quarta-feira, 28 de setembro de 2022

MP Militar denuncia ex-sargento e mais 6 acusados de tráfico de drogas em aviões da FAB

Segundo procuradores, além de Manoel Silva Rodrigues, dois sargentos da Aeronáutica e quatro civis atuavam em esquema. Crimes foram descobertos em 2019, quando ex-militar foi preso, na Espanha, com 37 quilos de cocaína pura em voo da comitiva presidencial.

Sargento Manoel Silva Rodrigues é acusado de transportar cocaína em avião da FAB (Foto: Reprodução)
O Ministério Público Militar (MPM) denunciou o ex-sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) Manoel Silva Rodrigues, dois sargentos da Aeronáutica, e quatro civis por tráfico internacional de drogas, associação ao tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro.

A denúncia é referente ao esquema de transporte de drogas em voos da FAB, descoberto depois que Manoel Silva Rodrigues foi preso, em 2019, após ser flagrado com 37 quilos de cocaína pura em um avião da comitiva presidencial.

Manoel Silva Rodrigues já foi condenado pela Justiça comum brasileira e pela Justiça espanhola, por tráfico, e segue preso no país europeu (relembre abaixo). Caso a nova denúncia seja aceita, ele vai responder pelos crimes também no âmbito militar, que tem normas próprias.

A denúncia aponta que os envolvidos — entre eles, a esposa de Rodrigues — estavam associados de "forma estável e permanente" na prática do crime. Para o Ministério Público Militar, os ajustes previamente estabelecidos e a divisão de tarefas evidenciam o vínculo entre os denunciados.

Segundo os procuradores, os civis denunciados tinham uma relação antiga e viram o uso das aeronaves militares como uma oportunidade de transporte mais seguro das drogas, já que comitivas oficiais de autoridades públicas recebem deferências de Estados estrangeiros. Eles seriam ainda os fornecedores das drogas.

Denunciados


A procuradoria aponta que as provas colhidas, em inquéritos da Polícia Militar e da Polícia Federal, evidenciam que o então segundo sargento Manoel Silva Rodrigues transportou drogas para Madri e Sevilha, na Espanha, em duas ocasiões: 30 de abril e 25 de junho de 2019.

Na segunda tentativa, Rodrigues foi preso em flagrante. Não há, no entanto, prova da materialidade do primeiro transporte, já que não houve apreensão de droga na ocasião, segundo os promotores.

Durante as investigações, foi identificado o segundo sargento da Aeronáutica que teria "recrutado" Rodrigues, e que atuava como intermediário dos donos dos entorpecentes. O terceiro militar envolvido teria mantido contato com os demais envolvidos no esquema e é acusado de associação ao tráfico.

Segundo a denúncia, a esposa de Rodrigues, que é uma das civis denunciadas, tinha conhecimento das atividades ilícitas. Outro civil era responsável pela entrega dos entorpecentes transportados pelo ex-sargento, diz o MPM. O homem possui histórico de envolvimento com tráfico internacional de drogas.

Ele também tinha relacionamento com o segundo sargento que atuava como "recrutador", segundo os procuradores. De acordo com o documento, o suspeito adquiriu diversos imóveis e cotas sociais de empresas em valores incompatíveis com a própria renda. Para a procuradoria, isso prova o retorno financeiro da atuação com o tráfico.

O terceiro civil denunciado é citado em investigações da Polícia Civil do Distrito Federal como "Barão do Ecstasy". Ele já havia sido denunciado por tráfico internacional de drogas, mas foi absolvido. Já o quarto civil suspeito de envolvimento no esquema já foi preso e condenado por envio de cocaína a Amsterdã, na Holanda, e compra de ecstasy para distribuição na capital holandesa.

Lavagem de dinheiro


De acordo com as investigações, em pelo menos três oportunidades, o ex-sargento preso e a esposa fizeram transações — compra de motocicleta e móveis, além de depósitos bancários — para dissimular valores obtidos por meio do tráfico de drogas.

Logo após a prisão de Rodrigues na Espanha, foram encontrados ainda R$ 40 mil em espécie na residência do casal, segundo a denúncia. O valor seria referente ao transporte das drogas.

O Ministério Público Militar pediu à Justiça o sequestro de bens do casal: um veículo, uma motocicleta e um imóvel em Taguatinga.

Condenações


Mala e os 37 kg de cocaína apreendidas com militar da FAB preso na Espanha
(Foto: Guarda Civil de Sevilla)
A partir da descoberta da cocaína no avião da comitiva do presidente da República, a Polícia Federal (PF) deflagrou, pelo menos, cinco fases da operação batizada de "Quinta Coluna", que investiga o grupo suspeito de traficar drogas em aeronaves da FAB.

Manoel Silva Rodrigues foi condenado pela Justiça Militar da União em 15 de fevereiro deste ano. A pena é de 14 anos e seis meses de prisão. Na ocasião, a defesa do ex-sargento alegou que a droga não foi transportada no avião da FAB, e sim, passada a ele depois do pouso, na Espanha.

Os advogados pediram a troca da acusação de tráfico internacional para crime com pena menor: o de recebimento, venda, fornecimento ou transporte de substâncias entorpecentes. No entanto, o pedido foi rejeitado.

Em fevereiro de 2020, a Justiça espanhola já havia condenado o então sargento a seis anos e um dia de prisão. Além disso, ele foi sentenciado a pagar multa de 2 milhões de euros.

Quando foi sentenciado, Rodrigues fez um acordo com a promotoria da Espanha e, às autoridades, contou que "se aproveitou da condição de militar" para cometer o crime. Ele disse ainda que deixaria a droga em um centro comercial de Sevilha.

Em setembro de 2020, a Justiça da Espanha negou um pedido de transferência do militar para o Brasil. Com a decisão, ele precisa cumprir a pena integralmente no país europeu.

Via g1 DF

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