Nos últimos dias, tem gerado polêmica um vídeo liberado pelo Pentágono de supostos objetos voadores não identificados (OVNIs). O vídeo foi gravado em 2019 a partir do destroyer USS Russell da Marinha Americana, e mostra objetos triangulares piscando acima do navio. No momento da gravação, o USS Russel participava de exercícios militares no Oceano Pacífico, próximo à costa oeste americana.
O Pentágono confirmou a autenticidade do vídeo e disse não haver identificado qual objeto aparecia nele. Isso foi suficiente para muita gente achar que, finalmente, havíamos registrado pela primeira vez uma nave alienígena visitando nosso planeta. Mas conforme veremos aqui, as pirâmides voadoras daquele vídeo são na verdade, artefatos ópticos, tão fáceis de reproduzir que você mesmo pode criar o seu próprio vídeo autêntico de um OVNI.
Para isso, você vai precisar de:
- Uma câmera que tenha uma lente com boa abertura, ou um celular com uma dessas lentes que acoplam no aparelho,
- Fita isolante preta,
- Uma tesoura, e
- Um avião.
Calma. O avião não precisa ser seu e você nem precisa sequestrá-lo. Só precisamos que ele passe próximo a você durante a noite.
Corte pedaços de fita isolante e cole na frente da lente, deixando apenas uma abertura triangular. Com isso, está pronto seu dispositivo de gravação de OVNIs.
Se sua câmera tiver lente com controle de abertura, configure ela para a maior abertura. Dessa forma, se você apontar a câmera para um ponto de luz e desfocar a lente, verá uma “mágica” acontecer: os pontos de luz tornam-se triângulos, iguais as pirâmides voadoras filmadas na costa americana.
Agora, é só esperar passar o avião, com suas luzes piscando e filmar ele com a lente fora de foco. Não é difícil perceber que as luzes do avião piscam de forma idêntica ao vídeo dos OVNIs. Isso porque seguem um padrão internacional da aviação.
Frame do vídeo de um avião feito com o “dispositivo de gravação de OVNIs” (à esquerda) e frame do vídeo do suposto OVNI registrado na costa oeste americana (à direita) |
Obviamente que haverá diferenças nos vídeos porque o vídeo americano foi feito provavelmente com uma câmera de visão noturna, muito mais sensível e cara também. Esse tipo de equipamento utiliza um tubo intensificador de imagem, que consiste basicamente de um dispositivo que capta os fótons e os converte em elétrons, que são amplificados e bombardeados em uma tela de fósforo, que transforma de volta esses elétrons em fótons, mas em uma intensidade maior que captada. Este tubo pode ser acoplado em um binóculo ou monóculo para observação direta, ou em uma câmera, entre a lente e o sensor. A imagem de saída desse tubo é monocromática e esverdeada, da mesma forma como mostrada no vídeo liberado pelo Pentágono.
Funcionamento de um tubo intensificador de imagem (Crédito: HowStuffWorks) |
Outra diferença é que o provável avião no vídeo do USS Russel parece bem mais alto, mas ainda assim aparece bem luminoso no vídeo graças ao tubo intensificador que torna o equipamento bem mais sensível. Muitas vezes, a sensibilidade é tão alta que chega a ofuscar a imagem facilmente. Isso leva, em alguns casos, os operadores dessas câmeras a cobrir parcialmente a entrada de luz com fita isolante, da mesma forma como orientamos aqui nesse texto, e isso pode ser a causa do artefato triangular observado no vídeo.
O fenômeno óptico que produz esse artefato é conhecido pelos fotógrafos como bokeh, e é utilizado para destacar objetos ou áreas de interesse, desfocando outras partes da imagem. Quanto maior a abertura da lente, maior o bokeh, e cada ponto de luz fora de foco, se torna um disco, ou, assume a forma da abertura do anteparo que bloqueia a passagem da luz através da lente.
Exemplo da aplicação do bokeh em uma árvore de Natal (Crédito: Wikimedia/Rushilf) |
Esse anteparo, geralmente é o diafragma da lente, cuja forma depende basicamente da quantidade de lâminas que ele tem. A maioria das lentes tem um diafragma de 6 lâminas, que gera um bokeh hexagonal. Outras têm 15 lâminas com um bokeh praticamente circular. Mas também existem lentes outras quantidades de lâminas menos comuns, inclusive algumas com diafragma de 3 lâminas, gerando um padrão triangular de bokeh.
Lente Pentacon 2.8/135 com diafragma de 15 lâminas (Crédito: Wikimedia/Edal Anton Lefterov) |
Independente de como ele foi gerado, o efeito do bokeh é identificado facilmente por qualquer fotógrafo mais experiente que analise o vídeo dos OVNIs. Tanto que isso foi percebido de forma independente por várias pessoas ao redor do mundo, como o norte-americano Mick West, e o brasileiro Alexsandro Mota. Uma das evidências é que duas estrelas aparecem na imagem com o formato triangular e na mesma orientação que os triângulos do possível avião.
Suposto OVNI e estrelas no vídeo liberado pelo governo americano (Crédito: USNavy) |
Então podemos afirmar que o objeto filmado era, sem dúvida, um avião? Não, mas considerando que a região onde o registro foi feito tem um tráfego aéreo bastante intenso, podemos afirmar que a probabilidade do USS Russell ter filmado apenas um avião fora de foco é muito grande.
Se não temos certeza que é um avião, há uma chance de ser uma nave alienígena? Não. Talvez possa ser um helicóptero ou um drone. Mas a chance de ser uma espaçonave extraterrestre é tão pequena, que para considerarmos ela, deveríamos cogitar também a possibilidade de ser um carro voador do futuro, ou um anjo de luz. Definitivamente, não foi dessa vez.
Via Olhar Digital
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