É o caso, por exemplo, do projeto Gripen NG, da empresa sueca Saab, que concorre na licitação aberta pelo governo brasileiro para a compra de 36 aviões de caça.
Para ganhar a licitação, que envolve bilhões de reais, a Suécia vai insistir no argumento de que, para ser uma potência respeitada, o Brasil precisa ter domínio sobre a tecnologia militar. E isso será assegurado com o desenvolvimento em parceria do Gripen NG. Os suecos prometem partilhar todo o conhecimento que já têm com o Brasil. Acenam até com autonomia, no futuro, para que o nosso país produza e exporte o avião para outros países. Os escandinavos insinuam que, com os franceses e os americanos, concorrentes na licitação da Força Aérea Brasileira (FAB), o Brasil não terá tanta facilidade para absorver tecnologia.
Enfim, é com a esperança de convencer o presidente Lula e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que a direção da Saab desembarca mais uma vez no Brasil, na próxima semana. Dessa vez, integrando uma grande comitiva de 35 empresários suecos que acompanhará o rei Carl Gustaf e a rainha Silvia na visita oficial ao Brasil, entre 23 e 26 de março.
Expectativa
A Suécia está preocupada com a preferência declarada de Lula pelo avião francês, o Rafale. Há grande expectativa pelo resultado da licitação, que ainda não tem data certa para ser divulgado. O anúncio é esperado para abril, já que todas as etapas foram cumpridas. Os suecos pretendem insistir, como ponto a favor, na proposta de financiamento integral do projeto. O Rafale tem componentes produzidos pela Saab e também pelos americanos.
Olho para os investimentos
Outra preocupação dos suecos é com o preço e o fornecimento do etanol brasileiro. A Suécia é a maior consumidora do biocombustíveis na Europa e vem importando menos do Brasil, por causa principalmente das oscilações da produção e, consequentemente, do preço. As montadoras de veículos Volvo e a Scania têm interesse direto no assunto, porque investem na produção de ônibus movidos a etanol. Depois do Brasil e da Letônia, a Suécia é o país que mais usa o álcool combustível no mundo.
A agenda dos empresários que acompanham o casal real prevê também uma visita à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), onde examinarão as dificuldades para a liberação de novos produtos suecos no mercado brasileiro.
O fato de ter se mantido neutra nas guerras mundiais ajudou a Suécia a conseguir uma das maiores taxas de crescimento econômico do mundo entre 1870 e 1970. No século 19, o país escandinavo já esteve entre os mais pobres da Europa. Depois de 100 anos, atingiu o maior PIB per capita do mundo. Antes uma economia fundamentalmente agrícola, tornou-se referência em indústria de ponta e desenvolvimento de tecnologias.
Hoje, a Suécia tem centenas de multinacionais espalhadas pelo mundo, muitas delas atuando no Brasil, como a Ericsson, no setor de telecomunicações. O interesse das empresas suecas pelo Brasil aumentou ainda mais depois que o país foi escolhido para sede da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. O crescimento nos últimos anos e o impacto relativamente ligeiro da crise econômica internacional, em 2008 e 2009, são fatores que reforçam o potencial brasileiro.
Fonte: Samanta Sallum (Correio Braziliense)