Telegrama afirma que, para comandante da FAB, caça americano "era o melhor'; preferência do Brasil é por francês
Documentos vazados pelo WikiLeaks revelam bastidores do lobby norte-americano em concorrência bilionária
O comandante da Força Aérea Brasileira, brigadeiro Juniti Saito, aparece em um despacho secreto da diplomacia norte-americana afirmando dar preferência aos F-18, aviões caça dos EUA.
Trata-se de referência a uma das maiores licitações da história da Aeronáutica, que pretende adquirir 36 aviões por um valor aproximado de R$ 15 bilhões.
A preferência do Palácio do Planalto é pelos equipamentos oferecidos pela empresa francesa Dassault, que fabrica o Rafale.
Em 31 de julho de 2009, o telegrama secreto assinado pelo então embaixador americano em Brasília, Clifford Sobel, dizia que Saito tomou a iniciativa de ter uma conversa reservada em jantar no dia anterior com o general Doug Fraser, comandante do Comando Sul.
Na conversa, Saito disse que "não existia dúvida, do ponto de vista técnico, de que o F-18 era o melhor avião". Esse caça é produzido pela Boeing.
"Voamos no equipamento norte-americano há décadas", relatou o brasileiro, segundo frase colocada entre aspas no despacho diplomático de Clifford Sobel.
"E sabemos que [o F-18] é confiável e que sua manutenção é simples e oferece bom custo/benefício por meio do sistema de vendas militares externas", continua o texto.
Como já se sabia naquela época da predileção do presidente Lula pelo Rafale, Saito se antecipou e fez um comentário. "Ele disse que os franceses não poderiam se queixar porque acabaram de assinar um contrato de US$ 14 bilhões com o Brasil (para submarinos e helicópteros)."
A única ressalva apresentada por Saito foi a respeito da transferência de tecnologia por parte dos americanos. Informou precisar de carta dos EUA se comprometendo com essa política.
Sobel afirmou acreditar que o documento estivesse em estágio final de aprovação. "Aliviado, Saito disse que precisava ter a carta em mãos até o dia 6 de agosto", descreve o telegrama.
Esse despacho diplomático ao qual a Folha teve acesso é um entre milhares obtidos pela organização não governamental WikiLeaks (http://cablegate.wikileaks.org/).
Além desse telegrama, a Folha teve acesso a vários outros que tratam da compra dos caças pelo Brasil.
Há grande volume de telegramas relatando o esforço dos EUA a favor dos caças F-18, da Boeing.
Nesse documento no qual aparece Saito, ele conta que Barack Obama tratou do assunto diretamente com Lula numa reunião de cúpula do G8 na Itália, em julho de 2009. Esse lobby de Obama não ficou conhecido à época.
As manifestações de Saito foram consideradas pela diplomacia dos EUA "a mais clara expressão" de que o brigadeiro pretenderia "recomendar o F-18".
Mas, no final do ano passado, não foi o que se passou, pois a FAB classificou em primeiro lugar o caça Gripen, da Suécia, deixando o F-18 em segundo lugar na disputa.
Em maio do ano passado, segundo um telegrama do dia 19 daquele mês, os americanos decidiram passar a fazer lobby intenso a favor da Boeing porque "contatos brasileiros dizem não acreditar que o governo dos Estados Unidos esteja apoiando a venda fortemente".
"O esforço francês está sendo administrado diretamente pelo gabinete do presidente Sarkozy" e "o envolvimento sueco" é "em nível ministerial".
Relações pessoais
O governo dos EUA "é percebido pela maioria dos brasileiros como no máximo medianamente interessado em apoiar a venda. Essa é uma desvantagem crítica em uma sociedade como a brasileira, na qual os relacionamentos pessoais servem de fundação para os negócios", dizia o telegrama confidencial.
Embora tenham assinado vários documentos se comprometendo a transferir tecnologia, os norte-americanos se diziam intrigados. No Brasil, autoridades sempre propagavam a ideia de que isso não iria acontecer.
"Pode bem ser que os brasileiros desejem manter vivas as dúvidas sobre a transferência de tecnologia a fim de contarem com uma desculpa automática para a compra de um avião inferior, caso os líderes políticos assim decidam", dizia o despacho.
Em um item chamado "ataque à proposta francesa", os diplomatas dos Estados Unidos argumentam ser necessário "lembrar aos brasileiros" que "o esforço francês de vendas vem se baseando em alegações enganosas, se não fraudulentas".
É que parte dos equipamentos do Rafale tem "alta presença de conteúdo norte-americano, o que inclui sistemas de mira, componentes de radar e sistemas de segurança que requererão licenças norte-americanas".
Jobim
Já em um telegrama confidencial mais recente, de 5 de janeiro deste ano, a diplomacia dos EUA fala sobre usar o ministro da Defesa, Nelson Jobim, para convencer Lula.
