segunda-feira, 31 de maio de 2010

Para especialistas, radar pode ter enganado o piloto do voo 447

Mas o que teria acontecido dentro da cabine de comando de voo 447, momentos antes da queda?

O Fantástico apresenta, com exclusividade, uma investigação profunda e detalhada. Foram entrevistados pilotos de grande experiência, meteorologistas, engenheiros de aviação, peritos. Todos especialistas altamente qualificados, em busca de respostas, um ano depois.



Destroços revelam pistas

1h35 de 1 de junho 2009. O voo 447 da Air France, vindo do Rio de Janeiro com destino a Paris, faz seu último contato por rádio e desaparece. O avião airbus 330200 é um dos mais modernos do mundo. Cinco dias depois, destroços são encontrados no Atlântico. Entre passageiros e tripulação, os mortos chegam a 228, sendo 59 brasileiros. Ninguém foi capaz de encontrar uma explicação completa para a tragédia até hoje.

Um ano depois, as equipes de resgate ainda não recuperaram as caixas pretas do airbus perdidas no fundo do mar. Só de posse delas, os investigadores franceses serão capazes de saber o que realmente derrubou o vôo 447.

Mas um grupo formado por alguns dos maiores especialistas em aviação civil do mundo reuniu as informações disponíveis e revelam o resultado de uma investigação surpreendente.

Para o inglês Tony Cable, veterano que participou das investigações como a da queda do Concorde da Air France em Paris e o atentado que derrubou um jumbo da Panam na Escócia. Para ele, as duas primeiras hipóteses a se considerar são atentado a bomba e quebra estrutural da aeronave em pleno voo.

O americano Jim Wilde que comandou a investigação do acidente com o avião da TWA, que explodiu no ar próximo a Nova York em 1996. “Mesmo com a pequena quantidade de peças recuperadas, é possível tirar conclusões”, diz ele.

O bico do Airbus ficou totalmente achatado, um claro sinal do forte impacto com a água. No assoalho do compartimento de carga há uma curvatura, uma prova de que o avião voava paralelo ao mar e que a força da água vinha debaixo. Conclusão: o avião da Air France estava intacto e caiu de barriga sobre a água.

Tempestade tropical

Mas se não houve explosão, o que aconteceu? Aviões modernos como o airbus são totalmente computadorizados. Mesmo que o comandante perdesse o controle, o piloto automático seria capaz de salvar a aeronave. Em um voo a 11 mil metros de altitude, 99% do tempo quem está no controle é o computador.

Naquela madrugada, o airbus da Air France estava em piloto automático sobre o Atlântico. O último diálogo da tripulação com o controle de tráfego aéreo foi à 1h35. Aí surge o mistério. O Airbus continua enviar via satélite mensagens automáticas de posicionamento. Essas mensagens servem, entre outras coisas, para que a companhia aérea saiba se o avião está no horário ou atrasado. A última mensagem foi enviada às 2h10, a 110 quilômetros da posição onde os destroços foram encontrados.

Naquele momento, o voo 447 estava de frente para uma gigantesca tempestade tropical de 400 quilômetros de largura. Mas por que pilotos experientes voariam de encontro a uma tempestade? Não fariam, a não ser por engano.

As nuvens que estavam no céu naquele momento chegavam a 15 mil metros de altitude, mas na escuridão da madrugada, elas só eram visíveis por meio do radar de bordo. Diversos voos daquela noite desviaram da tempestade. O voo 447 fez apenas uma pequena correção de rota.

Uma das hipóteses é que os pilotos tenham sido enganados pelo radar: as imagens mostravam na frente das nuvens gigantes, uma tempestade pequena. O radar pode ter sido bloqueado pela tempestade menor e os pilotos foram incapazes de enxergar a ameaça que estava por trás e aí já era tarde demais. Apenas quatro minutos depois, todas as 228 pessoas a bordo estavam mortas.

Piloto automático desligado

Nos minutos finais, o airbus enviou dezenas de mensagens para a central da Air France em Paris. A primeira delas mostrava que o piloto automático estava desligado. Neste momento, um alarme na cabine de comando avisa o piloto que ele precisa assumir o comando. E então vem a mensagem final: a aeronave em queda.

Por que o computador de bordo desligou o piloto automático?

02h11. Uma mensagem acusa falha geral nos tubos de pitot, Isso significa que o computador de bordo perdeu seu principal parâmetro, a medição de velocidade. Esses tubos são uma espécie de velocímetro dos aviões, eles medem a pressão do ar. Por garantia, cada avião tem três tubos de pitot. No Air France, os três falharam.

Para um tubo de pitot falhar, basta que ele seja tapado. No ar, a única coisa que pode ter tapado o tubo é o gelo. Para evitar que isso aconteça, os tubos são mantidos por permanente aquecimento. Naquela madrugada, a temperadura das nuvens era de -40°C, uma temperatura mais alta do que o normal a 35 mil pés.

Nessas condições é possível acontecer um fenômeno raro chamado sobrefusão da água. Isso acontece quando a temperatura da água é baixa o suficiente para se transformar em gelo mas permanece líquida. Para os especialistas, os tubos de pitot foram atingidos por água em sobrefusão de dentro das nuvens e pararam de funcionar.

Desde 2006, em 36 ocasiões, o fenômeno aconteceu com aviões airbus. Em 2007, o fabricante recomendou a troca dos tubos. A Air France estava prestes a substituir o equipamento daquela aeronave.

Diante da emergência, o computador de bordo desligou o piloto automático e os pilotos se viram obrigados a assumir o controle.

Túnel de vento

Aviões são capazes de voar dentro de túneis de vento desde que a velocidade de cruzeiro seja suficiente para garantir sustentação. A velocidades menores, o avião não consegue se sustentar. Segundo os especialistas, foi isso que provocou a queda acelerada do voo 447. Com os tubos de pitot congelados, os pilotos não tinham como saber a que velocidade estavam viajando.

Mas seria possível ter evitado a tragédia?

Os pilotos reduziram a velocidade da aeronave quando se depararam com a tempestade no radar e se prepararam para a turbulência. Quando os tubos de pitot falham, os pilotos ficaram sem referência de velocidade. Assumindo o controle manual, o piloto acerta a velocidade e ajusta o nariz do avião. A tempestade passa. É possível manter velocidade e sustentação, evitando a queda, mesmo com pane nos três tubos de pitot.

Para um especialista, o piloto do voo 447 pode ter sido sobrecarregado pelo excesso de mensagens de erro e alarmes em um pequeno intervalo de tempo. Mesmo em queda livre, ainda seria possível retomar o controle do avião, mas para isso seriam necessárias habilidades próprias de pilotos militares.

O voo 447 caiu paralelo à água, isso indica que os pilotos franceses, provavelmente, estavam muito perto de conseguir retormar o controle da aeronave.

*O documentário ‘Lost: The Mystery of Flight 447’, produzido pela Endemol, não pode ser exibido na internet por motivos contratuais.

Fonte: Fantástico (TV Globo)

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