sábado, 11 de abril de 2009

‘Foi uma obra de Deus’, diz homem que sobreviveu a duas bombas atômicas

Senhor de 93 anos esteve nos ataques a Hiroshima e Nagasaki.

Explosão o deixou surdo de um dos ouvidos.



As cerejeiras cercam a casa onde vive Tsutomo Yamaguchi, um senhor de 93 anos de andar já cambelante, um homem capaz de resistir a duas bombas atômicas. Ao lado da filha, a neta e um bisneto de 2 anos de idade, ele recebe a equipe de reportagem com a hospitalidade japonesa. Insiste que todos comam enquanto conta a história dele, quase inacreditável.

Yamaguchi já foi tema de um documentário e, três anos atrás, recebeu uma homenagem nas Nações Unidas, em Nova York. Um documento prova que o senhor Yamaguchi sobreviveu a duas bombas atômicas. Foi emitido pela prefeitura de Nagasaki que, em 1957, já havia reconhecido que ele estava em Nagasaki quando a bomba explodiu.

Este ano, houve o reconhecimento pela prefeitura de Hiroshima. Está escrito que ele estava dentro de um raio de três quilômetros dos locais onde caíram as duas bombas.

Yamaguchi era engenheiro e trabalhava para um estaleiro. No dia 6 de agosto de 1945, ele foi a Hiroshima a trabalho quando o avião americano Enola Gay sobrevoou a cidade, jogando a primeira bomba atômica da história.

Yamaguchi conta que estava na rua e viu um brilho muito forte, uma explosão subindo pelos ares. Por que fizeram isso?

“Essa é uma resposta que até hoje eu não sei. Milhares de pessoas morreram, velhos, crianças”, comenta o senhor.

A explosão deixou Yamaguchi cego por alguns momentos e até hoje surdo de um dos ouvidos. “Surgiram manchas na pele. Tenho muitas na barriga. Eu tinha 29 anos de idade”, lembra.

Mesmo ferido, Yamagushi viajou 300 quilômetros até Nagasaki, onde morava, e se apresentou para trabalhar no estaleiro. Foi onde, três dias depois da bomba de Hiroshima, os americanos fizeram o segundo ataque atômico.

Eram 11h02 quando a bomba explodiu a 500 metros de altura, exatamente sobre o local onde hoje existe um monumento. O calor e a radiação se espalharam, como mostram alguns círculos, destruindo um terço de Nagasaki e matando ou ferindo 150 mil pessoas.

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O lugar onde a bomba explodiu virou um parque, construído para ser o símbolo da busca pela paz. Yamaguchi conta que a maioria dos colegas havia ido para um abrigo com as famílias.

“Minha mulher e meu filho de cinco meses também deveriam ter ido para o abrigo, mas ela decidiu ficar comigo no estaleiro. Foi lá no abrigo que bomba caiu. Todo mundo morreu. Os que ficaram no estaleiro sobreviveram”, conta.

A mulher morreu no ano passado e o filho, quatro anos atrás – os dois de câncer, uma doença frequente nos sobreviventes das bombas. Mas a que ele atribui o fato de ter sobrevivido? Sorte? Destino?

“Foi uma obra de Deus", diz ele. “Tenho várias doenças, mas o motivo de continuar vivo é espalhar uma mensagem de paz. Foi por isso que sobrevivi”.

Qual é a mensagem? “Bomba atômica nunca mais”, afirma.

Tsutomo Yamagushi contou que ficou feliz por ser reconhecido como duplo sobrevivente. Significa que, de certa forma, nunca vai morrer. A mensagem dele vai continuar viva, mesmo depois que ele for embora.

Fontes: G1 / Fantástico (TV Globo)

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