Paulista radicado em Curitiba, Adilson Kindlemann será o primeiro piloto do país a disputar a radical Red Bull Air Race – a Fórmula 1 da aviação
O paulista Adilson Kindlemann, 36 anos, há 19 morando em Curitiba, coloca o Brasil no radical circuito mundial de corrida com aviõesMenos de um minuto e meio para percorrer entre cinco e seis quilômetros pilotando um avião, a uma velocidade média de 370 km/h. No percurso, cumprir as acrobacias e voos rasantes em pontos pré-determinados. Vencer a força da gravidade e ter movimentos precisos para fazer curvas, piruetas, subir, descer. Rotina para “ases indomáveis” que o piloto acrobata Adilson Kindlemann terá em 2010.
Há menos de um mês, o paulista de 36 anos, radicado em Curitiba há 19, foi confirmado como o primeiro brasileiro a disputar o Red Bull Air Race – único campeonato mundial de corrida de aviões reconhecido pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI), espécie de “Fórmula 1 dos ares”. Desde que recebeu a notícia, Kindlemann viu seu ritmo de vida ganhar velocidade proporcional à que atinge em seus voos. Tudo tão rápido que mal teve tempo de comemorar.
Em dezembro, deixou Curitiba às pressas. Está em Wilkesboro, interior da Carolina do Norte (EUA), onde prepara seu MXS-R (um dos modelos mais modernos de aviões de corrida do mundo, bastante leve e de alta potência) para a oitava temporada da competição, com início previsto para março. “Comecei a me preparar no final de 2006. É um projeto que se concretiza. Começo ter a dimensão do que isso significa. Passo dias trabalhando no avião. Intercalo com entrevistas à imprensa, algo novo para mim”, conta. Ele falou com a reportagem da Gazeta do Povo às 22 h do fuso horário da Carolina do Norte (2 h na madrugada brasileira de ontem).
O garoto que por volta dos seis anos fez em madeira um de seus pequenos aviões de brinquedo hoje espera mostrar suas acrobacias em céu brasileiro. “Tomara que o Rio de Janeiro receba o campeonato este ano. Se em 2007 um milhão de pessoas assistiu, imagina agora, com um brasileiro entre os competidores?”, fala.
Até chegar à lista dos 15 pilotos selecionados, foram três anos de preparação intensa. Em 2007, fez o show acrobático que abriu a etapa brasileira do Air Race. No mesmo ano, inscreveu-se para o Red Bull Air Race Camp, curso preparatório do campeonato criado e patrocinado pela fabricante de bebida energética.
Durante quase dois anos, revezou-se entre a carreira de piloto comercial – tem mais de 11 mil horas de voo – e o treinamento para as corridas, em vários países europeus. Em outubro de 2009, participou da edição classificatória para o campeonato, em Casarrubios (Espanha). Lá, ele e o theco Martin Sonka destacaram-se e ganharam a superlicença, documento exigido para participar das corridas. “É como o piloto de F1 que recebe a autorização para correr. Foi uma sensação de missão cumprida”, conta.
Foi a paixão por voar – “acho que já nasci com isso”, diz – que fez com que deixasse a cidade de Registro (SP) para trabalhar de mecânico no Aeroporto do Bacacheri, em Curitiba, aos 17 anos.
“Uns amigos ligados à aviação da cidade me convidaram, conseguiram esse trabalho e que eu fizesse o curso do Aeroclube do Paraná”. Entre ferramentas e peças de aviões, fez o curso de pilotagem e, mais que voar, começou a arriscar manobras mais arrojadas. Ainda recorda do prazer do primeiro voo, em 1989. “Um primo me deu um voo no Aeroclube de São Paulo. Inesquecível”, resume.
Com a equipe formada por ele, uma coordenadora de equipe brasileira e um mecânico norte-americano, custos bancados pela Red Bull Air Race, Kidlemann espera fazer um bom ano de estreia, mas sem exigir resultados. “Há pilotos muito bons, com três, quatro anos de experiência na prova. Tenho de ser realista e saber que tenho muito a aprender e me preparar para 2011”, diz.
O esporte
Prova com “dribles” a obstáculos
Air Race, literalmente, “corrida no ar”. Criado e patrocinado pela fabricante de bebidas energéticas Red Bull, o campeonato de aviões começou em 2003, em duas etapas, com seis competidores na Áustria e apenas três na Hungria.
Os melhores pilotos do mundo são desafiados a mostrar que são os mais velozes, precisos e hábeis nas manobras aéreas. Vence quem realiza em menor tempo – e com menos faltas – as duas voltas no circuito composto por cinco grupos de obstáculos montados com “air gates” – pilões infláveis que demarcam o traçado. Violações nas regras, como voar muito baixo, tocar nos air gates ou desviar do curso, resultam em perda de tempo ou desclassificação.
Os brasileiros acompanharam de perto o Red Bull Air Race em 2007, quando o Rio de Janeiro recebeu a segunda etapa da competição. Um milhão de pessoas assistiu na Enseada de Botafogo, com vista à Baía de Guanabara, as manobras surpreendentes de 14 concorrentes. Este ano, serão 15 pilotos em busca do título da oitava edição.
A Cidade Maravilhosa pode voltar ao calendário do evento este ano: as negociações estão em andamento. Abu Dhabi, Londres, Barcelona, San Diego e Lisboa são sedes já confirmadas.
O atual sistema de classificação vigora desde 2007: os treinos classificam os 12 melhores pilotos, que seguem para a primeira eliminatória. Destes, oito classificam-se às quartas de final e apenas quatro seguem às semifinais. Dois pilotos disputam a última bateria, que vale o título da etapa. O campeonato é decidido pela soma dos pontos conquistados em cada evento
Fonte: Adriana Brum (Gazeta do Povo) - Foto: Divulgação/Red Bull