quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Nenê Constantino, dono da Gol, é acusado de mandar matar líder comunitário

Dono da Gol Linhas Aéreas e do grupo Planeta de transportes urbanos, o empresário Constantino de Oliveira, 77 anos (na foto durante a agressão ao repórter fotográfico Alan Marques, da Folha em 26/10/2007), é acusado de mandar matar um líder comunitário no Distrito Federal. Detalhes do crime e da investigação foram divulgados na tarde dessa quarta-feira (10/12), em entrevista coletiva na sede da Polícia Civil do DF.

Mais conhecido como Nenê Constantino, 77 anos, o empresário foi indiciado como mandante da morte de Márcio Leonardo de Sousa Brito. Ele foi executado com três tiros em 12 de outubro de 2001. Na época, tinha 27 anos e liderava os ocupantes de um terreno na QI 25 de Taguatinga Norte, onde funcionou uma garagem de ônibus do grupo Planeta.

Constantino, segundo a investigação, mandou matar Márcio para intimidar os demais ocupantes do lote. Cerca de 100 pessoas moravam no terreno há quase 10 anos. As famílias haviam comprado os lotes de um ex-empregado do grupo Planeta, que teria ganho autorização de Constatino de morar de favor em um barraco. Mas logo o funcionário começou a vender as frações da garagem desocupada.

Além de Constantino, foram indiciados por homicídio qualificado os motoristas aposentados João Alcides Miranda , 61 anos, e Vanderlei Batista Silva, 67. Esse último hoje é vereador em Amaralina (GO). Ele, de acordo com a delegada Mabel Faria, da Divisão de Homicídios, foi quem contratou um pistoleiro para assassinar Márcio.

Arma ilegal

Vanderlei havia sido preso por policiais militares cerca de seis meses antes da morte do líder comunitário. Na ocasião, o motorista aposentado foi flagrado com uma arma ilegal no meio da ocupação da QI 25, na companhia de Constantino, para quem trabalhava como segurança, segundo a delegada.

Já João Miranda, de acordo com a investigação, havia se infiltrado no meio dos invasores, passando a morar em um barraco do terreno, a mando de Constantino. O dono da Gol teria incumbido Miranda de levantar quem era o líder da comunidade e a rotina dele. A partir de então, houve dois incêndios criminosos no local e várias ameaças de morte contra Márcio.

Sem conseguir expulsar os moradores, Constantino e os dois ex-motoristas da Viação Planeta planejaram a execução de Márcio, aponta o inquérito. No dia do crime, os ocupantes foram informados por Vanderlei que eles receberiam a visita de Constantino à noite para uma proposta definitiva de desocupação. Os dois lados brigavam na Justiça pela posse da terra, pois ambas haviam pago por ela.

Márcio anunciara que cada morador queria R$ 2 mil pelo lote, como forma de ressarcimento do valor pago ao ex-funcionário de Constantino que havia grilado o lote. Mas a tal reunião nunca ocorreu. A 0h15 de 12 de outubro de 2001, um desconhecido chamou Marcos até o portão de casa. Assim que o líder comunitário abriu a porta recebeu três tiros à queima-roupa — dois no tórax e outro na perna direita.

Márcio Leonardo chegou a ser levado ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT), mas não resistiu aos ferimentos e morreu ainda na madrugada. Assim que o dia amanheceu, segundo a polícia, um advogado de Constantino apareceu na invasão acompanhado de um operário com um trator. O advogado deu R$ 500 a cada morador. No mesmo dia, todos os barracos foram derrubados.

Falta o pistoleiro

A delegada Mabel Faria afirmou ter provas testemunhas suficientes contra Constantino e os dois motoristas aposentados. Algumas são depoimentos de testemunhas. Mas ela não quis dar mais detalhes. Disse que falta identificar o autor dos disparos. Tem três suspeitos. Assim que tiver certeza de quem se trata, concluirá o inquérito.

O dono da Gol foi indiciado após prestar depoimento na Divisão de Homicídios, da Coordenação de Investigação de Crimes contra a Vida (Corvida), na tarde de ontem (9/12). A arma do crime ainda não foi encontrada. O funcionário que ocupou o lote com autorização de Constantino e depois vendeu os lotes morreu de cirrose — provocada por excesso de consumo de álcool — um ano após o assassinato de Márcio.

Fonte: Correio Brasiliense - Foto: Folha Imagem

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