sexta-feira, 13 de julho de 2012

Bombeiros içam cabine de avião que caiu no mar de Angra dos Reis

Corpo do copiloto, localizado pela manhã, também foi retirado


Equipes que trabalham no resgate do bimotor que caiu nesta quinta-feira no mar perto de Ilha de Cataguazes, na Baía da Ilha Grande, na Costa Verde, conseguiram içar a cabine da aeronave na tarde desta sexta-feira. O trabalho reuniu bombeiros, agentes da Defesa Civil e da Capitania dos Portos. O corpo do copiloto, que estava dentro da cabine, também foi retirado e levado para o Instituto Médico Legal (IML) da Capitania dos Portos, em Angra. Ele foi identificado como Hernani Gomes. Os bombeiros disseram que o corpo da vítima estava preso às ferragens do avião, a cinco metros de profundidade. Como o bimotor estava submerso, chegava a pesar cerca de três toneladas. O mau tempo também dificultou o trabalho. Com isso, as buscas foram encerradas.

O corpo do copiloto foi localizado pela Defesa Civil e Corpo de Bombeiros por volta das 9h desta sexta-feira. O bimotor com três pessoas a bordo caiu por volta das 17h30m desta quinta-feira a 500 metros do continente. As outras vítimas foram identificadas como Antonio Fernandes Neto, o piloto, e o empresário mineiro Clemente de Farias, de 62 anos. 

A aeronave — um bimotor Embraer modelo EMB-121 Xingu, prefixo PT-MAB — pertencia ao empresário e partiu do Aeroporto Carlos Drummond de Andrade, conhecido como Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte (MG), por volta das 16h. O destino do voo era a cidade de Angra dos Reis. Ainda não há informações sobre o motivo da queda. Chovia muito no momento do acidente. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) enviou técnicos para investigar as causas do acidente. 

Na noite desta quinta, foram resgatados os corpos do empresário e do piloto da aeronave, Antonio Fernandes Neto. Logo após os dois corpos serem encontrados, havia uma dúvida se um dos mortos era o empresário, que tem semelhança física com o copiloto. No fim da noite, a mulher do empresário, Vitória, fez o reconhecimento do corpo, no Instituto Médico Legal de Angra. Ela estava na casa de veraneio da família, no condomínio Guilhermina Guinle, no Porto Frade, em Angra. 

Por causa do mau tempo e da escuridão, as buscas tiveram de ser interrompidas por volta das 20h desta quinta-feira e reiniciadas na manhã desta sexta. A cabine do avião ainda está submersa. Os corpos foram levados para o Instituto Médico-Legal de Bracuhy. 

O ex-secretário de Meio Ambiente de Angra Marco Aurélio Vargas disse que ouviu o barulho do avião bimotor poucos minutos antes da queda na Baía da Ilha Grande. Ele estava na casa do ex-prefeito da cidade, Fernando Jordão, num condomínio no bairro Mombaça, que fica próximo a Ilha de Cataguases.

- Não foi possível ver o avião porque chovia muito forte e estava muito escuro. Nós estranhamos porque ouvimos o barulho muito forte de um avião, indicando que ele estava voando muito baixo. Logo depois, não ouvimos mais nada. Quinze minutos depois recebí um telefonema de um funcionário do aeroporto pedindo ajuda para procurar o bimotor. 

Segundo Vargas, o avião estava na sua rota normal e a chuva intensa e rápida, com muitos raios, pode ter provocado a queda da aeronave. Depois de acionar equipes de resgate, Marco Aurélio foi para o aeroporto, onde encontrou com a viúva Vitória: 

- Ela estava desorientada. Só conseguiu falar por telefone com os filhos, em Belo Horizonte. Só se acalmou quando chegaram duas amigas. 

O corpo de Clemente foi liberado do IML (Instituto Médico Legal) de Angra e foi levado para Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), onde será cremado. Casado e pai de três filhos, Clemente Faria Neto era um dos empresários mais bem sucedidos do estado de Minas Gerais. Ele dividia com o irmão, Gilberto de Andrade Faria Junior, a direção de um grupo empresarial que reunia cerca de 20 empresas, entre elas a Minasmáquinas, revendedora de caminhões, máquinas pesadas e automóveis de luxo da marca Mercedes-Benz, e das rádios Alvorada, em Belo Horizonte, Sulamérica Paradiso, do Rio, e Jovem Pan, de Santos. 

O empresário nasceu em uma tradicional e rica família mineira. Era neto do banqueiro Clemente Faria, nascido em Pedra Azul, e fundador do Banco da Lavoura, que chegou a ser o maior da América Latina. O banco foi dividido entre os dois filhos do patriarca: Aloísio, que criou o Banco Real, mais tarde vendido para o holandês ABN Amro (hoje Santander), e chegou a figurar no ranking da revista norte-americana Forbes das maiores fortunas do mundo; e Gilberto Faria, pai de Clemente, que ficou com o Banco Bandeirantes. 

O corpo do piloto Antonio Fernades Neto, de 63 anos, foi levado para Belo Horizonte na manhã desta sexta-feira por parentes e amigos. Ele seguiu de avião e será cremado no sábado. 

Especialista diz que área é propícia a turbulências

O comandante Moisés Menna, que tem dez mil horas de voo, disse que a região onde aconteceu o acidente é sujeita a turbulências provocadas por ventos que vêm de várias direções. Ele acredita que o piloto foi sido surpreendido por uma rajada muito forte de vento sudoeste que não foi prevista pelo radar meteorológico do bimotor. Segundo Menna, que também é instrutor de voo, a região é muito perigosa para pequenas aeronaves: 

— Passar por ali quando as condições do tempo não são boas é um suicídio. É uma área próxima a serras com muita turbulência por causa dos ventos e até nuvens de gelo. O vento ali sopra para várias direções, o que chamamos de turbulência orográfica — disse o comandante. 

Em 1992, o helicóptero que transportava o deputado federal Ulysses Guimarães e o senador Severo Gomes caiu na mesma baía, e os dois morreram. Já em 1998, o helicóptero de Eduardo Tapajós, dono do Hotel Glória, desgovernou-se e caiu no mar, na altura de Mangaratiba, matando o empresário. 


Fonte: Paulo Roberto Araújo e Dicler de Mello e Souza (O Globo) - Foto: Marcos Tristão (O Globo)

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