terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Aconteceu em 2 de janeiro de 2024: Voo JAL 516 x Dash-8 da Guarda Costeira - A Colisão de Haneda


Em 2 de janeiro de 2024, ocorreu uma colisão na pista entre um Airbus A350-900, operando o voo 516 da Japan Airlines (JAL), e um de Havilland Canada Dash 8 operado pela Guarda Costeira Japonesa. O JAL516 era um voo doméstico regular de passageiros do Aeroporto New Chitose, perto de Sapporo, para o Aeroporto de Haneda, em Tóquio, no Japão. 

Enquanto o Airbus A350 pousava no aeroporto de Haneda, colidiu com o Dash 8 na pista e as duas aeronaves pegaram fogo. Cinco dos seis tripulantes a bordo do Dash 8 morreram na colisão, mas todos os 367 passageiros e 12 tripulantes do A350 foram evacuados sem perdas de vidas.

A colisão provocou incêndios que destruíram ambas as aeronaves. Foi o primeiro acidente com perda de casco da Japan Airlines desde o voo 123 em 1985, e também a primeira perda de casco de um Airbus A350, uma aeronave com polímeros reforçados com fibra de carbono.

Aeronaves e Tripulações

JA13XJ, o Airbus A350 da Japan Airlines envolvido no acidente
Uma das aeronaves envolvidas no acidente era o Airbus A350-941, prefixo JA13XJ, da Japan Airlines (JAL) (foto acima), com número de série do fabricante 538, equipada com dois motores Rolls-Royce Trent XWB. A aeronave realizou seu primeiro voo em setembro de 2021 e foi entregue à Japan Airlines em novembro de 2021.

JA722A, o Dash-8 da Guarda Costeira Japonesa envolvido no acidente
A outra aeronave era o de Havilland Canada DHC-8-315Q MPA, prefixo JA722A, da Guarda Costeira do Japão (foto acima), com número de série do fabricante 656. O DHC-8 fez seu primeiro voo em novembro de 2007 e foi entregue à Guarda Costeira do Japão em fevereiro de 2009. A aeronave envolvida havia sido danificada no sismo e tsumâmi de Tohoku em 2011 enquanto estava estacionado na rampa do Aeroporto de Sendai e foi a única aeronave danificada no sismo a passar por reparos logo após o desastre.

Acidente

O voo 516 partiu do Aeroporto de Chitose às 16h27min JST (07h27min UTC) em direção a Haneda trazendo a bordo 367 passageiros e 12 tripulantes. A aeronave veio para pouso após o anoitecer em condições normais de clima, com ventos leves e variáveis, visibilidade acima dos 10 km, poucas nuvens à 610 m (2.000 ft) e uma camada de nuvens à 2.700 m (9.000 ft).

Por volta das 17h47 JST (08h47min UTC), enquanto pousava na pista 34R de Haneda, a aeronave colidiu com um DHC-8-315 Dash 8 da Guarda Costeira do Japão - que não contava com um transponder ADS-B - durante a tentativa de pouso na pista 34R do Aeroporto de Haneda. Havia seis tripulantes a bordo da aeronave.

Uma bola de fogo irrompeu de ambas as aeronaves, com o A350 deixando uma trilha de fogo na pista de quase 1 km até parar totalmente. Bombeiros chegaram no local por volta de três minutos, com 100 viaturas atendendo o chamado. O acidente foi registrado por câmeras de segurança do Terminal 2.


Segundo comunicado do porta-voz da JAL, os três pilotos sentiram um choque repentino logo após o pouso e perderam o controle da aeronave ao tentar manter o curso ao longo da pista. Eles não sabiam que um incêndio havia ocorrido a bordo até que foram informados por um comissário de cabine que o motor esquerdo estava pegando fogo, e um dos pilotos disse mais tarde que tinha visto um objeto que o causou preocupação antes da colisão. No entanto, os três pilotos negaram ter confirmado visualmente a presença da aeronave da Guarda Costeira.


Com o motor direito ainda funcionando, todos os 367 passageiros e 12 tripulantes no voo 516 foram evacuados pelos escorregadores de evacuação da aeronave localizados nas portas 1L, 1R e 4L. 


Dentre os passageiros, estavam oito crianças. Quatorze pessoas se feriram no acidente, quatro delas tendo que ser enviadas a hospitais, devido a seus ferimentos. Dois animais de estimação, um cachorro e um gato registrados a bordo, morreram.

As chamas atingiram a parte ventral da aeronave enquanto pousava, com fumaça adentrando a cabine. O sistema de anúncios da aeronave parou de funcionar durante o acidente, forçando os comissários a passar as instruções aos passageiros via megafones.


