quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Aeroporto tem taxa mais cara do mundo, mas só cobra de africanos e indianos

Aeroporto internacional San Óscar Arnulfo Romero y Galdámez, em El Salvador: País cobrará
R$ 5.550 de africanos e indianos em trânsito no aeroporto (Imagem: Cepa/El Salvador)
El Salvador anunciou em outubro o início de uma cobrança considerada polêmica para viajantes em trânsito no aeroporto internacional San Óscar Arnulfo Romero y Galdámez.

Passageiros da Índia e dos países da África terão de pagar uma taxa de US$ 1.000 somada a 13% de impostos (cerca de R$ 5.500) em voos de trânsito pelo aeroporto, que vem sendo considerada a taxa extra mais cara do mundo para uma operação regular.

Qual razão?


Medida afetará passageiros de 55 países (veja a lista abaixo). De acordo com a Cepa (Comissão Executiva Portuária Autônoma) de El Salvador, a cobrança é uma taxa de melhoria para o local.

Objetivo é o de "prestar um serviço de primeira classe a todos os usuários e passageiros que circulam pelo terminal aéreo", de acordo com a comissão. O governo aponta que há um aumento no número de passageiros que entram, saem e fazem escala no aeroporto nos últimos anos, o que justifica a implementação da taxa para arcar com as despesas de ampliação e modernização do aeroporto.

Apenas passageiros em trânsito no aeroporto serão cobrados. Em nota, a Cepa ainda informou que o país da América Central é um local de conexão com mais de 30 destinos em 14 países.

Companhias aéreas como Avianca já efetuam a cobrança, feita na emissão da passagem. Empresa permite que passageiro seja reembolsado caso desista de viajar por não concordar em pagar a taxa.

Migração para os EUA seria motivo


Aeroporto internacional San Óscar Arnulfo Romero y Galdámez, em El Salvador (Imagem: Cepa/El Salvador)
Embora não esteja explícito, acredita-se que a medida foi tomada pelo governo de El Salvador para frear a migração para os EUA. O país é uma das rotas de estrangeiros que tentam se estabelecer nos EUA.

Uma das rotas é via Nicarágua. Muitos passageiros fazem uma escala em El Salvador antes de seguir para o país vizinho, de onde costumam partir para os Estados Unidos devido às normas de exigência de visto serem consideradas mais fáceis de serem cumpridas.

Encontro em outubro buscou barrar a migração irregular. Brian A. Nichols, secretário adjunto para assuntos do Hemisfério Ocidental dos EUA, visitou El Salvador em outubro, onde se encontrou com o presidente salvadorenho Nayib Bukele. A pauta da reunião foi o fluxo de pessoas de outros países para os Estados Unidos a partir do país da América Central.

Medida é considerada como racismo. A organização de mídia African Stream questionou por qual motivo apenas africanos e indianos estão sendo cobrados, ao mesmo tempo que não foi divulgado um registro formal no aumento do número de passageiros desses países.

A entidade ainda diz em suas redes sociais que El Salvador se uniu à corrida pela afrofobia. Termo é definido como aversão e discriminação à África e aos africanos.

Com a cobrança antes mesmo do voo, viagens de pessoas dos países listados acaba desmotivada. Antes de efetuar o voo, as companhias aéreas têm de repassar as informações para o governo de El Salvador, incluindo origem, destino, nacionalidade e se as taxas são pagas.

Há tantos voos assim para os EUA?


Aeroporto internacional San Óscar Arnulfo Romero y Galdámez, em El Salvador: País cobrará
R$ 5.550 de africanos e indianos em trânsito no aeroporto (Imagem: Cepa/El Salvador)
El Salvador não está nem entre os 10 países com mais voos para os EUA em 2023. Segundo a OAG, provedora de dados e consultoria aeronáutica britânica, são eles:
  1. México: 22.894.853 assentos e 138.125 voos no ano
  2. Canadá: 17.803.565 assentos e 159.539 voos no ano
  3. Reino Unido: 13.029.561 assentos e 48.725 voos no ano
  4. Porto Rico: 6.674.813 assentos e 36.217 voos no ano
  5. Alemanha: 6.285.931 assentos e 21.712 voos no ano
  6. República Dominicana: 5.498.304 assentos e 30.978 voos no ano
  7. França: 5.238.295 assentos e 18.429 voos no ano
  8. Japão: 4.925.584 assentos e 19.770 voos no ano
  9. Países Baixos (Holanda): 3.442.568 assentos e 12.058 voos no ano
  10. Colômbia: 3.076.780 assentos e 17.633 voos no ano
  11. Jamaica: 3.044.114 assentos e 17.164 voos no ano
  12. Coreia do Sul: 3.036.922 assentos e 9.636 voos no ano
  13. Brasil: 2.888.087 assentos e 10.630 voos no ano
El Salvador registra 10.447 voos em 2023 e 1.208.195 de assentos disponibilizados segundo a OAG.

Aumento no fluxo de africanos para a América Central por via aérea é observado. Segundo Organização Internacional para as Migrações, órgão ligado à ONU (Organização das Nações Unidas), a quantidade de migrantes para a região que abandonaram a via terrestre e passaram a chegar de avião teve um aumento nos últimos tempos. Esses dados não se referem exclusivamente a El Salvador, mas a toda região.

Nacionalidades cobradas


Projeto de modernização do aeroporto internacional San Óscar Arnulfo Romero y Galdámez,
em El Salvador (Imagem: Cepa/El Salvador)
Veja a lista de países de onde passageiros com aquela nacionalidade terão de pagar a taxa extra:

Índia, África do Sul, Angola, Argélia, Benin, Botsuana, Burkina Faso, Burundi, Cabo Verde, Camarões, Chade, Comores, Costa do Marfim, Djibouti, Egito, Eritréia, Essuatíni, Etiópia, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Lesoto, Libéria, Líbia, Madagascar, Malaui, Mali, Marrocos, Mauricio, Mauritânia, Moçambique, Namíbia, Níger, Nigeria, Quênia, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, República do Congo, Ruanda, São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa, Seychelles, Somália, Sudão, Sudão do Sul, Tanzânia, Togo, Tunísia, Uganda, Zâmbia e Zimbabue.

* A companhia Avianca informa em seu site que passageiros de Somalilândia e Saara Ocidental também serão cobrados pela taxa de melhoria aeroportuária

Via Alexandre Saconi (Todos a Bordo/UOL)

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