terça-feira, 19 de janeiro de 2010

EUA ocupam palácio presidencial do Haiti

Tropas americanas desembarcaram na sede do governo haitiano em helicópteros. Parte dos soldados seguiu para um hospital lotado de vítimas do terremoto da semana passada

PALÁCIO EM RUÍNAS
Militares americanos desembarcam no palácio do governo do Haiti, na capital Porto Príncipe. Maior parte da população recebeu bem a ajuda estrangeira, mas parte dos haitianos está desconfiada da atuação americana, assim como os governos de Brasil e França

Os protestos do Brasil e da França acerca da intensa presença dos Estados Unidos no Haiti depois do terremoto da semana passada e o envio de novas tropas da ONU para o país caribenho parecem não ter efeito nenhum sobre o impulso americano de comandar a reconstrução haitiana. Na tarde desta terça-feira (19), militares americanos desembarcaram no palácio do governo do Haiti, uma ação com efeito potencialmente negativo para a coordenação da ajuda.

De acordo com os primeiros relatos, cerca de 100 militares americanos chegaram em helicópteros ao palácio, que foi parcialmente destruído no tremor. O jornal americano The New York Times, que considerou a movimentação “símbolo da crescente presença militar americana”, afirmou que aparentemente os soldados estavam estabelecendo uma posição no palácio.

Segundo a agência de notícias France Presse (AFP), cerca de 100 militares se dirigiram a um hospital que fica nas proximidades do palácio e que está repleto de feridos. “Estamos aqui para dar segurança ao hospital. Trabalhamos com o governo do Haiti. Temos regras de engajamento, mas estamos em um missão humanitária”, disse à AFP o sargento Bill Smith, que comandava as tropas.

Segundo a agência, a maior parte dos haitianos recebeu bem a ajuda internacional, mas alguns estão incomodados com a intensidade da presença americana. “É uma ocupação. O palácio é nosso poder, nossa face, nosso orgulho”, disse o haitiano Feodor Desanges à AFP. Os correspondentes do canal de TV americano CNN também registraram a frustração de haitianos, que dizem não precisar de mais militares, mas sim de ajuda.

A disputa entre Brasil, Estados Unidos e França ganhou destaque nesta terça-feira (19) na revista alemã Der Spiegel, que publicou em seu site um artigo intitulado “Haiti se torna colônia novamente”. Segundo a revista, os três países disputam a “predominância” no Haiti, que viu suas precárias instituições esfaceladas pelo terremoto.

A Spiegel cita o controle americano do aeroporto como o caso mais claro da disputa. Para desembarcar suas tropas, os EUA desviaram para a República Dominicana aviões da França, da ONG Médicos Sem Fronteira e do Programa Mundial de Alimentos, da ONU. Bernard Kouchner, o ministro das Relações Exteriores da França, chegou a afirmar que os EUA tinham “anexado” o aeroporto.

O jornal O Globo fez uma análise completa do artigo e os blogueiros de ÉPOCA Paulo Moreira Leite e Guilherme Fiuza opinaram sobre a polêmica que envolve Brasil e Estados Unidos.

A possibilidade de um incidente diplomático na reconstrução do Haiti fez com que o presidente Lula e o presidente dos EUA, Barack Obama, criassem uma espécie de “linha de comunicação informal” para coordenar as operações dos militares dos dois países. Antes, uma conferência que envolveu a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e o chanceler Celso Amorim, além de representantes da ONU e da Organização dos Estados Americanos (OEA), decidiu que a ONU e o governo do Haiti farão a coordenação dos trabalhos, enquanto os EUA cuidarão da ajuda humanitária e o Brasil da segurança do país.

Fonte: Época - Foto: Gregory Bull (AP)

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