quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Classe média está cada vez mais distante dos aviões

Mulher em frente a painel no aeroporto de Viracopos, em Campinas (Foto: Rahel Patrasso/Reuters)
Nos céus do Brasil do caos econômico e social, não foi o piloto que sumiu, e sim os direitos e a renda do consumidor que viraram fumaça. A classe média está perdendo a opção de transporte aéreo. Quem pretende viajar de avião no final do ano ou nas férias de verão deve pesquisar muito e comprar sua passagem com a maior antecedência possível, porque os preços subiram quase 60% em um ano.

Quem tiver condições físicas de suportar várias horas de estrada talvez possa encarar uma longa viagem de ônibus. Mas nem sempre esta é uma opção, em função da saúde e dos prazos da viagem.

É uma situação que só irá melhorar com estabilidade política e uma gestão pública ao menos razoável, que façam as cotações do dólar cair. Também com mais concorrência, porque três empresas dominam o mercado –Azul, Gol e Latam. Mais recentemente, a Itapemirim, do transporte rodoviário de passageiros, passou a disputar este mercado.

Longos trajetos em outros países costumam ser servidos por bons trens de passageiros, mas isso não ocorre no Brasil. Seria uma excelente e confortável opção, mas não é. Também utilizamos muito mal o modal hidroviário.

Além disso, é uma ironia que cidadãos e cidadãs, que subsidiaram as companhias aéreas nestes meses de pandemia, agora tenham grandes dificuldades para receber o reembolso do que pagaram por voos cancelados.

Subsidiaram porque o apoio às companhias aéreas foi feito com o bolso dos passageiros. Medida provisória, que depois virou lei, deu até 12 meses para as empresas deste segmento reembolsarem clientes.


Os Procons receberam, de janeiro a setembro deste ano, quase 65 mil reclamações relacionadas ao transporte aéreo, 36% a mais do que em igual período de 2020. Os consumidores reclamaram, dentre outras coisas, de dificuldades na remarcação de passagens. O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça, notificou Azul, Latam, Gol e TAP, solicitando esclarecimentos sobre esta situação.

O querosene de aviação, principal insumo deste transporte, ficou quase 92% mais caro no segundo semestre de 2021, em comparação a este período do ano passado. E que parte expressiva das despesas das empresas que atuam neste ramo é paga em dólar.

Nos Estados Unidos, as companhias aéreas fazem promoções mais perto das viagens, com saldos de passagens, mas no Brasil as companhias preferem manter alguns assentos vazios. Atender bem é o mínimo que se deveria fazer por um consumidor empobrecido, que tenta voltar à vida de antes da pandemia.

Via Folha de S. Paulo

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