"Nós sabemos que o Super Hornet [F-18] recebeu a avaliação técnica mais favorável da FAB e é a escolha dos pilotos", afirma o despacho, para então concluir:
"Mas permanece, porém, o formidável obstáculo de convencer Lula. Nosso objetivo agora deve ser garantir que Jobim tenha argumentos reforçados ao máximo possível para ir a Lula em janeiro".
Leia íntegra dos telegramas em português:
19/05/2009 16h39
VZCZCXRO8264RR RUEHRGDE RUEHBR #0634 / 01 1391639ZNY SSSSS ZZHR 191639Z MAY 09FM AMEMBASSY BRASILIATO RUEHC / SECSTATE WASHDC 4328RUEKJCS / SECDEF WASHDCRHEHNSC/NSC WASHDCINFO RUEHFR / AMEMBASSY PARIS 0490RUEHSM / AMEMBASSY STOCKHOLM 0075RUEHRG / AMCONSUL RECIFE 9551RUEHRI / AMCONSUL RIO DE JANEIRO 7753RUEHSO/AMCONSUL SAO PAULO 4071RUCPDOC / DEPT OF COMMERCE WASHDCRUEKJCS / JOINT STAFF WASHDCRHMFISS / CDR USSOUTHCOM MIAMI FL
S E C R E T O
SECTION 01 OF 03 BRASILIA 000634 NOFORN SIPDIS STATE FOR WHA AND PM E.O. 12958: DECL: 05/19/2019 TAGS: PREL, MASS, ETTC, BR
ASSUNTO: AQUISIÇÃO DE CAÇAS PELO BRASIL: ESTRATÉGIA PARA FINAL DE PROCESSO REF: A. BRASILIA 216 B. BRASILIA 41
Classificado pela encarregada de negócios Lisa Kubiske. Razão: 1.4 1. (S/NF)
SUMÁRIO E PEDIDO DE AÇÃO. Restando dois meses para que o governo do Brasil [GOB] decida quanto a um caça de próxima geração, o concorrente norte-americano, o Boeing F-18 Super Hornet, continua a ser percebido por muitos brasileiros, do GOB e fora dele, como provável segundo ou até mesmo terceiro colocado no processo, apesar de ser o melhor avião e oferecer o melhor pacote compensatório. A maioria dos nossos contatos brasileiros nos dizem não acreditar que o governo dos Estados Unidos [USG] esteja apoiando a venda fortemente, o que desperta dúvidas em suas mentes sobre nossa confiabilidade como parceiros em longo prazo. Daqui até julho, haverá diversas oportunidades para assegurar aos brasileiros nos mais altos escalões que o USG apoia a venda. Os parágrafos 3-7, abaixo, contêm medidas propostas para minimizar as principais preocupações brasileiras e maximizar a chance de seleção do concorrente norte-americano. Entre essas medidas, contatos de alto nível, pelo presidente e secretário, serão críticos para superar a percepção de falta de apoio pelos Estados Unidos. Precisamos também enfatizar nossas garantias de que transferência de tecnologia foi aprovada e destacar a superioridade da proposta da Boeing com relação à de sua concorrente francesa. Como apontam os reftels, a embaixada acredita que o [Departamento de] Estado possa desempenhar papel crítico em fornecer garantias que serão essenciais para a vitória na concorrência. FIM DO SUMÁRIO.
2. (S/NF) À medida que a concorrência FX2 se aproxima de seus estágios finais, os Estados Unidos têm uma forte oferta da Boeing para o seu F18 Super Hornet, acompanhado por um grande pacote de cooperação industrial e custo geral competitivo. Embora possamos confiar em que o Super Hornet seria a escolha brasileira com base em suas capacidades superiores e atraente pacote compensatório, ainda assim ele não tem chance de vitória superior a 50%, devido ao apoio político de que desfruta seu concorrente francês e da persistente crença entre os brasileiros de que um relacionamento estreito com os Estados Unidos pode não ser vantajoso para o país. Para vencer a fase final da disputa pelo contrato FX2, portanto, dependemos de uma estratégia efetiva para superar nossas desvantagens políticas e permitir que a superioridade do Super Hornet seja o fator decisivo. Uma estratégia como essa precisa resolver diversas questões importantes:
Percepção de falta de apoio pelo USG
3. (S/NF) Porque o esforço francês está sendo administrado diretamente pelo gabinete do presidente Sarkozy, e dado o envolvimento sueco corrente em nível ministerial, o USG é percebido pela maioria dos brasileiros como no máximo medianamente interessado em apoiar a venda do FX2. Essa é uma desvantagem crítica em uma sociedade brasileira na qual os relacionamentos pessoais servem de fundação para os negócios. A dificuldade é exacerbada pela separação entre governo e indústria nos Estados Unidos. Não podemos, por exemplo, oferecer financiamento governamental em apoio a uma empresa estatal, como podem os nossos concorrentes. Para enfrentar esse problema, contatos de alto nível serão essenciais, especialmente por parte do Departamento de Estado, que a força aérea brasileira vê como restritivo quanto à cooperação militar. Nesses contatos, será preciso que as autoridades norte-americanas destaquem a parceria cada vez mais forte entre Brasil e Estados Unidos e a maneira pela qual a cooperação com os Estados Unidos, na expansão das obsoletas forças armadas brasileiras, oferecerá não só as melhores capacidades operacionais mas um reforço do nível mais amplo de cooperação entre os dois países. É por isso que assumimos posição favorável à aprovação de transferências de tecnologia, em apoio a essa venda. Além de tirar vantagem das oportunidades de curto prazo para contatos de alto nível oferecidas pela viagem do ministro da Defesa [MOD] Jobim a Washington em 20 maio e pela possível visita da secretária Clinton ao Brasil no final de maio, a embaixada acredita que os telefonemas entre os presidentes Obama e Lula, entre a Agência de Segurança Nacional (NSA) e o assessor presidencial Marco Aurélio Garcia e entre o secretário da Defesa Gates e o MOD Jobim podem reforçar significativamente os nossos argumentos.
