Não é só panela velha que faz comida boa. Boeing velho da Vasp também. Quase uma década após o último voo da companhia aérea, em 2005, quatro aviões da empresa viraram utensílios de cozinha. Foram derretidos para dar origem a panelas industriais.
Dos últimos 28 aviões da falida Viação Aérea São Paulo vendidos em leilão para quitar dívidas com credores, dez foram picotados e oferecidos como sucata. O resto pode virar restaurante, boate ou playground. Um deles deve até voltar a funcionar.
É o caso do Boeing-737/200 prefixo PP SMH, que pousou pela última vez em Brasília no dia 15 de janeiro de 2005. No início deste ano, após 25 dias de viagem por terra, ele chegou a Itapejara D'Oeste (a 360 km de Curitiba).
É lá que fica a fazenda do piloto Eloy Biesuz, 60, dono da empresa de táxi-aéreo Helisul. E é lá, no topo de um morro, onde já repousa a aeronave, que ele pretende religá-la. "O Boeing não vai mais voar, mas tudo vai funcionar para a criançada", diz.
Pai de quatro filhos e avô de um menino, ele diz que os mais novos brincam no avião (foto acima). "Eles fingem morar lá dentro, fazem uma bagunça", conta.
Aficionado por aviação, Biesuz planeja construir um platô, onde o Boeing poderá se mover. Para a inauguração, ainda sem data, pretende convidar a tripulação do último voo. O que não será tão difícil de acontecer, porque o empresário tem o nome de toda a equipe. A informação ficou anotada no livro de bordo, deixado no interior do avião.
Biesuz comprou três aeronaves da Vasp. A mais cara (R$ 175 mil) foi a que está em sua fazenda (ele gastou R$ 400 mil no transporte da estrutura de 30 metros de comprimento e quatro de altura). Hoje, um Boeing 737/700, o mais simples da empresa, sai por R$ 207 milhões.
Outra ele doou ao aeroporto de Viracopos, em Campinas, para treinamento dos bombeiros. A terceira foi para uma escola de aviação em São José dos Pinhais (PR).
No cardápio
Quando o avião não é derretido –como fez José Dirceu Gordilho Júnior, 36, dono de uma fundição que vendeu o alumínio de três Boeing e um Airbus a fábricas de panelas em Sorocaba e Cubatão–, os planos são quase sempre transformá-lo em negócio (fotos acima).
É pensando também nas crianças que Mario Valadares, 56, quer fazer de seu Boeing (foto abaixo) um playground no estacionamento de seu shopping em Contagem (MG). Empresários de Brasília, São Luís (MA) e Belo Horizonte (MG) querem montar restaurantes dentro das carcaças. Em Mossoró (RN), o interior será usado como boate.
Já nas cidades de Nanuque (MG), Urutaí (GO) e Petrolina (PE), as aeronaves devem ficar expostas ao lado de bares e restaurantes, segundo seus donos. Rio de Janeiro ou São Paulo pode ganhar um bar.
Enquanto a maioria dos projetos ainda está no papel, alguns já se dedicam a restaurar as aeronaves. Em uma chácara de Araraquara (SP), o piloto Edinei Capistrano da Silva, 60, está reformando um cargueiro para transformá-lo em um espaço de eventos.
Comprador de dois aviões, ele não descarta aumentar sua coleção. "Se eu tiver oportunidade, quem sabe compro outro." Os da Vasp, porém, já encontraram um dono –mesmo que em cima de um fogão.
Fontes: Estevão Bertoni (Folha de S.Paulo) - Fotos: Reprodução
Nenhum comentário:
Postar um comentário