Foi observado que nenhum passageiros tentou sair da aeronave com sua bagagem de mão, o que acelerou o processo de evacuação. A última pessoa a bordo da aeronave foi evacuada as 18h05min JST (09h05min UTC), 18 minutos após o acidente. O capitão foi a última pessoa a deixar o avião, de acordo com a emissora pública japonesa NHK.


As imagens, gravadas com um celular do interior da cabine da aeronave, mostram o avião já parcialmente em chamas enquanto tentava parar após pousar no aeroporto, vindo de Hakkedo (veja vídeo acima).

Aeronave da Japan Airlines pega fogo em aeroporto de Tóquio (Foto: GloboNews/Reprodução)
Retirada de passageiros

Os comissários de bordo pediram às pessoas que permanecessem calmas, dizendo “por favor, cooperem”, de acordo com o vídeo compartilhado com a Reuters.

"A tripulação de cabine deve ter feito um excelente trabalho. Não parece haver nenhuma bagagem de mão. Foi um milagre que todos os passageiros tenham desembarcado", disse Paul Hayes, diretor de segurança aérea da consultoria de aviação Ascend, com sede no Reino Unido.

Um funcionário do Ministério dos Transportes japonês disse em entrevista coletiva que os procedimentos de evacuação da companhia aérea foram “conduzidos de forma adequada”.

Do lado de fora, 115 unidades de combate a incêndio foram enviadas ao local para combater um incêndio que começou na parte traseira do avião e acabou envolvendo toda a aeronave em uma bola de chamas.


Satoshi Yamake, 59 anos, regressava à capital onde trabalha no setor de telecomunicações após visitar familiares na sua cidade natal. Sua mente voltou-se para o reencontro com sua esposa Mika enquanto as rodas do avião derrapavam na pista, antes de ele ser sacudido por um barulho e um estrondo e então se virasse para ver o motor pegando fogo do lado de fora de sua janela.

Ele disse que, apesar de alguns passageiros estarem muito ansiosos, a tripulação rapidamente acionou as rampas de evacuação, e as pessoas começaram a desembarcar de forma ordenada.

“Por favor, tire-me daqui”, gritou uma mulher em um vídeo compartilhado com a Reuters de dentro do avião. “Por que você simplesmente não abre (as portas)?”, gritou uma criança.


“Eu realmente pensei que fosse morrer”, disse Tsubasa Sawada, 28 anos, morador de Tóquio, que voltava de férias em Sapporo com sua namorada.

“Eu estava rindo um pouco no início quando vi algumas faíscas saindo (do motor), mas quando o incêndio começou, percebi que era mais do que apenas algo.”

Sawada disse que cerca de 10 minutos depois de desembarcarem, houve uma explosão no avião. “Só posso dizer que foi um milagre, poderíamos ter morrido se demorasse um pouco mais”, disse ele.

De acordo com o Departamento de Bombeiros de Tóquio (TFD), o incêndio havia sido majoritariamente apagado até a meia noite, apesar do fogo ter ruído a célula da aeronave.


A aeronave da Guarda Costeira do Japão, transportando seis tripulantes, preparava-se para levar suprimentos para uma base aérea em Niigata em resposta ao terremoto do Mar do Japão , ocorrido no dia anterior.

Foi uma das quatro aeronaves implantadas pelo governo para fornecer ajuda às áreas afetadas. A aeronave ficou parada na pista por cerca de 40 segundos antes da colisão. 


O capitão, que relatou que a parte traseira da aeronave pegou fogo repentinamente logo após ele ter aumentado a potência do motor antes de explodir após a colisão, sobreviveu com ferimentos graves, enquanto os cinco tripulantes restantes foram confirmados mortos pelo Corpo de Bombeiros de Tóquio.

Os destroços da aeronave da Guarda Costeira foram deixados a várias centenas de metros do ponto de parada final do avião JAL.

Um mapa do Aeroporto Internacional de Tóquio com a localização da colisão e
da localização dos destroços de cada aeronave
Consequências

Embora todos os passageiros e tripulantes do Airbus A350 tenham sido evacuados com poucos ferimentos leves, o avião foi danificado sem possibilidade de reparo, com a JAL estimando as perdas operacionais decorrentes de sua destruição em 15 bilhões de ienes (US$ 105 milhões), que deverão ser cobertas pelo seguro.

O que restou do Airbus A350 da JAL (Foto: KYODO)
O acidente ocorreu enquanto milhões de pessoas viajavam para o feriado de Ano Novo , um dos períodos de viagens mais movimentados do ano. 

O que restou do de Havilland Dash-8 da Guarda Costeira (Foto via @aviationbrk)
A aeronave logo atrás do voo 516, o voo Japan Airlines 166 (JAL166), um Boeing 737-800 que estava na aproximação para a pista 34R teve que arremeter a 350 m (1150 ft) e desviar para o Aeroporto Internacional de Narita. Várias outras aeronaves que se encontravam na fila para decolagem de Haneda tiveram que retornar ao terminal após o acidente.