Transferência de tecnologia
4. (S/NF) Ainda que as decisões mais importantes para aprovar a BRASILIA 00000634 002 OF 003 transferência de tecnologia como parte da venda do FX2 tenham sido tomadas, os líderes brasileiros continuam a duvidar da capacidade norte-americana de cumprir o prometido. Embora o problema tenha sido mitigado por meio de uma estratégia efetiva de assuntos públicos, continuamos a ouvir que, na ausência de garantias específicas pelo primeiro escalão do Departamento de Estado, os brasileiros não se sentem seguros. Pode bem ser que os brasileiros desejem manter vivas as dúvidas sobre a transferência de tecnologia a fim de contarem com uma desculpa automática para a compra de um avião inferior, caso os líderes políticos assim decidam. As repetidas preocupações quanto a códigos-fonte intransferíveis podem ter base semelhante. Por fim, ouvimos que existem preocupações no Congresso quanto a uma possível corrida armamentista na América do Sul. Caso isso chegue aos ouvidos dos brasileiros, haverá novas preocupações quanto à possibilidade de que o Congresso intervenha para bloquear a venda. A embaixada recomenda o seguinte, como próximos passos a fim de reforçar nossos argumentos no que tange à transferência de tecnologia: --uma carta do presidente Obama ao presidente Lula defendendo a causa - uma carta da secretária Clinton ao MOD Jobim afirmando que o USG aprovou a transferência de toda a tecnologia apropriada. - A orientação interagências quanto ao código-fonte (liberada para um artigo publicado em abril pela Revista Força Aérea) deveria ser disseminada para uso. - Todos os contatos de alto nível, entre os quais pelos secretários de Estado e da Defesa e pelo presidente dos Estados Unidos (POTUS), devem incluir garantias de que a transferência de tecnologia foi aprovada. - As agências de Washington devem iniciar consultas com assessores apropriados no Congresso o mais cedo possível a fim de superar a percepção equivocada de que vendas de armas ao Brasil causariam desestabilização.
Financiamento
5. (S/NF) A incapacidade dos Estados Unidos de oferecer financiamento ou garantias [de crédito] coloca o Super Hornet em desvantagem significativa diante de seus concorrentes. O Export-Import Bank [EXIM] dos Estados Unidos está proibido de se envolver em vendas de produtos de defesa, o que faz com que o Brasil dependa de financiamento comercial, com juros mais altos. De acordo com agências de Washington, seria possível solicitar uma dispensa do Congresso para que o EXIM pudesse apoiar a venda. Isso foi realizado, no passado, em raras ocasiões. O escritório de financiamento da força aérea brasileira nos disse que até mesmo um comunicado no sentido de que estamos dispostos a solicitar essa medida legislativa seria considerado como sinal positivo. A embaixada recomenda que Washington explore a possibilidade de ação legislativa para permitir financiamento pelo EXIM e que responda dentro do prazo de 29 de maio à solicitação de informações sobre opções de financiamento governamental encaminhada pelo GOB.
Defendendo nossa posição
6. (S/NF) Obtivemos sucesso em comunicar o ponto de que o Super Hornet é um avião de alta capacidade, e agora precisamos nos concentrar no quadro mais amplo -como a parceria na venda do caça resultará em benefícios para ambos os lados, em termos militares, e também em benefícios econômicos. Como maior companhia aerospacial do mundo, a Boeing tem a capacidade de oferecer gama maior de oportunidades à indústria brasileira, entre as quais algumas que não se relacionam ao programa compensatório do FX2. A visita de legisladores brasileiros a Washington no começo de junho será uma oportunidade de transmitir essa mensagem a líderes políticos. Concentrando as atenções em senadores importantes, temos a oportunidade de conquistar o apoio de indivíduos que podem influenciar os responsáveis pela decisão e garantir que as pessoas que terão de aprovar os dispêndios do governo brasileiro compreendam que o F-18 lhes oferece mais valor. A embaixada continuará a destacar a transferência de tecnologia e expandir nossa mensagem de maneira a incluir os benefícios econômicos da proposta da Boeing para o Brasil. Também recomendamos o seguinte: -- Usar a visita do Congresso brasileiro para enfatizar a mensagem de que uma parceria com os Estados Unidos acarreta benefícios para ambos os lados que vão bem além do programa compensatório. Garantir que os senadores brasileiros compreendam os custos significativamente inferiores do Super Hornet em seu ciclo de vida. BRASILIA 00000634 003 OF 003 - Marcar uma entrevista do secretário de Defesa, ou outro representante importante do governo, com um jornalista brasileiro conhecido, a fim de sublinhar a importância da parceria entre Estados Unidos e Brasil e como a venda do FX2 ajudaria.
