quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pressão no transporte aéreo

Entre 2008 e 2009, a demanda de transporte aéreo aumentou 17,65% na média apenas em dezembro, o crescimento em relação a dezembro do ano anterior foi de quase 38%, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A recuperação do setor foi ótima para o balanço das companhias aéreas, mas não para os passageiros, que pagam tarifas mais elevadas desde o fim do ano, enquanto sofrem com a insuficiência de investimentos na infraestrutura aeroportuária.

Depois de uma guerra de preços entre as companhias aéreas, até outubro, o mercado reaqueceu e as passagens foram reajustadas, em média, em quase 47%, em dezembro, comparativamente a dezembro do ano anterior, pior mês da crise para a aviação comercial brasileira. A alta liderou, no mês passado, os reajustes dos itens incluídos no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do País. Comparativamente a 2008, o aumento das tarifas, em 2009, foi de cerca de 32%, mostrando o grau de aquecimento da demanda, segundo o especialista Paulo Bittencourt Sampaio.

O vice-presidente comercial e de planejamento da TAM, Paulo Castello Branco, afirmou que "o ajuste dos preços dos bilhetes foi em cima das tarifas extremamente baixas que vinham sendo praticadas até outubro". As companhias também são beneficiadas pela redução dos preços do querosene de aviação, que responde por 40% dos custos do transporte.

A procura por passagens beneficiou tanto as companhias com maior participação em mercado como as de menor porte. Estas também foram ajudadas pela abertura para voos nacionais do Aeroporto Santos-Dumont, no Rio, que só operava a ponte Rio-SP, voos regionais e táxi aéreo. Esse foi um fator "fundamental para a desconcentração do mercado", enfatizou a diretora-presidente da Anac, Solange Vieira. "O acirramento da concorrência favorece o passageiro, que tem mais opções para escolher a companhia, seja pela pontualidade, preço, serviço ou outros fatores", disse ela.

Com a retomada econômica, espera-se um aumento ainda maior da demanda, não apenas nas viagens de turismo do período de férias escolares, mas no ano todo, graças ao desenvolvimento dos negócios e dos serviços.

Prudentemente, as empresas aéreas não estão proporcionando aumentos da oferta de assentos para atender ao esperado aumento da demanda. Ou seja, não estão aumentando seus investimentos e agravando os seus custos na esperança de ganhos futuros. Em dezembro, a ocupação nos voos domésticos foi de 73,7%, bem acima da média de 2009 e mais de 6 pontos porcentuais acima de dezembro de 2008.

Algumas medidas destinadas a racionalizar o uso das instalações aeroportuárias estão em curso, como a redistribuição, dia 1º de fevereiro, pela Anac, de 412 slots (direitos de pousos e decolagens) no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, dos quais 317 aos sábados e domingos. Estes slots não são hoje utilizados, enquanto os outros 95 slots foram perdidos por companhias que descumpriram as normas da agência reguladora. Tanto essa como a anunciada no fim do ano passado limitando o número de pousos e partidas por hora do Aeroporto de Guarulhos, e não concedendo novas autorizações até que os terminais tenham condições de atender bem os usuários, são medidas paliativas.

O bom atendimento nos aeroportos depende dos investimentos que deveriam ser feitos pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), e que não são feitos. Anunciada em 2007 pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, a terceira pista do Aeroporto de Guarulhos não saiu das promessas. Até agora não há um projeto executivo aprovado para a construção. Tampouco foram feitos os investimentos necessários para aumentar a segurança do Aeroporto de Congonhas. E ainda não saiu o licenciamento ambiental para as obras de reforma do pátio e de um novo terminal de passageiros em Viracopos. A Infraero preferiu transformar os aeroportos em shopping centers. Os passageiros, no entanto, continuam procurando os aeroportos para viajar.

Fonte: Estadão

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