quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Piloto de testes da Embraer voou até a Bolívia usando só uma bússola

Nos anos 70, comandante Cará fez 1ª entrega internacional da empresa.

'Hoje, avião pousa e freia sozinho', diz o piloto sobre evolução tecnológica.


Comandante Cará testa aeronaves da Embraer há três décadas e meia

Aos 19 anos, em meados dos anos 70, o jovem Guilherme de Miranda Cará recebeu uma missão: fazer a primeira entrega de aeronave vendida pela Embraer no exterior. Tratava-se de um avião de pequeno porte, para uso agrícola. Saindo de São José dos Campos (SP), o piloto que tinha cerca de um ano de empresa levou cinco dias para chegar a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia.

Para guiar-se no caminho, valeu-se do único equipamento para este fim disponível no avião: uma bússola. "A cada 15 minutos, achava que estava perdido", lembra Cará, que há quase 35 anos testa as aeronaves que saem da linha de produção da Embraer. Para guiar-se e saber onde estava, o jovem piloto voava baixo e identificava o nome das cidades escrito nos telhados das estações de trem. E voltava a confiar na bússola para chegar ao destino.

Hoje "vovô" da equipe de 30 pilotos de teste da fabricante de aeronaves – além de ser um dos poucos cinquentões da equipe, é o mais velho na empresa, onde iniciou atividades em 1975, aos 18 anos –, Cará viu a evolução tecnológica dos produtos da Embraer em primeira mão. Não só testou as aeronaves depois de prontas como também sugeriu mudanças para garantir a segurança de pilotos e passageiros.

Histórias para contar

Em três décadas e meia de trabalho, viveu boas aventuras e colecionou histórias para contar. Viajou o mundo fazendo tours para fazer demonstrações e garantir pedidos de aviões da Embraer, cruzou 26 vezes o Oceano Atlântico em voos de demonstração para aviões militares e participou dos “voos inaugurais” de mais de 20 modelos lançados pela empresa, contabilizando um total de 15 mil horas no ar.

Aos que pensam que fazer voos de teste é algo fácil, o comandante Cará lembra que, para que um avião seja realmente testado e possa ser entregue aos clientes, a máquina precisa ser posta à prova dentro das piores condições possíveis. Ou seja: manobras que não serão necessariamente feitas após a venda precisam ser realizadas para garantir que a máquina seja capaz de responder em caso de emergência.

Dentre as aeronaves que voou, o piloto diz que as que garantem maior emoção para o piloto são as militares. Ele tem boas lembranças da aeronave militar Tucano. "Foi um programa com o qual eu me identifiquei bastante", lembra, dizendo que testar avião militar requere um treinamento específico, em condições de conforto reduzido. Mas, segundo Cará, essas aeronaves permitem que se o piloto faça manobras arrojadas, para testar a potência da máquina.

Comandante Cará, ao lado do avião Phenon 300, que testou nesta terça-feira

Evolução tecnológica

Para o comandante, a evolução tecnológica faz a vida dos pilotos atualmente ser muito mais fácil do que há 30 anos. "Hoje, o avião pousa sozinho e freia sozinho", diz ele, referindo-se à “família” de jatos comerciais 170. Como tudo é quase automático, basta que o comandante de cada aeronave seja um "excelente administrador" do que a tecnologia oferece.

Cará ainda dá expediente diário na Embraer e diz que os pilotos de teste participam ativamente do desenvolvimento das aeronaves, ao lado dos engenheiros. Além de participar de reuniões de produção, o comandante continua a testar os aviões da empresa. Na tarde desta terça-feira (18), véspera do aniversário de 40 anos da Embraer, fez o voo inaugural de uma aeronave executiva Phenom 300 a ser entregue em breve. "Continuo com a mão na massa.”

Fonte: Fernando Scheller (G1) - Fotos: Roosevelt Cassio (G1)

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