Ataque à proposta francesa
7. (S/NF) Ainda que os franceses ofereçam um caça menos capaz a custo mais alto, o Rafale vem sendo considerado vencedor desde o início da concorrência FX2. Embora as avaliações técnicas dos aviões devam resultar em vantagem significativa para o Super Hornet, precisamos tomar medidas para erodir a vantagem política francesa. Embora um elemento importante disso seja enfatizar o custo mais baixo da Boeing, há diversas outras medidas que podem oferecer argumentos contra os franceses. O primeiro passo será lembrar os brasileiros de que seu interesse pelo Rafale foi causado pela suposição de que os Estados Unidos não liberariam tecnologia. Já que aprovamos a liberação da tecnologia relevante, deveríamos perguntar se os brasileiros ainda precisam dos franceses como segurança. Nos últimos meses, o esforço francês de vendas vem se baseando em alegações enganosas, se não fraudulentas, de que seu caça envolve apenas conteúdo francês (o que o isentaria dos incômodos controles de exportação dos Estados Unidos). Mas isso não precede. Uma análise da Administração de Segurança da Tecnologia de Defesa (DTSA) encontrou alta presença de conteúdo norte-americano, o que inclui sistemas de mira, componentes de radar e sistemas de segurança que requererão licenças norte-americanas. Próximos passos: -- Ainda que não pareça que os dados tecnológicos oferecidos na proposta francesa violem os regulamentos da Regulamentação Internacional de Comércio de Armas (ITAR), o PM/DTCC [departamento de controle do comércio de defesa, na divisão de assuntos político-militares do Departamento de Estado] e a DTSA devem continuar a monitorar o marketing francês para garantir que a Dassault não contorne as restrições do ITAR. - Investigar a decisão indiana de excluir o Rafale em sua concorrência para caças e determinar se existiu algum motivo que torne o avião menos atraente para o Brasil. - Garantir que os brasileiros estejam cientes de que esperamos conceder licenças de retransferência para os componentes de origem norte-americana no avião francês, e que já aprovamos a transferência de alguns dados técnicos. KUBISKE
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31/07/2009 20h42
VZCZCXRO1680OO RUEHRGDE RUEHBR #0952 2122042ZNY SSSSS ZZHO 312042Z JUL 09FM AMEMBASSY BRASILIATO RUEHC/SECSTATE WASHDC IMMEDIATE 4792INFO RUEHRG/AMCONSUL RECIFE 9789RUEHRI/AMCONSUL RIO DE JANEIRO 8046RUEHSO/AMCONSUL SAO PAULO 4373RHEHNSC/NSC WASHDCRUEKJCS/SECDEF WASHDC
S E C R E T O
BRASILIA 000952 NOFORN SIPDIS STATE FOR D, P, T, AND WHA E.O. 12958: DECL: 07/31/2019 TAGS: MASS, PREL, BR
SUBJECT: COMANDANTE DA FORÇA AÉREA DO BRASIL PEDE GARANTIAS DE ESTADO QUANTO A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA ATÉ 6 DE AGOSTO REF: BRASILIA 888
Classificado por: VICE-CHEFE DE MISSÃO LISA KUBISKE, RAZÃO 1.4 (b) e (d) 1. (S/NF)
Em jantar em 30 de julho para o general Doug Fraser, comandante do Comando Sul, o comandante da força aérea brasileira (BRAF), brigadeiro Juniti Saito (protect) conversou reservadamente com o embaixador Sobel e seu conselheiro político sobre a compra do caça FX2. Ele afirmou que não existia dúvida, do ponto de vista técnico, que o F-18 era o melhor avião. "Voamos equipamento norte-americano há décadas", ele disse, "e sabemos que é confiável e que sua manutenção é simples e oferece bom custo/benefício por meio do sistema de vendas militares externas (FMS)". Isso precisa ser incorporado ao custo do novo caça, disse, porque a BRAF provavelmente utilizará o aparelho por 30 ou 40 anos. Seria a melhor decisão, ele disse, e os franceses não poderiam se queixar porque acabaram de assinar um contrato de US$ 14 bilhões com o Brasil (para submarinos e helicópteros).
