Os proprietários dos hangares do Aeroporto 'Comendador Pedro Morganti' não descartam a possibilidade de irem à Justiça contra o Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp), para pleitear indenização por danos materiais que estão sofrendo por conta da interdição, determinada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), semana passada, que fechou a pista de pousos e decolagens. A punição segue até 7 de setembro e pode ser prorrogada por mais seis meses.
A decisão teve como base pelo menos 47 problemas detectados no aeroporto, de buracos na pista à ausência de um posto do Corpo de Bombeiros para a execução de atendimentos de urgência, entre outras ausências e falhas. Uma equipe da Anac esteve na cidade há três semanas. Até a decisão, pousavam e decolavam, diariamente, 10 aviões de pequeno e médio portes. Em geral, as aeronaves eram ocupadas por empresários, grande parte ligados ao setor sucroalcooleiro, interessados em conhecer a excelência em pesquisa e tecnologia desenvolvida na cidade em se tratando de açúcar e álcool.
Na segunda-feira (17), o que se viu foram homens da Prefeitura capinando trechos de mato alto no aeroporto, em meio à chuva intermitente. Nenhuma outra operação foi executada.
Piloto, mecânico, construtor de aeronaves e presidente do Aeroclube Municipal de Limeira, Nilton David confirmou ontem à Gazeta que realmente os caminhos estão abertos para que donos de hangares acionem a Justiça contra o Daesp. "Sem receita, os donos dos abrigos fechados para aviões poderiam alegar a suposta falta de competência do Departamento para gerenciar o aeroporto, sem contar os prejuízos financeiros decorrentes da inatividade no local", argumenta.
"Sem aviões na pista, o aeroclube, que poderia cobrar na Justiça o gerenciamento do espaço, corre o risco de ser extinto. Mesmo porque, não há como ser realizadas aulas de pilotagem", observa. Empresários consultados informalmente dizem que aguardam a segunda visita de engenheiros da Anac, à cidade, para formalizar os recursos. Uma nova vistoria estava prevista para ocorrer hoje (19), mas não deve acontecer. A confirmação foi reiterada ontem à noite, pela Assessoria de Comunicação da Anac. Outro ponto bastante questionado é a taxa de uso do aeroporto e o aluguel dos hangares cobrados pelo Daesp, apesar da interdição.
Cada dono de um espaço coberto para aviões estaria desembolsando cerca de R$ 2,5 mil. O Daesp não confirmou se o valor continuará a ser cobrado, apesar da interdição. Se depender dos empresários, a verba não será paga até a reabertura do aeroporto.
Imediatas
Numa reunião realizada nessa segunda-feira, em São Paulo, a Anac cobrou do Daesp relatório de atividades imediatas visando à recuperação e abertura do Aeroporto de Piracicaba. Enquanto as melhorias exigidas não saem do papel, estudo realizado pela Associação Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Anades), entidade ligada à Força Aérea Brasileira (FAB), que promove festas aviatórias, já chegou às mãos de técnicos do Daesp.
De acordo com o vice-presidente da Associação e piloto de helicóptero, Marcelo Kraide, o documento conta com a assinatura de membros de 20 empresas de Piracicaba, favoráveis à reabertura do aeroporto.
Na região, os aeroportos agonizam
Mesmo fechado, o Aeroporto de Piracicaba não é avaliado como um dos piores da região. O de Americana é bem elogiado, mas a infra-estrutura de pontos localizados em outras cidades próximas é precária.
Com cerca de 350 mil habitantes, Limeira, por exemplo, dispõe de um aeródromo municipal, inaugurado em 1937, que concentra, ainda, o aeroclube local.
Desde 1972 no setor aéreo, Nilton David, 55, conta que, para surpresa, inclusive de limeirenses, o aeródromo está sendo preterido pela Prefeitura, que deseja instalar, no local, um conjunto de imóveis. "Há três anos lutamos pela manutenção do aeródromo. Não há nem projeto previsto no Plano Diretor, o que mostra a possível irregularidade das tratativas", lamenta.
Nos últimos nove anos, o local foi interditado cinco vezes. "É um recorde nacional, dos mais vergonhosos", enfatiza.Aberto em 1939, com 15 hangares e preparado para receber 120 pousos de pequenos aviões (modelo 'bandeirante'), por mês, o Aeroporto Municipal Adhemar de Barros, de Rio Claro (SP), funciona com pistas sem pavimento.
No espaço, situado no município de 180 mil habitantes, distante 32 quilômetros de Piracicaba, o asfalto dá lugar ao piso de terra. A situação é tão difícil que, quando chove, a exemplo do que ocorreu nos últimos dias, os pousos e decolagens, procedimentos realizados exclusivamente no período diurno, são comprometidos.
Com o tempo, até a pista encolheu. Há cinco anos, media 1,3 mil metros de extensão. Atualmente, não passa de 1,1 mil metros.
Fonte: Gazeta de Piracicaba
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