Antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, a inteligência dos EUA havia previsto um ataque devastador que mobilizaria rapidamente o vasto poder aéreo russo para dominar os céus da Ucrânia. Mas os primeiros seis dias confundiram essas expectativas e, em vez disso, apresentaram Moscou agindo muito mais delicadamente com seu poder aéreo, tanto que as autoridades dos EUA não conseguem explicar exatamente o que impulsiona o aparente comportamento adverso ao risco da Rússia.
— Eles não estão necessariamente dispostos a correr grandes riscos com seus próprios aviões e pilotos — disse um alto funcionário de Defesa dos EUA, falando sob condição de anonimato.
Vastamente superada pelos militares da Rússia, em termos de números brutos e poder de fogo, a própria Força Aérea da Ucrânia ainda está voando, e suas defesas aéreas ainda são consideradas viáveis — um fato que desconcerta os especialistas militares.
No início da guerra, em 24 de fevereiro, os analistas esperavam que os militares russos tentassem destruir imediatamente a Força Aérea e as defesas aéreas da Ucrânia. Esse teria sido "o próximo passo lógico e amplamente antecipado, como visto em quase todos os conflitos militares desde 1938", escreveu o think-tank Rusi, em Londres, em um artigo chamado "O misterioso caso da Força Aérea Russa desaparecida".
Por sua vez, os caças da Força Aérea ucraniana ainda estão realizando missões defensivas de contra-ataque e ataque ao solo, e as tropas ucranianas com foguetes terra-ar são capazes de ameaçar aeronaves russas e criar riscos para os pilotos russos que tentam apoiar as forças terrestres.
— Há muitas coisas que eles estão fazendo que são desconcertantes — disse Rob Lee, especialista militar russo do Instituto de Pesquisa de Política Externa.
A confusão sobre como a Rússia vem usando sua Força Aérea ocorre enquanto o governo do presidente Joe Biden rejeita pedidos de Kiev por uma zona de exclusão aérea, que poderia levar os EUA diretamente a um conflito com a Rússia, cujos planos futuros para sua Força Aérea não são claros.
Especialistas militares viram evidências de falta de coordenação da Força Aérea russa com as formações de tropas terrestres, com várias colunas de soldados enviadas além do alcance de sua própria cobertura de defesa aérea.
Isso deixa os soldados russos vulneráveis a ataques de forças ucranianas, incluindo aqueles com drones turcos e mísseis antitanque americanos e britânicos.
David Deptula, general aposentado de três estrelas da Força Aérea dos EUA que já comandou a zona de exclusão aérea no Norte do Iraque, disse estar surpreso que a Rússia não tenha trabalhado mais para estabelecer o domínio aéreo desde o início.
— Os russos estão descobrindo que coordenar operações de vários domínios não é fácil — disse Deptula à Reuters. — E que eles não são tão bons quanto pensavam ser.
Enquanto o desempenho dos russos está abaixo do esperado, os militares da Ucrânia têm superado as expectativas até agora.
A experiência da Ucrânia nos últimos oito anos de combates com forças separatistas apoiadas pela Rússia no Leste foi dominada por uma guerra de trincheiras estática no estilo da Primeira Guerra Mundial.
Em contraste, as forças russas adquiriram experiência de combate na Síria, onde intervieram ao lado do ditador Bashar al-Assad, e demonstraram alguma capacidade de sincronizar manobras terrestres com ataques aéreos e de drones.
A capacidade da Ucrânia de continuar voando jatos da Força Aérea é uma demonstração visível da resiliência do país diante de um ataque e tem sido um impulsionador do moral, tanto para seus próprios militares quanto para o povo ucraniano, dizem especialistas.
Também levou à mitificação da Força Aérea ucraniana, incluindo um rumor sobre um caça a jato ucraniano, apelidado on-line como "O Fantasma de Kiev", que supostamente derrubou seis aeronaves russas. Mas uma reportagem da Reuters mostrou como um clipe do videogame Digital Combat Simulator foi legendado on-line para aparentar ser um caça ucraniano real derrubando um avião russo.
Os EUA estimam que a Rússia esteja usando pouco mais de 75 aeronaves em sua invasão da Ucrânia, disse o alto funcionário dos EUA.
Antes da invasão, as autoridades estimavam que a Rússia havia potencialmente preparado centenas dos milhares de aeronaves de sua Força Aérea para a missão na Ucrânia. No entanto, o alto funcionário dos EUA se recusou a estimar quantos aviões de combate russos, incluindo helicópteros de ataque, ainda podem estar disponíveis.
Certo é que ambos os lados estão tendo perdas.
— Temos indicações de que eles perderam algumas aeronaves, mas os ucranianos também perderam — disse o funcionário.
Via O Globo
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