2. (S/NF) Saito enfatizou, no entanto, que a questão quanto ao compromisso do governo dos Estados Unidos (USG) para com a transferência de tecnologia continua a ser "uma significativa barreira política" e que transpô-la é extremamente importante. Saito perguntou se a carta que havia solicitado e garante a transferência de tecnologia (reftel) estava a caminho. O embaixador assegurou a ele que compreendíamos a importância de superar o problema, e disse acreditar que o documento estivesse em estágio final de aprovação. Aliviado, Saito disse que precisava ter a carta em mãos até o dia 6 de agosto. Acrescentou, no entanto, que a decisão não seria anunciada "até depois do 7 de setembro". (Nota: o presidente francês Sarkozy visitará o Brasil no mês que vem e participará das festividades do dia nacional, em 7 de setembro, como parte das atividades do "ano da França no Brasil". Fim da nota.)
3. (S/NF) Saito reiterou o quanto a conversa do presidente Obama com o presidente Lula sobre o FX2, em Aquila, havia sido importante, e disse que "ela abriu as portas para que eu pudesse procurar o embaixador, como fiz". Ele disse que o presidente Lula havia instruído o ministro da Defesa Jobim e o brigadeiro Saito a conversar com o general Jones durante a visita deste, e solicitou que o general Jones o visitasse em seu escritório.
4. (S/NF) Comentário: Essa foi a mais clara expressão, da parte de Saito, de que pretende recomendar o F-18. O posto está trabalhando para marcar uma reunião entre o general Jones e o brigadeiro Saito em 4 de agosto. O posto assume, adicionalmente, que o subsecretário Tauscher esteja se preparando para entregar a carta solicitada por Saito ao ministro da Defesa Jobim e ao ministro do Exterior Amorim, durante a visita, e acredita que isso será visto como sinal significativo de apoio do USG à oferta da Boeing. SOBEL
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05/01/2010 19h40
CONFIDENCIAL
ASSUNTO: FX2 no final de 2009
CLASSIFICADO POR: Lisa Kubiske, vice-embaixadora a.i.; RAZÃO: 1.4 (D)
1.(C) Enquanto 2009 chega ao fim, a competição do FX2 no Brasil continua sem uma decisão. Esperava-se que o presidente Lula tomasse uma decisão antes do fim do ano, para que fosse possível completar a venda durante seu governo. Concretamente falando, porém, mesmo que uma decisão presidencial fosse tomada imediatamente, o tempo necessário para negociar o contrato e reservar a verba significa que a decisão final de adquirir os aviões caberá ao próximo presidente, em 2011. Contatos da embaixada no Ministério das Relações Exteriores e no Ministério da Defesa acreditam que o ministro da Defesa, Jobim, vai se reunir com Lula ainda em janeiro para tentar tomar uma decisão.
SETEMBRO: PREFERÊNCIA É DADA AO RAFALE
2.(C) Lula não tem feito segredo de sua preferência pelo Rafale da Dassault, tendo anunciado durante a visita do presidente Sarkozy em 7 de setembro (ref a) que pretendia negociar a aquisição com a França, antes mesmo de ler a avaliação técnica da Força Aérea Brasileira (FAB). Nos três meses seguintes, ficou claro que Lula tinha instruído seu governo, incluindo Jobim, a concentrar sua atenção em fazer o negócio com a França funcionar. Em setembro, Lula disse à imprensa brasileira que as negociações com a França focariam o esforço para fazer o preço dos aviões ser semelhante aos que a Boeing e a Saab estavam pedindo (consta que a melhor oferta da Dassault teria sido 40% mais alta). A despeito de outra visita de Sarkozy ao Brasil em novembro e da escala posterior de Jobim em Paris, os franceses não conseguiram atender ao pedido dos brasileiros por um preço mais baixo, mas sua falta de receptividade (ref b) aparentemente não afetou a preferência brasileira. Declarações iniciais dadas em setembro por Lula e pelo chanceler Amorim procuraram dar a entender que os franceses, de alguma maneira, estariam oferecendo um nível superior de transferência de tecnologia, o que seria uma justificativa do preço mais alto, mas, à medida que foram emergindo detalhes do processo de avaliação técnica, ficou claro que os três concorrentes estavam atendendo, de modo geral, às exigências de transferência de tecnologia feitas pela FAB.
