terça-feira, 16 de março de 2010

'Não importa que país volte à Lua, desde que voltemos', diz ex-astronauta da Nasa

Para Dan Barry, o principal é que o ser humano não deixe de explorar.

Em visita ao Brasil, ele comentou decisão de Obama de cancelar missão.

Dan Barry durante uma de suas viagens ao espaço

Mesmo que os Estados Unidos não voltem à Lua, o mais importante é que algum país o faça, defende Dan Barry, ex-astronauta da Nasa, a agência espacial norte-americana. Para ele, que participou de três viagens espaciais e fez quatro caminhadas no espaço, a nacionalidade é o que menos importa nessa corrida pela supremacia, desde que o homem consiga retornar ao satélite.

"Não é tão importante que sejam americanos, mas que seres humanos o façam, independentemente da sua nacionalidade", afirmou ao G1, ao comentar a decisão de Barack Obama de cancelar as missões que promoveriam a volta à Lua em 2020. O anúncio, feito em fevereiro, recebeu críticas de outros ex-astronautas.

"Estou decepcionado que a política norte-americana esteja indo no sentido contrário das viagens tripuladas, mas, por outro lado, está tudo bem, porque outros países têm isso como prioridade, a exemplo da China e da Índia", disse Barry, pela primeira vez no Brasil. O objetivo da sua visita é o lançamento, nesta terça (16), de uma parceria acadêmica da Singularity University, onde é professor, com uma faculdade de tecnologia de São Paulo.

Voos comerciais

Em relação à política de Obama de transferir o transporte espacial para empresas comerciais, que já levam turistas aos espaço, Barry não a considera um problema. No caso da Lua e de Marte, porém, ele é categórico: "O governo é que deveria ir até a Lua e Marte, porque nenhuma companhia fará isso."

"Assim como foi a Nasa que desenvolveu a tecnologia para viabilizar os voos na órbita terrestre para só então a indústria comercial assumir, acho que agora deveríamos fazer o mesmo para a Lua e Marte."

Dan Barry faz uma caminhada no espaço

Viagens

Aos 57 anos, Barry conta que cada uma das suas três viagens espaciais teve um aspecto único. "A viagem em si já é uma experiência incrível. E, quando você viaja, as coisas que considera importantes mudam."

O primeiro voo, em 1996, diz, foi mais contemplativo. "A viagem durou nove dias e fiz uma caminhada no espaço de 6 horas e 9 minutos", relembra. "Pude admirar a beleza da Terra e vivenciar a experiência de flutuar sem gravidade. Comecei a entender como era viver naquele ambiente."

O segundo voo, mais complexo, envolveu a conexão com a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). "Soube como era realmente voar no espaço e ser capaz de nos movimentarmos de uma maneira que as pessoas não tinham sido capazes de fazer antes." A viagem levou dez dias e ele caminhou no espaço por 7 horas e 55 minutos.

Quando fez a sua terceira viagem, em 2001, que também incluiu uma visita à estação espacial, havia pessoas morando lá. "Antes, tínhamos ido numa espaçonave que vazia. E, na última viagem, deu para perceber bem a diferença entre visitar a casa de alguém e visitar o lar de alguém." Na ocasião, foram duas caminhadas no espaço, num total de 11 horas e 45 minutos.

Ao espaço, Barry conta que embarcou com poucos pertences pessoais. "Levei coisas que representavam a minha família, como fotografias e um escudo que minha filha ganhara em uma competição esportiva, além de alguns itens especiais da minha esposa e do meu filho."

O ex-astronauta agora dá aulas sobre robótica e inteligência artificial

Sala de aula

Para a sala de aula na Singularity University, onde ensina robótica e inteligência artificial, ele garante levar mais do que o conhecimento de um ex-astronauta experiente.

"Ir para o espaço era um sonho que eu tinha desde que consigo me lembrar. Mas uma das coisas sobre ter o seu sonho realizado é que isso vira uma obrigação em ajudar outros a conquistarem os seus sonhos. É dessa maneira que eu vejo o papel de ensinar", afirmou.

"Ou seja, se você quer ser médico ou artista, a mensagem que eu trago é que é possível fazer isso, mesmo que, ao longo da sua vida, muitas pessoas lhe digam o contrário. Acho que essa mensagem é mais ampla do que simplesmente falar sobre o espaço ou a robótica."

Fonte: Fernanda Calgaro (G1) - Fotos: Divulgação/Singularity University

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