O ramo dos jatos privados quase não foi afetado com a pandemia, ao contrário do seu equivalente comercial. Na verdade, algumas empresas privadas de aviação tiveram um aumento na procura. Os fabricantes estão a desenvolver novos conceitos, como a cabine com varanda “Explorer”, da Lufthansa Technik, para satisfazer os passageiros de elite, mostrada na imagem acima.
Um helicóptero com bancos vegan, um jato privado com terraço e garagem e os planos de um proprietário de um hotel para abrir discotecas a 10,600 metros de altitude. Estes três conceitos foram apresentados no Dubai Airshow, juntamente com muitos outros, concebidos para atrair viajantes VIP de volta ao céu.
Apesar de o ramo da aviação estar entre os mais afetados pela pandemia global e das críticas em relação ao seu papel na crise climática, a procura por parte da elite não parece diminuir.
A Lufthansa Technik, especialista em remodelações de aviões e empresa-irmã da companhia aérea alemã, quer criar um jato privado que proporciona a mesma experiência que um super iate, levando os proprietários a qualquer lugar, a qualquer hora, ao mesmo tempo que proporciona o conforto de um hotel cinco estrelas e de um acampamento base para atividades de lazer.
No Airshow, apresentou o seu conceito de cabine Explorer, para um Airbus A300 de corpo largo, que inclui um terraço retrátil (que só se abre quando o avião está parado), quatro quartos duplos, um ginásio e uma garagem.
O conceito “Explorer” inclui uma porta de carga de grandes dimensões que, ao ser aberta após a aterragem, revela um terraço inspirado num super iate |
“Tivemos a ideia de criar um avião que parece um hotel voador. Assim, os hóspedes que fretarem o avião podem fazer uma viagem à volta do mundo em duas semanas”, disse Wieland Timm, diretor de vendas de aeronaves de luxo e de missões especiais na Lufthansa Technik. Segundo ele, seria uma opção para viajar de forma luxuosa, mais depressa do que num super iate, permitindo que os passageiros visitem diferentes partes do mundo em poucas horas.
Mas este serviço tem um preço elevado. A Lufthansa Technik estima que custaria 100 milhões de euros (110 milhões de dólares) para instalar a cabine num Airbus A330, de 60 metros de comprimento, para além do custo da aeronave, que, normalmente, está listada acima dos 230 milhões de dólares. “É um investimento muito grande”, afirma Timm.
Graças à mais recente tecnologia de projeção, o teto da cabine pode iluminar-se com conteúdo virtual a pedido do convidado, podendo, por exemplo, replicar o céu |
Outra opção talvez mais acessível seria a opção de “hotel voador”, apresentada pela FIVE, um grupo imobiliário com sede no Dubai, que gere uma cadeia de hotéis e resorts de luxo na cidade. Durante o Airshow, adquiriu um Airbus ACJ TwoTwenty, que o pretende utilizar para levar hóspedes a todo o mundo, a partir de 2023.
Antes disso, irá remodelar o avião de 73 metros quadrados, incluindo uma mesa de jantar para oito passageiros e uma cozinha, onde será servida a comida gourmet dos melhores restaurantes do Dubai. Os DJ do hotel atuarão a bordo e há uma suite com uma cama king size para quem quiser uma noite antecipada.
O boom dos jatos privados
Estes conceitos estão a tirar partido da procura crescente por jatos de luxo. Durante a pandemia, enquanto a aviação comercial estava em crise, os turistas abastados que queriam evitar aviões lotados, ou a incerteza dos voos comerciais, viraram-se para os jatos privados. Por exemplo, a companhia de aviação privada FlyEliteJets, com sede na Flórida, reportou um aumento de 150% nas reservas, desde o início da covid-19, e a operadora de jatos privados VistaJet registou um aumento de 65% na procura de horas de voo globais, através das suas marcas, desde março passado.
De acordo com o fabricante de aeronaves norte-americano, Honeywell Aviation, as vendas de jatos privados também aumentaram, com os fabricantes a reportarem um forte aumento nas encomendas desde o início da pandemia. A empresa prevê até 7400 novas entregas de jatos comerciais, no valor de 238 mil milhões de dólares na próxima década.
“O negócio da aviação provou ser flexível e fiável e dispõe de fortes medidas de segurança, que foram aplicadas durante a pandemia", diz Timothy Hawes, diretor-geral da Tarsus Middle East, que organizou o Dubai Airshow 2021.
O evento, que foi o primeiro grande encontro do ramoda aviação desde a covid-19, aumentou a confiança por toda a indústria, disse Hawes à CNN. Apesar da apreensão sobre o volume de negócios que iria gerar, Hawes disse que foram assegurados, ou anunciados, mais de 78 mil milhões de dólares em negócios durante o evento de cinco dias, que atraiu mais de 100 mil visitantes.
"Foi uma excelente oportunidade para as pessoas se reunirem pessoalmente, algo que não tiveram oportunidade de fazer durante os últimos 20 meses", disse Hawes. "O Dubai Airshow foi de facto o ponto fulcral pelo qual todos esperavam no ramo".
Os jatos de luxo geraram muito interesse aos visitantes, disse Hawes. Entre as 175 aeronaves expostas durante o evento, representando todos os setores, desde o comercial ao militar, estava o helicóptero vegan da Airbus Corporate Helicopters.
Os estofos em pele vegan, desenhados a pedido dos super ricos, estiveram em exibição no Airshow |
A empresa equipou o interior do seu modelo de luxo mais recente, o ACH145, com Ultraleather, um material sintético que imita o verdadeiro, a pedido dos clientes abastados, Urs e Daniela Brunner. De acordo com a Airbus, isto foi feito para ir de encontro aos seus valores éticos de Daniela, cuja marca de moda Giulia & Romeo não utiliza produtos animais e doa os lucros a instituições de bem-estar animal.
Custo ambiental
No entanto, este aumento de procura por jatos privados ocorre apesar da preocupação com o seu impacto desproporcional nas alterações climáticas. De acordo com o grupo de campanhas pelos transportes limpos, Transport & Environment, os jatos privados emitem até 14 vezes mais dióxido de carbono por passageiro do que os voos comerciais.
Não se sabe quais seriam as emissões por passageiro para o conceito Explorer, da Lufthansa Technik. Normalmente, o Airbus A330 transporta mais de 250 passageiros, mas o Explorer foi concebido para 12 passageiros VIP, embora os seus criadores digam que podem desenvolver outras variantes que possam transportar até 47.
Timm admite que para ter uma "pegada ecológica" não faria sentido voar com tão poucas pessoas, mas diz que "aquelas pessoas que o querem fazer, fá-lo-ão".
Ele acrescenta que alguns clientes VIP estão a tomar medidas para serem mais amigos do ambiente, por exemplo, pedindo para ser utilizado material reciclável na cabine e solicitando novos tipos de aviões que sejam mais eficientes em termos de combustível ou que tenham menos motores.
Mas, no fundo, o conforto, a segurança e a privacidade estão no topo da sua lista de prioridades, diz Timm, e enquanto houver procura, as companhias aéreas e os fabricantes continuarão a satisfazê-la.
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