DEZEMBRO: MINISTÉRIO DA DEFESA VOLTA A EXPRESSAR INTERESSE PELO BOEING; SAAB AINDA É CONCORRENTE
3.(C) Durante outubro e novembro, contatos com funcionários da embaixada e representantes da Boeing foram recebidos com cortesia, mas com pouco interesse real, já que a atenção continuava voltada aos franceses. Nas últimas semanas, contudo, houve uma mudança notável por parte do ministro da Defesa. Começando pela reunião do A/S Valenzuela com Jobim em 14 de dezembro (relatada em telegrama separado), houve interesse renovado pela proposta USG (Governo dos EUA/Boeing. Enquanto Jobim reiterava preocupações com "precedentes negativos" de políticas relativas à transferência de tecnologia de origem americana (na realidade, queixas sobre procedimentos de licenciamento de exportações), ele disse entender que o USG tinha uma abordagem nova e que estava interessado na oferta de cooperação industrial feita pela Boeing. A Boeing fortaleceu seus argumentos, promovendo sua nova iniciativa "Super Hornet Global", pela qual elementos importantes de produção de todos os aviões F/A 18 (incluindo os destinados às Forças Armadas dos EUA) seriam transferidos ao Brasil. Ao globalizar a produção do Super Hornet e incluir o Brasil no processo, a Boeing está em condições não apenas de gerar e manter mais empregos no Brasil, como poderá acalmar a paranoia brasileira com relação teóricas suspensões pelo USG do suprimento de caças, mostrando que qualquer suspensão desse tipo afetaria a Marinha dos EUA também. Em entrevista recente ao jornal Folha de S. Paulo, Jobim tomou o cuidado de não se comprometer, mencionando a "aliança estratégica" com a França mas também observando que custo, transferência de tecnologia e capacidade geral dos aviões são importantes.
4.(C) Ao lado do ressuscitamento das esperanças da Boeing, o Gripen sueco continua a ser um concorrente forte. Conforme notado na ref b, muitos brasileiros o enxergam como alternativa atraente ao Rafale, pelo fato de ter o preço mais baixo. O plano da Saab de co-desenvolver o Gripen de nova geração com o Brasil também lhe valeu apoio na indústria brasileira da aviação, entre aqueles que acreditam que tal desenvolvimento vá reforçar as capacidades locais de design de aeronaves. Jobim, contudo, se mostrou abertamente pouco interessado nos suecos, supostamente em função da capacidade inferior do Gripen e porque a variante "Nova Geração" oferecida ao Brasil ainda não existe. Uma matéria recente na revista Isto É, atribuída a uma fonte da FAB, observou que os programas de desenvolvimento de aeronaves militares geralmente ultrapassam seus prazos e orçamentos, negando a suposta vantagem de preço do Gripen.
5.(C) COMENTÁRIO. Embora o preço alto do Rafale e dúvidas quanto ao desenvolvimento do Gripen possam fazer com que o Super Hornet pareça a escolha óbvia, o fato é que Lula reluta em comprar uma aeronave americana. É possível que o interesse renovado pela oferta do USG não passe de uma artimanha para ganhar alavancagem sobre os franceses ou que a demora em tomar a decisão vise dar tempo à Dassault de encontrar uma maneira de reduzir seu preço. Na visão da Missão, a chance de vencer a concorrência pelo FX2 é real. Sabemos que o Super Hornet recebeu a avaliação técnica mais favorável da FAB e é a opção preferida dos operadores. Conseguimos responder com sucesso à maioria das dúvidas levantadas quanto às políticas de transferência de tecnologia do USG, em especial com a equipe de avaliação técnica. Resta, contudo, o obstáculo temível de convencer Lula. Nossa meta agora deve ser garantir que Jobim tenha um argumento mais forte possível para levar a Lula em janeiro. A Missão recomenda os seguintes passos: B7 Continuar a ressaltar o apoio total do USG em todos os contatos de alto nível com o Brasil. Como a Missão já observou anteriormente, garantias repetidas feitas pelo presidente Obama a Lula no decorrer de seus contatos normais constituem a maneira isolada mais eficaz de transmitir nosso argumento. B7 Usar os contatos iniciais com o embaixador indicado Shannon com a liderança brasileira para argumentar que temos trabalhado arduamente para assegurar que tenhamos a melhor oferta a apresentar. B7 Manter nossa campanha de assuntos públicos, para destacar que não apenas o USG completou sua aprovação da transferência de tecnologia, como a Boeing tem suficiente confiança na oferta para estar preparada para transferir parte da produção (incluindo centenas de empregos) ao Brasil. B7 Coordenar nossas ações com a Boeing de modo a assegurar que as vantagens do programa Super Hornet Global sejam levadas ao conhecimento do Congresso e da mídia brasileiros. KUBISKE
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09/02/2010 10h47
CONFIDENCIAL
ASSUNTO: BRASIL: REUNIÃO DO EMBAIXADOR COM O SECRETÁRIO-GERAL DO MRE, PATRIOTA
CLASSIFICADO POR: Thomas A. Shannon, Embaixador, Estado, Embaixada em Brasília; RAZÃO: 1.4 (B), (D)
1.(SBU) Sumário. Depois de apresentar suas credenciais ao presidente brasileiro Lula (telegrama em separado), o embaixador Shannon se reuniu por mais de uma hora em 4 de fevereiro com o secretário-geral (vice-ministro das Relações Exteriores) Antonio Patriota, tratando do trabalho pela frente no Haiti, o status da compra pelo Brasil do caça FX2, as negociações sobre mudanças climáticas e os esforços do Brasil relativos ao Irã e ao Oriente médio. Fim do sumário.
