domingo, 15 de novembro de 2009

Cinco-estrelas espacial

Uma empresa espanhola pretende construir um hotel na órbita da Terra e assim inaugurar um novo conceito de turismo. Dará certo?

3 milhões de euros é quanto custará o pacote para ficar três dias no espaço


CHEGADA: depois de lançada ao espaço, a aeronave se descola do propulsor e é acoplada ao hotel

Desde que o cosmonauta russo Yuri Gagarin, então com 27 anos, entrou para a história, em 1961, ao ser o primeiro homem a ir para o espaço, criou-se um fascínio pelas viagens espaciais. Mas, se antes a corrida pela hegemonia era disputada entre a ex-União Soviética e os Estados Unidos, agora o jogo é outro. São as empresas privadas que vislumbram a conquista da órbita.

Uma delas é a espanhola Space Tourism Company Galactic Suite, que, até 2012, pretende levar turistas a 450 quilômetros da Terra para hospedá-los num resort espacial por três dias. O projeto da empresa, com recursos de 2 bilhões de euros provenientes de investidores do Oriente Médio, é ambicioso. Eles pretendem erguer um aeroporto espacial em uma ilha no Caribe, mais perto da linha do Equador, o que possibilita maior economia de combustível.

Para o lançamento, será construído um trilho suspenso de aproximadamente cinco quilômetros. "Estamos trabalhando para que isso tudo se torne realidade", disse à DINHEIRO Ariadna Pueyo, uma das diretoras da Galactic Suite. O preço médio do voo e da estadia no hotel é 3 milhões de euros. Detalhe: já há 38 interessados.

A ideia da Galactic Suite é oferecer uma experiência ímpar. Antes de embarcar, as pessoas permanecerão 18 semanas em um spa no Caribe, onde, além de relaxar, terão aulas de como se comportar no espaço. A viagem à órbita levará quatro dias e será feita com uma nave russa com espaço para seis pessoas, sendo quatro passageiros e dois tripulantes. Uma vez lá, os quartos possuem 7 metros de altura por 4 metros de largura.

A decoração preza pelo máximo de espaço livre para que o turista tenha a chance de aproveitar a gravidade zero. Há uma programação para meditação, tempo para ler, dar um alô à família, checar as notícias, entre outras atividades. Mas ir ao espaço não é somente parafrasear Gagarin e exclamar maravilhado que "a Terra é azul". "Antes de ir, é preciso fazer muitos exames médicos.

O suporte no espaço não garante conforto", aponta Marcos Pontes, o primeiro astronauta brasileiro. Essa sensação de desconforto é explicada pelo fato de o corpo humano estar acostumado à gravidade terrestre. Uma vez sem ela, pode ter sensações de dor de cabeça, coriza e náusea. Isso sem falar nas fortes emoções na decolagem, quando a nave chega a 28 mil km/h em dez minutos. Para voltar, os riscos são ainda maiores.

O procedimento consiste basicamente em desacelerar a aeronave, de modo que ela possa novamente ser atraída pela gravidade da Terra. No caminho de volta à superfície, as naves devem resistir à temperatura que chegará aos 3.000ºCc. "Isso não se enquadra em turismo de luxo, mas é para quem busca uma aventura", diz Ricardo Mader, diretor da consultoria hoteleira Jones & Lang Lasalle Hotels.

Uma outra empresa, a Virgin Galactic, de propriedade do bilionário inglês Richard Branson, tem uma proposta mais modesta - e muito mais confiável - de viagem espacial na qual o turista decola em um jato e fica apenas cinco minutos na órbita com a sensação de gravidade zero. Mesmo assim, a empresa, que realizou o primeiro voo espacial privado em 2004, só planeja voltar a fazê-lo depois de 2010.

"Acredito em turismo espacial. A proposta da Galactic Suite não é impossível, porém, para 2012, eu diria que é improvável", aponta Pontes, o astronauta brasileiro. "O investimento necessário teria de ser cerca de sete vezes maior do que eles anunciaram."

GRAVIDADE ZERO: os hóspedes terão espaço livre (acima) para aproveitar a experiência. Para o lançamento (abaixo) da nave, será construído um trilho de 5 km

Fonte: Carolina Guerra (IstoÉ Dinheiro) - Imagens: Divulgação

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