Executivos que fazem deslocamentos longos estão mais sujeitos aos desconfortos da troca de fuso horário
A rotina de um executivo muitas vezes inclui na agenda de trabalho viagens longas e constantes ao exterior, que fazem com que esse profissional passe a conviver com os desagradáveis efeitos causados pelas horas excessivas dentro de um avião, como o “jet lag” — (descompensação horária) que causam sintomas fisiologicos decorrentes da mudança, em um curto espaço de tempo, de um fuso horário para outro — ou problemas musculares.
Quem sabe bem como isso funciona é o português Cândido Mesquita, diretor e fundador da House Shine, empresa especializada na prestação de serviços de limpeza. Há seis meses, divide a sua rotina entre a empresa na cidade do Porto, em Portugal, e a subsidiária na capital paulista.
Para dar conta dos compromissos profissionais, passa 15 dias em cada cidade. “Eu sofro bastante com essa mudança de fuso horário. São quatro horas de diferença”, conta o executivo.
Para minimizar o jet lag — que mais frequentemente causa sonolência, dificuldade de concentração e dores de cabeça —, Mesquita já desenvolveu um passo a passo do que deve fazer para o sofrimento ser menor. Mesmo que tenha que trabalhar nas primeiras horas do voo, o executivo tenta relaxar um pouco vendo um filme e sempre toma um comprido para dormir por ao menos quatro horas, assim garante que chega ao destino mais descansado.
Outro hábito adotado para enfrentar as dez horas de voo entre São Paulo e Porto e a diferença de quatro horas no fuso é se mexer um pouco. “Em um dos voos tive uma contratura muscular. Agora tento me movimentar na cabine ao menos duas vezes durante a viagem”, diz, que também pensa em adotar o uso de meias que estimulam a circulação.
Mesmo com toda essa experiência, diz que ainda é normal ficar mais desperto quando chega a São Paulo e mais sonolento quando chega ao Porto.
Esses efeitos nos viajantes são tão comuns que até mesmo as companhias aéreas, como a alemã Lufthansa, se esforçam em dar recomendações aos passageiros para reduzir o desconforto.
Segundo a pneumologista e coordenadora geral do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo, Lia Rita Azeredo Bittencourt, os efeitos do jetlag acontecem porque a pessoa faz um deslocamento rápido sem que suas condições fisiológicas se adaptem a essa mudança.
Essa dificuldade costuma ser mais intensa quando o viajante chega a um lugar em que a diferença do fuso é de ao menos quatro horas e quando se faz uma viagem do oeste para o leste. “O corpo humano tem uma dificuldade maior quando precisa antecipar o horário do seu sono.”
O que pode agravar ainda mais esse processo são voos muito longos, como aqueles para a Ásia, assentos pouco espaçosos e consumo de café e bebidas alcoólicas.
No caso de executivos que vão ficar mais de cinco dias em um fuso horário diferente, a médica recomenda a ingestão de um comprimido de melatonina (hormônio que ajuda a regular o ciclo do sono) na hora de dormir no voo, lembrando que a medicação deve ser ingerida em um horário próximo ao que a pessoa estaria indo dormir no seu local de destino.
Outro risco presente na vida de quem faz viagens longas é o de trombose, que é a formação de um coágulo em uma das veias da perna. “Há o risco desse trombo se deslocar até o pulmão, causando uma embolia”, afirma Lia.
Idosos, hipertensos, diabéticos e pessoas com problemas cardíacos estão mais sujeitas a essa formação de trombose. Nesse caso, o recomendado é evitar ficar longas horas em uma só posição e se movimentar na cabine durante o voo.
Adaptação natural
O cardiologista Marcelo Sartori, da rede de hospitais São Camilo de São Paulo, lembra que mesmo com diversos cuidados, ainda assim algumas pessoas vão precisar dar tempo ao tempo, ou seja, só após alguns dias estarão “100%” novamente.
O médico conta que nas pessoas mais sensíveis os efeitos do jetlag são tantos, incluindo desconforto gastrointestinal e ansiedade, que chegam a procurar ajuda médica imaginando que possam estar com algum problema de saúde.
Por entender que cada pessoa tem seu ritmo, o profissional evita recomendar o uso de medicamentos. “Mesmo em uma viagem longa, a pessoas não terá problemas se viajar do norte ao sul ou vice-versa, como um deslocamento até Nova York”, conta.
Outra recomendação do médico é que a pessoa ingira bastante líquido, excluindo café e bebidas alcoólicas, uma vez que a hidratação pode suavizar o mal estar.
E para quem tem tempo, Sartori recomenda chegar no destino um ou dois dias antes dos compromissos mais importantes. “É natural a capacidade intelectual e a disposição ficarem afetadas após uma mudança de fuso significativa”, explica.
Fonte: Ana Paula Ribeiro - Brasil Econômico/iG - Imagens: Reprodução
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