2.(C) Patriota, que havia solicitado o encontro com o embaixador na noite anterior e tinha assistido à cerimônia de credenciamento do embaixador na condição de vice-chanceler em exercício, parabenizou o embaixador por seu novo posto e ficou satisfeito em ouvir sobre as visitas próximas do secretário da Justiça Holder, da secretária de Estado Clinton e do vice-diretor do NSC Michael Froman. Patriota fez uma revisão das questões bilaterais que aguardam a aprovação de alto nível, incluindo o Acordo de Cooperação na Defesa e os MOUs de gênero, clima e cooperação trilateral propostos pelo GOB (governo brasileiro). Ele fez um apanhado geral da programação ativa de viagens do presidente Lula para os próximos meses, que vai incluir viagens a Cancun, San Salvador, Havana e Porto Príncipe na semana de 22 de fevereiro; para Israel, Palestina e Jordânia em março 15-18, e para o Irã em maio 16-17. Lula também vai em breve reunir ministros da Agricultura africanos, com o objetivo de levar uma mensagem ao G20 em maio.
Haiti: Uma Grande Oportunidade
3.(C) Dando seguimento a uma das declarações feitas pelo presidente Lula anteriormente nesse dia (telegrama em separado), Patriota descreveu o esforço de reconstrução do Haiti como "uma grande oportunidade" para o Brasil e os Estados Unidos. Observando que o presidente Lula passou dez minutos discutindo o Haiti em sua primeira reunião com o presidente Obama no Gabinete Oval, ele disse que os telefonemas trocados pelos dois líderes têm sido úteis para assegurar uma boa comunicação e coordenação. Patriota descreveu o engajamento do presidente Obama com o Haiti como "necessário e importante", acrescentando que "se os Estados Unidos e o Brasil liderarem, outros seguirão". É desnecessário dizer, disse ele, que Estados Unidos e Brasil precisam colaborar estreitamente sobre o Haiti no Conselho de Segurança da ONU, acrescentando que o Brasil concorda que o Minustah trabalhe sob seu mandato atual, por enquanto, e que novas recomendações sejam estudadas à medida que forem apresentadas.
4.(C) Patriota ressaltou que o Haiti está recebendo atenção extraordinária do presidente Lula e de vários outros funcionários seniores do GOB (governo brasileiro), chamando a atenção para a viagem planejada de Lula em 25 de fevereiro. Patriota disse estar satisfeito pelo fato de o ex-presidente Clinton ter sido escolhido pela ONU para liderar a reconstrução e achou que seria positivo ter o envolvimento da presidente chilena Bachelet, depois que ela deixar o cargo. Levando adiante o comentário feito por Lula anteriormente no mesmo dia de que precisamos encontrar uma maneira de evitar ter que escolher entre um governo haitiano corrupto e colocar tanto dinheiro nas mãos de ONGs não haitianas, Patriota falou que Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas e de Administração (Ipea) fez pesquisas recentes sobre o efeito das ONGs sobre o desenvolvimento, pesquisas essas que podem ser úteis para definir uma nova abordagem à reconstrução do Haiti.
FX2: Nenhuma Decisão Tomada
5.(C/NF) Patriota disse que Lula falou ao embaixador francês (que também apresentara suas credenciais) que nenhuma decisão tinha sido tomada sobre a compra dos caças, mas que Lula faria isso "nos próximos meses", depois de convocar uma reunião do Conselho Nacional de Segurança (um organismo que inclui ministros chaves e os presidentes das duas casas do Congresso). O embaixador destacou que a decisão de abrir o acesso do Brasil a todas as tecnologias necessárias reflete uma mudança de paradigma da parte dos Estados Unidos --reflete não apenas confiança no produto da Boeing, mas também confiança no Brasil.
Mudanças Climáticas: Precisamos Avançar
6.(C) Aludindo à ênfase do presidente Lula sobre a necessidade de uma coordenação estreita entre EUA e Brasil na fase que antecede o COP-16 da UNFCCC, Patriota disse que espera que o SECC Todd Stern possa vir ao Brasil em breve. Ele disse que Lula está engajado em levar adiante o que foi feito no comunicado de Copenhague e que, diferentemente de outros países BASIC, ele não vai dar para trás. "Precisamos avançar", disse ele, sugerindo que o vice-presidente do NSC Froman possa reservar tempo para discussões sobre as mudanças climáticas em sua visita próxima.
