sábado, 17 de julho de 2010

Cresce mercado de helicópteros em BH, mas aeronaves não têm onde estacionar

Frota é 30% maior que há seis anos, mas locais de pousos e decolagens continua o mesmo

Em Belo Horizonte, encontrar uma vaga para estacionar não é um desafio apenas para os motoristas de carro. Sobre os prédios, a busca por uma vaga também é concorrida pelos 61 helicópteros que atualmente movimentam os céus da capital mineira. O problema é que a quantidade de helipontos não acompanha o crescimento do mercado de helicópteros. Minas Gerais já possui 124 aeronaves, 30% a mais que em 2004. Mas, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o número de locais para pousos e decolagens continua o mesmo.

Além dos aeroportos da Pampulha, Confins e Carlos Prates, apenas nove helipontos estão registrados pela Anac – os mesmos de seis anos atrás. Para os pilotos das aeronaves, a carência pode comprometer a expansão do mercado aéreo e prejudicar a Copa do Mundo de 2014.

A cidade de São Paulo reúne o maior o número de helicópteros do mundo. Cerca de 450 equipamentos e 270 helipontos impulsionam o transporte de passageiros, compostos em grande parte por empresários dispostos a fugir do trânsito caótico. A média é de 1,6 aeronave para cada heliporto. Na capital mineira, o índice de 6,7 evidencia o déficit, segundo Rogério Parra, professor do curso de Ciências Aeronáuticas da Universidade Fumec.

- Minas conta com a terceira frota do Brasil, mas estamos muito atrás dos paulistas em relação a esse tipo de infraestrutura. A situação chega a ser um problema, pois executivos vêm a BH fechar negócios e não conseguem descer na região central, se deslocando aos aeroportos.

O especialista também critica a postura dos hotéis que, de acordo com ele, deveriam ter privilegiado o segmento.

- Como vamos sediar uma Copa se os melhores estabelecimentos da nossa rede hoteleira sequer oferecem o serviço? O fluxo de turistas que nós iremos receber será significativo.

Empresas de olho nos táxis aéreos

A Anac autoriza as operações em helipontos após o cumprimento de normas de segurança relativa à dimensão, piso, elevação, barreiras físicas e coordenadas geográficas.

Se irregularidades forem encontradas, o projeto é interditado. A legislação aceita eventuais pousos em locais não autorizados, como campos de futebol, lotes e áreas abertas, mediante comprovação da sua finalidade

De olho nas oportunidades e lacunas do mercado, a empresa Helit, atuante na manutenção helicópteros, vai oferecer o serviço de taxi-aéreo e inaugurar, no ano que vem, um heliporto, segundo William Carlos de Andrade, sócio e diretor da Helit.

- Construiremos salas de reuniões, salas vip de embarque e desembarque. Os clientes terão também a opção de abastecer e guardar as aeronaves nos hangares.

Para Andrade, a população está começando a se familiarizar com o transporte aéreo. A aposta da empresa se justifica. Na última década, a frota nacional cresceu 58,6% e 1.255 helicópteros voam pelo país. Somente a fabricante Helibras, cujas instalações são em Itajubá (Região Sul do Estado), comercializou 24 aeronaves no Brasil neste ano, quase o dobro do vendido em 2009.

O desenvolvimento econômico, os eventos esportivos de renome e a exploração de petróleo nas plataformas intensificaram a procura por pilotos. A remuneração também atrai – ela oscila entre R$ 4.500 e R$ 20 mil, segundo Marcos Freire.

Graduado em Administração, Freire trocou o escritório pela “liberdade do cockpit”. Ele é um dos alunos da Escola de Pilotagem (Efai).

Faltam investimentos e interesse no mercado

O único heliponto público da capital – com registro na Anac – situa-se no Palácio das Mangabeiras. Porém, o comandante Luiz Henrique Oliveira, 32 anos, instrutor e chefe de operações da Escola de Pilotagem (Efai), lembra que utilizar a residência oficial do governador é incomum.

- A não ser em caso de extrema urgência, nenhum civil vai pousar no palácio. Então, os pilotos precisam de uma autorização dos proprietários das demais áreas, que pode, ou não, ser fornecida. Precisamos de investimentos públicos e privados.

Na análise do piloto da Polícia Civil Carlos Vítor, 41, o cenário reflete a cultura do empresariado mineiro.

- No momento em que o item de luxo se transformar em necessidade, as pessoas perceberão que o tempo delas vale muito. E o custo-benefício de um voo é excelente no raio de 200 quilômetros.

O trecho Belo Horizonte-Ipatinga, no Vale do Aço, temido pelos condutores de automóveis por causa das curvas da BR-381, por exemplo, não passa de 45 minutos. O aluguel de um equipamento varia de R$ 2 mil a R$ 5 mil a hora, dependendo do modelo e quantidade de assentos.

Apaixonado por helicópteros e acostumado à rotina das alturas, o empresário Rômulo Rocha afirma que as dimensões da cidade e a fluidez do trânsito inibem o interesse por esse mercado.
- Não há praticidade igual. As únicas desvantagens são a pressão nos ouvidos e a limitação de carga.

Rocha estipula que um equipamento custe R$ 535 mil (US$ 300 mil), preço mínimo de um modelo considerado bom.

Apesar de o empresário esperar que a cidade conte com um heliponto moderno até 2014, o Departamento de Obras Públicas do Estado (Deop-MG) confirma que, exceto no Hospital de Pronto-Socorro João XXII (HPS), não há previsão de novos helipontos públicos.

Nem a remodelação do estádio Mineirão prevê a instalação de um local para pousos e decolagens. Já a Anac informou que quatro estruturas aguardam a liberação para construção e registro.

Fonte: Felipe Torres (Hoje em Dia/R7) - Foto: Getty Images

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