Em visita ao Brasil, ele comentou decisão de Obama de cancelar missão.
Dan Barry durante uma de suas viagens ao espaço
Mesmo que os Estados Unidos não voltem à Lua, o mais importante é que algum país o faça, defende Dan Barry, ex-astronauta da Nasa, a agência espacial norte-americana. Para ele, que participou de três viagens espaciais e fez quatro caminhadas no espaço, a nacionalidade é o que menos importa nessa corrida pela supremacia, desde que o homem consiga retornar ao satélite.
"Não é tão importante que sejam americanos, mas que seres humanos o façam, independentemente da sua nacionalidade", afirmou ao G1, ao comentar a decisão de Barack Obama de cancelar as missões que promoveriam a volta à Lua em 2020. O anúncio, feito em fevereiro, recebeu críticas de outros ex-astronautas.
"Estou decepcionado que a política norte-americana esteja indo no sentido contrário das viagens tripuladas, mas, por outro lado, está tudo bem, porque outros países têm isso como prioridade, a exemplo da China e da Índia", disse Barry, pela primeira vez no Brasil. O objetivo da sua visita é o lançamento, nesta terça (16), de uma parceria acadêmica da Singularity University, onde é professor, com uma faculdade de tecnologia de São Paulo.
Voos comerciais
Em relação à política de Obama de transferir o transporte espacial para empresas comerciais, que já levam turistas aos espaço, Barry não a considera um problema. No caso da Lua e de Marte, porém, ele é categórico: "O governo é que deveria ir até a Lua e Marte, porque nenhuma companhia fará isso."
"Assim como foi a Nasa que desenvolveu a tecnologia para viabilizar os voos na órbita terrestre para só então a indústria comercial assumir, acho que agora deveríamos fazer o mesmo para a Lua e Marte."
Viagens
Aos 57 anos, Barry conta que cada uma das suas três viagens espaciais teve um aspecto único. "A viagem em si já é uma experiência incrível. E, quando você viaja, as coisas que considera importantes mudam."
O primeiro voo, em 1996, diz, foi mais contemplativo. "A viagem durou nove dias e fiz uma caminhada no espaço de 6 horas e 9 minutos", relembra. "Pude admirar a beleza da Terra e vivenciar a experiência de flutuar sem gravidade. Comecei a entender como era viver naquele ambiente."
O segundo voo, mais complexo, envolveu a conexão com a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). "Soube como era realmente voar no espaço e ser capaz de nos movimentarmos de uma maneira que as pessoas não tinham sido capazes de fazer antes." A viagem levou dez dias e ele caminhou no espaço por 7 horas e 55 minutos.
Quando fez a sua terceira viagem, em 2001, que também incluiu uma visita à estação espacial, havia pessoas morando lá. "Antes, tínhamos ido numa espaçonave que vazia. E, na última viagem, deu para perceber bem a diferença entre visitar a casa de alguém e visitar o lar de alguém." Na ocasião, foram duas caminhadas no espaço, num total de 11 horas e 45 minutos.
Ao espaço, Barry conta que embarcou com poucos pertences pessoais. "Levei coisas que representavam a minha família, como fotografias e um escudo que minha filha ganhara em uma competição esportiva, além de alguns itens especiais da minha esposa e do meu filho."
Sala de aula
Para a sala de aula na Singularity University, onde ensina robótica e inteligência artificial, ele garante levar mais do que o conhecimento de um ex-astronauta experiente.
"Ir para o espaço era um sonho que eu tinha desde que consigo me lembrar. Mas uma das coisas sobre ter o seu sonho realizado é que isso vira uma obrigação em ajudar outros a conquistarem os seus sonhos. É dessa maneira que eu vejo o papel de ensinar", afirmou.
"Ou seja, se você quer ser médico ou artista, a mensagem que eu trago é que é possível fazer isso, mesmo que, ao longo da sua vida, muitas pessoas lhe digam o contrário. Acho que essa mensagem é mais ampla do que simplesmente falar sobre o espaço ou a robótica."
Fonte: Fernanda Calgaro (G1) - Fotos: Divulgação/Singularity University
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