravan MC-208 Guardian e do AT-6 Wolverine da Textron. Apesar de participar de competições anteriores (todas canceladas) e muitas pessoas pensarem que estava nesta licitação, o brasileiro Embraer Super Tucano não estava na disputa.

A concorrência foi aberta para substituir o Pilatus PC-12, modificado para missões especiais, denominado de U-28 Draco na Força Aérea dos EUA (USAF), e ampliar a capacidade de apoio as tropas com armamento suficiente para matar o inimigo, principalmente em situação de ausência de força aérea inimiga, que é o caso no combate aos terroristas. O contrato cobre 75 aeronaves e pode chegar a $3 bilhões de dólares.

Um Air Tractor em sua função normal
De todas as aeronaves, a única que não é adaptada é o Bronco II que ainda está em desenvolvimento, mas o maior destaque estava por conta do AT-6 Wolverine, por ser baseado no T-6C Texan II já utilizado para treinamento de cadetes na USAF, e que por sua vez é feito a partir do suíço Pilatus PC-9.

O Wolverine sempre foi o maior concorrente do Super Tucano, e ambas as aeronaves dominam o mercado de aviões leve de ataque, e tem uma performance bastante comparável, apesar do brasileiro se sobressair em alguns pontos como velocidade.

Mas afinal, por que então um avião agrícola, que não é o melhor da sua categoria, e não é um projeto novo?


Apesar dos detalhes não serem divulgados, a licitação nos EUA, assim como no Brasil, é pelo lowest bidder, ou seja, a oferta mais barata desde que atenda os requisitos do edital. Isto, inclusive, se tornou ao longo dos anos um motivo de piada, já que muitos produtos que ganham licitação são colocados como “nível militar na embalagem”, como atestado de qualidade, mas não necessariamente é o melhor, mas sim o mais barato qualificável.

Voltando aos aviões, por já estar em produção a longo prazo, a Air Tractor conseguiu diluir o seu custo e pôde oferecer o equipamento a um preço baixo. Outro grande ponto é a capacidade da aeronave, que carrega o dobro do A-29 e do AT-6W, muito por conta da sua característica original de avião agrícola que decola com toneladas de defensivo nas asas.

Ele consegue levar até 4 toneladas de carga útil, sendo 3 destas na asa, que por si só é o dobro da capacidade do Super Tucano. Além disso o avião já foi testado em dezenas de pistas de terra, em más condições e cenários adversos, exatamente na sua atuação agrícola mas também como bombeiro aéreo.

(Imagem: Divulgação/Air Tractor)
E com a vitória do AT-802U, os Super Tucanos e Wolverines que estavam em avaliação demonstrativa (fora da concorrência) na USAF, irão dar saída em breve, marcando o fim da única aeronave brasileira a operar na maior força aérea do mundo.

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