Irã e Oriente Médio: Uma Agenda de Paz
7.(C) Com relação ao engajamento do Brasil com o Irã, Patriota disse que, sobretudo, o Brasil deseja "evitar um replay do Iraque". Uma desestabilização do Irã seria desastrosa, disse ele, e, enquanto existir uma possibilidade de engajamento diplomático, a comunidade internacional deve tentá-la. Ele disse que o chanceler iraniano Mottaki procurara o chanceler Amorim em Genebra em 29 de janeiro, dizendo que notara flexibilidade por parte da França e dos Estados Unidos. O embaixador disse que o Irã precisa ser tema de um diálogo contínuo entre os Estados Unidos e o Brasil, para evitar mal-entendidos e assegurar a coordenação das mensagens. O embaixador exortou o GOB a agir com grande cautela com relação ao Irã. Disse que atos recentes de repressão, incluindo a execução de manifestantes, são um sinal de coisas que estão por vir e levantou dúvidas quanto à capacidade do governo iraniano de tratar com a comunidade internacional. "A desconfiança é grande", disse Patriota, "e nunca sabemos até que ponto são sinceros" os iranianos, mas "pretendemos continuar a tentar" chegar a uma solução negociada. Patriota observou que Lula pagou um preço político internamente por seu engajamento com o Irã. Ele disse que as críticas feitas a Lula, especialmente por parte de líderes da comunidade judaica do Brasil, atingiram Lula fortemente. Contudo, a mensagem constante de Lula relativa à necessidade de reconhecer o Holocausto conquistou a adesão de alguns dos críticos mais acirrados da visita do presidente iraniano Ahmadinejad, incluindo Claudio Luiz Lottenberg, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, a quem Lula convidou para acompanhá-lo em sua visita a Israel em março. Nessa visita, a primeira de um presidente brasileiro em décadas, Patriota disse que Lula terá "uma agenda de paz".
8.(U) Considerou-se minimizar. SHANNON
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18/02/2010 13h08
CONFIDENCIAL
ASSUNTO: Reunião do embaixador Shannon com ministro da Defesa Jobim
CLASSIFICADO POR: Thomas Shannon, embaixador; RAZÃO: 1.4 1.(C)
1.(C) Durante a visita introdutória do embaixador Shannon, em 5 de fevereiro, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, descreveu o relacionamento bilateral geral de segurança como sendo forte e transparente. Jobim disse que é a favor de ampliar esse relacionamento este ano, primeiro por meio de um Acordo de Cooperação em Defesa (DCA) e depois por meio de um acordo de informação sobre segurança. Ele espera firmar o DCA durante sua viagem proposta a Washington em 23 de fevereiro, se o Ministério das Relações Exteriores o aprovar em tempo.
2.(C) Jobim elogiou a parceria EUA-Brasil no Haiti, particularmente a forte relação de trabalho entre os generais Keen e Peixoto. Ele relatou a visita que fizera ao Haiti duas semanas antes e descreveu a situação como "extremamente frágil". Jobim fez pouco caso dos temores expressos pela Venezuela de uma "invasão americana" do Haiti, dizendo que a proximidade dos Estados Unidos e sua capacidade de transportar grandes volumes de materiais tornam natural que o USG (governo dos EUA) exerça um papel de liderança nos esforços de ajuda emergencial. Em vista da extensão das operações americana e brasileira, Jobim achou que haveria potencial para uma troca de lições aprendidas. Ele destacou a importância de a ONU abordar o futuro do Haiti desde o ponto de vista de "construir" o país, e não simplesmente de fornecer segurança, e disse que a Minustah vai precisar de um mandato aprimorado do Conselho de Segurança da ONU para poder ser eficaz nesse papel. De acordo com Jobim, o Brasil vai fazer mais investimentos no futuro do Haiti, projetos que o embaixador Shannon observou que oferecerão oportunidades adicionais para cooperação.
3.(C) O embaixador Shannon disse que viu a negativa do presidente Lula (e de Jobim) de que uma decisão final tivesse sido tomada na concorrência pelo FX2. Embora a venda tenha sido conduzida como transação comercial, não se deve deixar de levar em conta seu significado para o relacionamento bilateral. As decisões sem precedentes relativas à transferência de tecnologia dos EUA em apoio ao Super Hornet demonstram o alto nível de confiança que o USG deposita em sua parceria com o Brasil. O Brasil, quando tomar sua decisão, deve procurar consolidar e proteger esse avanço importante.
4.(C) O MOD (Ministério da Defesa) apresentou um resumo de questões de segurança na região da América Latina, enfatizando a importância de construir instituições regionais para reduzir os riscos de conflito. Jobim falou de seus esforços para acalmar as tensões entre Colômbia e Equador após o bombardeio pela Colômbia de uma instalação das Farc em território do Equador, em 2008. Contatos entre ministros da Defesa, através do Conselho Sul-Americano de Defesa (SADC), disse ele, tinham sido cruciais para administrar os efeitos colaterais do ataque, servindo como bom teste concreto do valor do SADC. Jobim disse ao embaixador Shannon que o Brasil se ofereceu para monitorar a fronteira entre Colômbia e Equador, como medida para construção de confiança. Ele foi menos otimista quanto à capacidade do Brasil de lidar com a Venezuela e expressou preocupação com a situação doméstica cada vez mais complicada de Chavez. Preocupou-se em voz alta sobre o impacto na Venezuela no caso de Chavez recorrer à repressão violenta de manifestantes. SHANNON
Tradução de Clara Allain
Fontes: Fernando Rodrigues (jornal Folha de S.Paulo) / Folha.com