sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Um ano depois da tragédia na Espanha nada mudou

O ministro espanhol do Fomento, José Blanco, considera que o trágico acidente de Agosto de 2008 podia ter sido evitado com mais medidas de segurança. Espanha quer aproveitar a sua próxima presidência da União Europeia, no primeiro semestre de 2010, para avançar com as recomendações propostas pela comissão de investigação do acidente

No dia exacto do primeiro aniversário do acidente no aeroporto madrileno celebrou-se uma missa privada no Terminal 2 de Barajas e foi instalada uma placa comemorativa, junto a um olival plantado em memória das vítimas. Alguns familiares depositaram flores no local exacto do acidente. Em Las Palmas, Canárias, também foi celebrada uma cerimónia religiosa.

Na passada quinta-feira cumpriu-se um ano do acidente do avião MD-82 de Spanair em Barajas, em que perderam a vida 154 pessoas. Um voo com destino a Las Palmas (Canárias) que descolou com uma hora e meia de atraso e só conseguiu percorrer uns quilómetros e levantar 12 metros antes de cair e ficar destruído Os 18 sobreviventes da tragédia, alguns deles ainda com feridas graves, não conseguiram refazer as suas vidas. Ficaram famílias brutalmente desaparecidas, vidas completamente desfeitas.

À falta do resultado definitivo do inquérito, o Ministério do Fomento publicou esta semana um segundo texto com a resposta a muitas incógnitas sobre o acidente. A comissão responsável da investigação (ainda aberta) deverá publicar um terceiro texto definitivo, sem data prevista. O que parece estar já esclarecido é a causa da queda do avião: os flaps e os slats das asas não estavam na posição correcta. Mas porque isto aconteceu? Segundo o inquérito, o piloto e o co-piloto não comprovaram as luzes de flaps/slats depois de porem a funcionar os motores, possivelmente porque estavam atrasados (o avião teve que voltar da pista de descolagem por causa de um problema) e o seu desejo era cumprir o melhor possível o horário. Mas também o método de segurança do avião teve falhas porque não avisou os pilotos que não existia a configuração adequada para descolar, o chamado sistema Tows. Uma das lacunas do inquérito está em descobrir as causas da grave falha. Em Agosto de 1987 ocorreu um acidente similar em Detroit com um MD-82 da companhia Northweste Airlaines, em que morreram outras 154 pessoas. McDonnell Douglas recomenda desde então comprovar o Tows antes de cada voo. A 29 de Outubro de 2008 a Agência Europeia de Segurança Aérea emitiu uma directiva em que obriga a comprovar o tal sistema. Tarde de mais para o voo de Spanair.

Enquanto continua a investigação, as famílias das vítimas e os sobreviventes tentam superar a tragédia como podem, mas não é fácil. Até agora, por cada vítima, a Spanair adiantou aos familiares 25 mil euros, uma parte dos aproximadamente cem mil euros que o Acordo de Montreal de aviação civil marcou como limite. Aqueles que tiveram a sorte de sobreviver ao acidente lutam dia a dia para ultrapassar os danos físicos e psicológicos. Alguns continuam de um hospital a outro (há quem tenha feito já oito operações) e ninguém conseguiu voltar ao trabalho. Algumas famílias desapareceram de uma vez só e outras ficaram reduzidas a um ou dois membros.

Os mortos não voltarão mas merecem saber que a sua vida serviu para melhorar alguma coisa, pelo menos para mudar as regras de segurança nos aeroportos com o objectivo de evitar sucedidos similares. Por agora, um ano depois, Barajas ainda não implementou todas as melhoras previstas. Porquê esperar? 154 mortos é razão mais do que suficiente para mudar.

Fonte: Belén Rodrigo, correspondente do 'ABC' via Diário de Notícias (Portugal) - Foto: STR-EPA

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