quinta-feira, 25 de maio de 2023

Tênis, fralda e toalha: novos indícios apontam que crianças perdidas após queda de avião na Amazônia podem estar vivas

Principal hipótese é que elas saíram do acidente com vida, sem ferimentos graves e que estão perdidas na selva há 23 dias.

Novas indícios apontam que crianças perdidas após queda de avião na Amazônia podem estar vivas (Fotos: Divulgação/Fuerzas Militares de Colombia)
As autoridades e os indígenas envolvidos na busca pelas quatro crianças desaparecidas após a queda do avião em uma área de selva na Colômbia encontraram novos vestígios de que elas teriam sobrevivido ao incidente e estariam perdidas na mata há 23 dias. Segundo o Exército local, nas últimas horas, foram encontrados, em dois lugares diferentes, fraldas, um acessório para celular, uma toalha e um par de tênis. Os itens surgiram a cerca de 600 metros do local onde caiu o avião, no qual viajavam os quatro menores com a mãe, outro adulto que os acompanhava e o piloto.

As forças especiais que tentam o resgate entraram na selva há 17 dias, na fronteira entre Caquetá e Guaviare, onde a busca é difícil devido à escuridão da selva — lá não se enxerga a mais de 20 metros de distância, e os raios de sol mal chegam através da árvores. Os militares e uma mulher Nukak, um povo indígena que vive na selva tropical, encontraram os sapatos, que, pelo tamanho, seriam de um menino de quatro anos — os irmãos têm 11 meses, 4, 9 e 13 anos.

Em outro lugar, 428 metros a noroeste do local do acidente, eles encontraram outros vestígios. Devido ao desgaste das coisas que encontraram, o exército acredita que as crianças estiveram naquele local entre 3 e 8 de maio, ou seja, nos dias seguintes à queda do avião, que reportou uma falha de motor no dia 1°, três semanas atrás. Estas constatações reforçam a ideia de que as crianças sobreviveram ao incidente e que o fizeram sem ferimentos graves, uma vez que não foram encontrados vestígios de sangue nas imediações.

“Isso encoraja o esforço titânico da Operação Esperança, onde mais de 350 colombianos, incluindo instituições estatais, população civil e comunidades, usam todas as suas capacidades tecnológicas, conhecimentos e experiências para desafiar o impossível e trazer de volta as quatro crianças”, afirmaram representantes do Exército.

Os rastreadores também encontraram um abrigo construído com galhos, onde havia uma tesoura, um prendedor de cabelo e uma maçã mordida. Na segunda-feira, o general Pedro Sánchez, comandante das forças especiais do Exército Nacional, disse que era iminente sua aparição.

“Segundo os rastreadores, tanto das nossas tropas como de Don Manuel, pai dos dois rapazes e padrasto das duas meninas, disseram-nos que as pistas são muito frescas, de 24 a 48 horas. Em toda aquela área voaram helicópteros", explicou o general.

As crianças embarcaram no dia 1º de maio em um Cessna 206, o avião leve mais popular em voos locais por ser pequeno, resistente e poder pousar em pistas curtas. Eles saíram de Araracuara e iam para San José del Guaviare, capital da região. Mas no meio do caminho, quando sobrevoavam Caquetá, sobre o rio Apaporis, em plena selva amazônica, o piloto comunicou pelo rádio uma falha no motor.

Ele nunca mais se comunicou com a torre de controle. A hipótese mais plausível é que eles perderam altura e caíram. Nada se ouviu da aeronave por 15 dias, até que no dia 16 foi encontrada junto com os três cadáveres dos adultos, mas sem os menores. No dia seguinte, o presidente Gustavo Petro anunciou que os quatro haviam sido encontrados sãos e salvos. A notícia chocou o país imediatamente.

O presidente apurou junto ao Bem-Estar Familiar, instituição encarregada de garantir os direitos dos menores, que eles haviam sido encontrados e que estavam sendo transferidos rio acima para o posto de comando das autoridades. Com as horas, as crianças não apareciam. A informação acabou sendo desmentida. Petro teve que dizer no Twitter que havia sido mal interpretado e que lamentava o erro, mas que a busca continuava e era a prioridade de toda a nação.

O mesmo avião que caiu já havia caído em 2021. Não houve mortes, mas foi destruído. O aparelho foi consertado sem consultar o fabricante, porque a restauração era mais barata. O avião foi fabricado em 1982, nos Estados Unidos, e chegou à Colômbia em 2019. Um mecânico aeronáutico consultado por este jornal afirma que nunca deveria ter voado naquelas condições.

A Amazônia colombiana compreende 42% da geografia de todo o país. Encontrar alguém nesse vasto território é uma missão quase impossível. Mover-se entre as cidades também é muito difícil e muitas vezes arrisca sua vida. Não há aeroportos, nem pistas de táxi aéreo, apenas pistas não marcadas com trechos irregulares de asfalto, terra e cascalho. Especialistas consideram que é urgente investir em infraestrutura nesses lugares remotos, que muitas vezes só podem ser alcançados por via aérea ou fluvial.

Nesta área da Colômbia existem cerca de 40 pequenas empresas que operam como táxis aéreos. Não são voos comerciais, mas fretados. Em geral, são aeronaves precárias, cuja autonomia de voo é de seis horas. Nos últimos cinco anos, houve 16 acidentes aéreos que deixaram 11 mortos. Catorze desses acidentes foram Cessnas monomotores, como aquele em que as crianças e a mãe viajavam.

Via El Pais e O Globo

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