terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Radiografia do caos aéreo (Editorial)

O setor aéreo brasileiro chegou a um ponto em que o caos é previsto em função do calendário, sem que possa ser evitado.

Em crise latente, devido a uma série de fatores — em que se destacam aeroportos sem instalações e infraestrutura à altura da demanda de passageiros e companhias —, a atividade se transformou numa desgastante loteria para milhões de passageiros: é muito difícil tirar a sorte grande de sair e chegar no horário, principalmente nos períodos de aumento do tráfego, como agora, nas festas de fim de ano.

Tornou-se norma o “mau tempo” frequentar notas oficiais e supostas explicações dadas pelas empresas toda vez que os saguões ficam lotados. Mas, como a meteorologia não pode justificar a frequência com que voos previstos e devidamente comprados pelos usuários não decolam, é curioso observar nos aeroportos que o “mau tempo” alegado por uma companhia para explicar seus atrasos não impede que aviões da concorrente continuem chegando e saindo.

As razões da crise vão muito além de eventuais chuvas e trovoadas. E as mais importantes delas estão à vista de todos, nestes dias em que, mais uma vez, aviões transitam sem qualquer compromisso com o relógio

Ontem, as previsões da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de atrasos de no máximo 18% dos voos estavam superadas às 13h, quando quase 19% das partidas não haviam ocorrido como programadas. Apenas no Galeão, 24,6% das decolagens para trajetos domésticos estavam, àquela altura, com estouros de mais de meia hora.

Em entrevista ao GLOBO, o brigadeiro Adyr da Silva, ex-presidente da estatal Infraero (1995-98), deu números básicos da crise: os aeroportos comportam o movimento de 115 milhões de passageiros/ano, mas tem passado pelos portões de embarque e desembarque algo na faixa dos 150 milhões de pessoas.

Se a estatal não tivesse ficado prisioneira de nomeações fisiológicas do governo Lula, o país poderia ter escapado da necessidade de correr contra o tempo para não passar vergonha de 2013 — quando haverá a Copa das Confederações, antessala da Copa do Mundo do ano seguinte — a 2016, nas Olimpíadas do Rio.

Mas a questão não se resume a obras. Mesmo que a ultimamente esforçada Anac tente enquadrar empresas, o regime de duopólio dividido entre TAM e Gol desfavorece o usuário, vítima constante de equipes de atendimento em terra desinformadas e mal treinadas.

Deve ser entendida como resultado da baixa concorrência no setor a constatação de que apenas um terço das reclamações feitas por passageiros nos juizados em aeroportos tenha resultado em acordo entre as partes.

O brigadeiro Adyr está certo quando diz que o grande problema na Infraero é de gestão. Mas não apenas na estatal. É o que demonstra a frequência com que tripulações, no meio da jornada de trabalho, completam o limite de horas voadas.

Da conjugação de incúria governamental, ao impedir, por cacoete ideológico, que a iniciativa privada explorasse terminais, com erros de administração nas companhias aéreas resulta o atual caos. E haverá outros.

Devidamente enquadrados pela Justiça trabalhista, por ser o transporte aéreo atividade essencial, os sindicatos parecem ser o menor dos problemas.

Fonte: O Globo

Um comentário:

Fred Mesquita disse...

Acho que brasileiro tem memória curta mesmo... Quem não se lembra da época do DAC? Na época, tinha ou alguma vez teve caos aéreo no Brasil? Claro que não. A Infraero era um braço forta e totalmente aliado às mão da FAB, e funcionava. A infraestrutura de engenharia de construção e ampliação de aeroportos ficava por conta dos bons engenheiros e projetistas da FAB. Tudo funcionava as mil maravilhas. Foram mudar... deu no que deu. Agora vamos chorar o leite derramado. Quantas saudades eu tenho da época do DAC. Quantas saudades...