Nova política espacial americana dá uma guinada nos negócios das empresas ligadas à exploração espacial
Para a Boeing, Lockheed Martin e outros gigantes aeroespaciais que foram a espinha dorsal dos esforços americanos no espaço por décadas, a nova política espacial americana, anunciada pelo presidente Barack Obama, significa uma grande mudança em suas missões.
Depois de trabalhar por décadas para um único cliente, a NASA, levando astronautas e equipamentos em órbita, os principais nomes da indústria aeroespacial estão enfrentando um mercado com uma gama de empresários que garantem que podem fazer a mesma coisa cobrando menos.
Sob a ambiciosa iniciativa de Obama, a NASA terá de recorrer a empresas comerciais para fornecer uma série de serviços para a Estação Espacial Internacional, centrando seus esforços em missões no espaço profundo com parceiros internacionais. Como a indústria aeroespacial caberá nesse novo modelo ainda não está claro, dizem analistas.
“Vejo uma certa analogia com o que aconteceu quando os computadores deixaram de ser grandes máquinas para se tornarem caseiros”, disse Louis Friedman, diretor executivo da Planetary Society, um grupo de defesa da exploração espacial. “Algumas companhias apenas sobreviveram, enquanto outras se adaptaram e prosperaram. Acho que veremos algo parecido na indústria aeroespacial.”
O efeito imediato da nova política foi sentido nos empregos. O plano de Obama de cancelar o programa Constellation (imagem acima), iniciado cinco anos atrás na presidência de George W. Bush para enviar astronautas de volta à Lua, pode significar a perda de 12 600 empregos, segundo estimativas da indústria. Os cortes serão mais pesados no Alabama, Califórnia, Flórida, Texas e Utah, e a oposição política nesses estados está vociferando. O programa Constellation já custou 9 bilhões de dólares para o contribuinte americano.
O fim do Constellation vai interromper grande parte do trabalho no foguete Ares I, criado para substituir os ônibus espaciais para transportar astronautas em órbita, e na cápsula Orion, que seria usada pela tripulação do Ares I. A Lockheed Martin afirmou que mais de 2 mil postos de trabalho dependiam do programa da Orion. A Boing disse que 1 500 empregos serão afetados pela aposentadoria dos ônibus espaciais e pelo cancelamento do Constellation. A Alliant Techsystems, conhecida como ATK, disse que o fim do Ares I colocará em risco mais de 5 mil empregos.
Obama garante que as mudanças não significam o fim de vôos tripulados e que a chegada de novos empresários irá criar um setor mais vibrante, com mais astronautas no espaço e mais negócios para as companhias atuais e para as recém-chegadas.
Uma empresa tradicional que aparentemente aceitou o plano de Obama é a United Launch Alliance, uma joint-venture entre a Boeing e a Lockheed Martin. A empresa, cujos foguetes Atlas e Delta transportaram satélites militares e comerciais para o espaço durante décadas, afirmou que não tem planos de cortar empregos. “Ao contrário”, disse um porta-voz da companhia.
Um novo operador na comunidade aeroespacial é a Space Exploration Technologies, fundada por Elon Musk, empresário da internet que ajudou a fundar o sistema de pagamento PayPal. A empresa, que não existia há uma década, tem 2,5 bilhões em contratos, incluindo 1,6 bilhão da NASA para oferecer um mínino de doze voos de carga para a estação espacial a partir de 2011.
A companhia, conhecida por SpaceX, reforçou a credibilidade do plano de Obama ao lançar, no mês passado, o foguete Falcon 9 a um custo de 50 milhões de dólares. Nos planos da SpaceX está o lançamento de um foguete totalmente operacional e uma cápsula, neste verão, antes de enviar um foguete à Estação Espacial Internacional no próximo ano. O sucesso do foguete, no mês passado, foi uma grande vitória “para os planos da NASA de usar foguetes comerciais para o transporte de astronautas”, disse a empresa.
Fonte: The International Herald Tribune via Veja.com - Imagem: Divulgação