Enorme quantidade de espuma tem de ser liberada em pouco tempo nos hangares, que são garagens de aviões (Imagem: Mackenzie Richardson/Força Aérea dos EUA) |
Um incêndio em um hangar, além dos riscos envolvendo as pessoas no local, pode representar um prejuízo milionário para as companhias aéreas. A forma escolhida para combater as chamas também pode aumentar os danos causados, já que nem sempre a água é a melhor solução para isso.
Uma alternativa encontrada pelas empresas para diminuir o impacto causado é usar uma espuma química para combater esses incêndios, similar àquela usada pelos bombeiros quando os aviões fazem pousos de emergência nas pistas. Esse sistema é obrigatório em alguns hangares, dependendo do risco oferecido no uso do local.
Um teste que é feito antes de o local iniciar suas operações e receber aviões consiste no acionamento desse sistema de extinção do fogo, o que preenche o espaço com a espuma química antes de colocar os aviões ali dentro.
Essa tarefa também é feita de maneira periódica, retirando dos hangares todos os aviões e demais objetos de seu interior e acionando os geradores de espuma.
Como funciona?
Com os hangares vazios, esses mecanismos são acionados e um sistema de bombas passa a distribuir uma mistura de água com um líquido gerador de espuma. Esses dois componentes podem variar de acordo com a finalidade de cada um.
Chegando ao hangar, a mistura passa por aeradores, que são similares a um ventilador ou a uma peneira, dependendo do modelo. Nesse momento, ela será transformada em espuma de fato, e irá impedir o contato do fogo com o oxigênio do ar, abafando a chama e, depois, retirando o calor.
Um dos principais usos desse sistema é no combate a incêndios causados por vazamento de combustível, com a espuma se mostrando mais eficiente nesse tipo de situação do que a água. Como ela é leve, tende a ficar acima da superfície que está pegando fogo.
A água é mais densa que o querosene de aviação, por exemplo, e há o risco de ela ficar submersa no combustível e a superfície continuar em chamas.
Por usar menos água que os sistemas convencionais de combate a incêndio, como os chuveiros automáticos, a espuma encharca menos os aviões, melhorando o processo de recuperação após pegarem fogo.
Vantagens da espuma no combate a incêndio:
- Forma uma espécie de colchão sobre o combustível, impedindo o contato com o oxigênio
- Tem melhor capacidade de resfriamento da superfície com menor quantidade de líquido
- Economiza água
- Impede a evaporação de gases inflamáveis
- Mantém uma camada de proteção sobre a superfície, diminuindo a chance de o fogo voltar
Após o seu uso, é necessário esperar algumas horas para que a espuma se dissolva e o líquido possa ser retirado.
Acionamento acidental nos EUA
Um levantamento feito pelo Departamento de Engenharia de Proteção contra Incêndios da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, apontou um elevado número de disparos acidentais do sistema de supressão de chamas à base de espuma naquele país.
Entre 2004 e 2020, foram registrados cerca de 200 incidentes com o acionamento desnecessário desse mecanismo em hangares sem a presença de fogo.
Cada descarga acidental de espuma nos hangares das companhias aéreas e das Forças Armadas dos EUA causou prejuízos de US$ 107 mil (R$ 560 mil) em média.
Teste prático
Em outubro de 2021, a Latam encheu com esse tipo de espuma o hangar do seu Centro de Manutenção de Linha, localizado em Guarulhos (SP). Foi uma operação de rotina, para garantir o adequado funcionamento do sistema, e não havia nenhuma aeronave no local.
O hangar de 5,4 mil m² foi preenchido até a marca de dois metros de altura em três minutos após o acionamento do mecanismo. Ao todo, 14 geradores formaram 11 mil m³ de espuma, o equivalente a pouco mais de quatro piscinas olímpicas.
Para atingir essa marca, o local conta com tanques de um concentrado de espuma de alta expansão além de outro reservatório com capacidade para 180 mil litros de água. As bombas podem ser acionadas com eletricidade ou a partir de um gerador a diesel.
Segundo Marcelo Panagio, gerente de Manutenção da Latam no aeroporto de Guarulhos (SP), os testes são realizados em duas etapas.
"Anualmente, é feita uma coleta do material para acompanhar a qualidade dele e, a cada dois anos, é feito um teste prático, com o isolamento do hangar e o acionamento do sistema. Com isso, é possível acompanhar o funcionamento e o tempo de resposta para situações de emergência", diz Panagio.
Via Alexandre Saconi (Todos a bordo/UOL) - Fontes: Marcelo Panagio, gerente de Manutenção da Latam em Guarulhos, National Fire Protection Association (Associação Nacional de Proteção Contra Incêndios - EUA) e Roberto Pedroso Neto, gerente de Instalações Prediais da Libercon Engenharia
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