Uma placa indicando a suspensão de todos os voos da ANA no Terminal 2 de Haneda
Todas as pistas de Haneda foram temporariamente fechadas logo após o acidente, com muitos voos sendo desviados para Narita, Chūbu Centrair e Kansai. Outros voos foram cancelados devido ao acidente, com a All Nippon Airways (ANA) registrando sozinha 112 cancelamentos para o restante do dia e a Japan Airlines (JAL) cancelando 116 voos domésticos.

Por volta das 21h30min JST (12h30min GMT), três das quatro pistas de Haneda foram reabertas, de acordo com o Ministério de Território, Infraestrutura, Transporte e Turismo japonês (MLIT). 140 voos foram cancelados durante o dia 3 de janeiro, com 20.000 passageiros afetados pelos cancelamentos após o acidente.

Reações

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, prestou condolências aos mortos no acidente, se referindo aos serviços dos mesmos as vítimas do sismo na Península de Noto.

A IATA prestou condolências em sua conta no Twitter aos passageiros e tripulantes de ambas as aeronaves.


A Airbus emitiu um comunicado oficial declarando que enviará equipes para auxiliar as investigações da Japan Transport Safety Board (JTSB) e da Bureau d’Enquêtes et d’Analyses (BEA). No mesmo comunicado, a Airbus declarou que "mais atualizações serão fornecidas assim que informações consolidadas estiverem disponíveis".

A JAL emitiu um comunicado confirmando os eventos do acidente e prestando condolências as famílias e amigos dos cinco mortos no acidente. Também se pediu desculpas pela inconveniência causada aos passageiros, amigos, famílias e todos os envolvidos no acidente, além de garantir que iria auxiliar nas investigações. A JAL também ofereceu reembolsos totais e remarcações gratuitas até o dia 31 de janeiro a todos os passageiros que tinham voos marcados de 2 de janeiro até 1º de abril.

Investigação


O Japan Transport Safety Board (JTSB) anunciou que havia recuperado os gravadores de voz e dados do Dash-8 da Guarda Costeira, enquanto o do A350 ainda está sendo procurado.

A francesa Bureau d’Enquêtes et d’Analyses (BEA) anunciou em sua conta no Twitter que cooperará com a Airbus durante a investigação. Também foi declarado que serão enviadas equipes para o Japão para investigar o caso.

No dia 3 de janeiro, o MLIT divulgou a transcrição da comunicação do controle de tráfego aéreo, abrangendo os últimos 4 minutos e 27 segundos antes do acidente. Mostrou que antes do acidente, os controladores de tráfego aéreo autorizaram a aeronave JAL para pousar na pista 34R, enquanto a aeronave da Guarda Costeira foi instruída a manter-se perto da pista no ponto de espera C5. 

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A NHK, entretanto, citando uma fonte da Guarda Costeira, informou que o piloto do avião da Guarda Costeira alegou ter recebido autorização para decolar. Também informou que a polícia estava investigando possível negligência profissional como causa do incidente. 

Os controladores de tráfego aéreo disseram mais tarde aos oficiais do MLIT que não tinham notado o avião da Guarda Costeira movendo-se para a mesma pista que o JAL516, apesar de lhes terem dito para permanecerem na pista de táxi, acrescentando que estavam preocupados em ajudar outras aeronaves.

Os destroços das duas aeronaves podem ser vistos (Foto via Breaking Aviation News & Videos)
De acordo com cópia do boletim publicado pelos reguladores dos EUA em 25 de dezembro de 2023, as barras de semáforo nos pontos de espera da pista 34R estavam fora de serviço. As barras de luz de freio estão embutidas na pista como medida extra de segurança para evitar incursões na pista.

Retirada dos destroços


As equipes do aeroporto de Haneda, em Tóquio, começaram a retirar os destroços carbonizados de um avião da Japan Airlines de uma pista na sexta-feira (5), no horário local, segundo imagens da emissora japonesa TBS, enquanto os investigadores trabalham para determinar o que causou o acidente mortal.

Um funcionário do Conselho de Segurança de Transporte do Japão disse que o gravador de dados de voo do avião da Japan Airlines foi recuperado na quarta-feira (3), mas que gravador de voz da cabine ainda não foi encontrado.


As equipes começaram a remover o avião da Guarda Costeira da pista na quinta-feira (4), disse o TBS.

A JAL pretendia concluir o trabalho de remoção, que inclui a desmontagem da aeronave, até 7 de janeiro. Ela será levada ao seu hangar, onde a aeronave será inspecionada pelo Departamento de Polícia Metropolitana de Tóquio.

Por Jorge Tadeu (Site Desastres Aéreos) com Wikipédia, ASN e Agências de Notícias

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