Pela primeira vez desde o desaparecimento misterioso do Boeing MH370 da Malaysia Airlines, há quase 10 anos, um tribunal de Pequim começou, nesta segunda-feira (27), as audiências com as famílias das vítimas que pedem que as buscas pelo avião sejam reabertas. Cerca de 239 pessoas viajavam no Boeing 777 da Malaysia Airlines que desapareceu em 8 de março de 2014, e mais de 150 passageiros eram chineses.
O Tribunal Popular de Chaoyang, em Pequim, vai analisar os casos de cerca de 40 membros das famílias das vítimas chinesas. As audiências serão realizadas individualmente e têm o objetivo de tentar obter a retomada do atendimento psicológico aos familiares dos desaparecidos, a reforma de um órgão de ligação entre a empresa e as famílias e, sobretudo, indenizações.
A companhia aérea da Malásia, o construtor americano Boeing, a britânica Rolls-Royce que fabricou os motores e a seguradora alemã Allianz são alvo da denúncia, mas estarão ausentes do banco de acusados.
Há 10 anos, o destino do aparelho e dos passageiros permanece um mistério, por isso a responsabilidade sobre o caso é difícil de ser estabelecida. Como a Malaysian Airlines não possui ativos na China, ainda que o tribunal estabeleça uma indenização a ser paga, a empresa pode recusar.
Durante nove anos, a Justiça promoveu a reconciliação entre as partes e mais da metade dos casos foram resolvidos diretamente entre a companhia aérea, as seguradoras e as famílias.
Retomada das buscas
Paralelamente às primeiras audiências, familiares das vítimas chinesas publicaram na segunda-feira uma carta aberta ao primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, na qual pediam a retomada das buscas.
"As famílias querem fazer buscas pelo MH370 por conta própria" e estão dispostas a "investir o seu próprio dinheiro ou cooperar com pessoas e empresas competentes", sublinha o texto.
Eles propõem que todos os custos sejam de sua responsabilidade, desde que nada seja encontrado. O mesmo método foi aplicado em 2018 durante um acordo entre a Malásia e a empresa privada americana Ocean Infinity, que retomou a busca para encontrar o MH370, numa nova área de aproximadamente 25 mil km2, sem sucesso.
Perto do Tribunal Distrital de Chaoyang, vários parentes à beira das lágrimas seguravam folhas de papel nas quais estava escrito "Retomar a busca".
O filho, a nora e a neta de Bao Lanfang, de 71 anos, estavam no avião. O marido dela morreu este ano. "Não me importo com compensação financeira. O que quero é a verdade da Malaysia Airlines", disse ela à imprensa. "Quero que retomem as buscas, a investigação e os encontros presenciais com as famílias."
Questionados pela AFP, o Ministério dos Transportes da Malásia e a Malaysia Airlines recusaram comentar a abertura da audiência em Pequim.
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, disse nesta segunda-feira que Pequim "atribui grande importância ao trabalho de acompanhamento" do caso MH370 e "espera que todas as partes continuem a manter uma comunicação estreita".
Indenizações
Cada família exige entre 10 e 80 milhões de yuans (Entre 7 e 53 milhões de reais), bem como indemnizações por danos morais de 30 a 40 milhões de yuans (Entre 20 e 27 milhões de reais), informou o canal de tevê chinês CCTV.
As famílias de mais de 110 outros passageiros já chegaram a acordos e obtiveram entre 2,5 e 3 milhões de yuans no total (Entre 1,7 e 2 milhões de reais), segundo a mesma fonte.
"Depois de dez anos, a audiência está finalmente aberta no tribunal. Para nós, é muito reconfortante e é uma reviravolta", disse Jiang Hui, cuja mãe estava a bordo do voo MH370, à imprensa.
Ela ressalta "a deterioração das condições de vida" de muitas famílias, privadas do apoio econômico da pessoa desaparecida.
Hu Xiufang, que tinha três familiares a bordo do avião, disse que não "queria chegar a um acordo" com as autoridades malaias. "Às vezes viver é pior do que estar morta. Mas não posso morrer. Tenho que trazer meus entes queridos para casa. Esta é a minha missão", disse ela, chorando.
Desaparecimento misterioso
Em 8 de março de 2014, o avião que voava de Kuala Lumpur para Pequim desapareceu. Embora alguns destroços que pareciam pertencer a ele tenham sido posteriormente recuperados no Oceano Índico, nenhum vestígio das 239 pessoas a bordo, principalmente chinesas, foi encontrado.
A investigação marítima pela aeronave, a mais importante da história, foi interrompida em janeiro de 2017. As causas do desaparecimento - o maior mistério da aviação civil moderna - deram margem a diversas especulações.
Diferentes teorias como suicídio do piloto, acidente no mar ou lançamento de míssil foram apresentadas ao longo dos anos para tentar o caso, descrito como "quase inconcebível" pelos investigadores australianos que coordenaram as primeiras buscas.
Muitos dos parentes das vítimas acusam a companhia aérea e a Malásia de ocultar informações, o que os envolvidos contestam.
Via UOL / RFI / AFP
Nenhum comentário:
Postar um comentário