quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Americano conta em livro como sobreviveu a queda de avião 30 anos após o acidente

'Loucos pela tempestade'

Norman Ollestad tinha só 11 anos quando viu seu pai e a namorada dele morrerem na sua frente, depois que a aeronave particular em que viajavam caiu nas montanhas de Los Angeles. Trinta anos depois do acidente - que também vitimou o piloto da aeronave -, o americano resolveu revisitar as lembranças e escreveu, com detalhes, como sobreviveu à tragédia. Mais do que um relato da aventura em si, "Loucos pela tempestade", lançado no Brasil pela editora Record, retrata a especial ligação de Norman com seu pai, um aficcionado por esportes que desde cedo submeteu o filho a uma rotina de exercícios rígida. Uma rotina que salvou sua vida.

O garoto Norman, em foto do The Long Beach Independent, em 21 de fevereiro de 1979

Norman com o filho Noah, alguns anos atrás

À primeira vista, o leitor pode ter a impressão de que o pai de Norman era um carrasco, daqueles que obrigam o filho a enfrentar o mar gelado para surfar contra a vontade da criança. Mas, na verdade, ele era uma figuraça: ao mesmo tempo em que trabalhava para o FBI, morava em Topanga Beach, uma praia de nudismo na Califórnia, ao lado dos melhores surfistas dos anos 70.




- Meu pai tinhas múltiplas facetas. Ele podia ter conversas intelectuais com artistas ou ter discussões políticas ou ficar em torno de uma fogueira com surfistas. Ele amava a diversidade. Nada parecia amedrontá-lo - conta.

Quando Norman nasceu, seu pai já havia deixado a agência americana. Revoltado com o que vira no gabinete de J. Edgar Hoover, ele resolveu escrever um livro denunciando casos de corrupção no escritório do chefe, chamado "Inside the FBI". O casamento dos pais também durou pouco: eles se separaram quando Norman tinha apenas 3 anos. Mas o pai morava do outro lado da rodovia e era figura presente na vida do menino: tirava-o da cama cedo para pegar onda e levava-o para esquiar nas montanhas mais íngremes.

- Meu pai não achava que estava sendo durão comigo. Ele estava agindo puramente com amor e por isso eu não tenho nenhuma mágoa pelo o que ele me fez passar. Eu o agradeço quase todos os dias por me mostrar o caminho para tanto prazer - diz Norman, hoje com 42 anos.

No verão antes do acidente, o pai de Norman o levou a uma viagem de aventura que durou vários dias. Eles saíram da Califórnia de carro, alugaram um barco e foram até o México, visitar os avós, conta ele no livro. Cruzaram a selva, ficaram atolados nas estradas, surfaram e passaram por várias dificuldades.

- Aquela viagem ao México resumiu, em apenas alguns dias, o que era estar com o meu pai o tempo todo: uma louca e maravilhosa aventura. Não sinto como uma viagem de despedida. Sinto como a essência da relação que existia entre nós dois - diz Norman, que hoje faz com Noah, seu filho de 9 anos, as mesmas coisas que seu pai fazia com ele.

Foi justamente a paternidade que o motivou a abrir um baú de lembranças, depois de tantos anos.

- Até eu me tornar pai eu não entendia a história toda do relacionamento com meu pai. Eu não estava pronto até começar a fazer com meu filho as mesmas coisas que meu pai fazia comigo. Foi quando eu entendi os dois lados da equação - observa o autor.

Para tal, ele voltou à montanha, escalou o terreno que teve de descer 30 anos antes por conta do acidente e tomou notas num caderno durante todo o percurso.

- Achei pedaços do avião numa altura de 2,5 km. Ao tocar as mesmas pedras e passar pelas mesmas valas, tudo me veio à lembrança. As horas que passava escrevendo não foram tão dolorosas como as horas depois. Eu ficava muito cansado e tinha que me exercitar diariamente. Depois, dormia a tarde toda - conta Norman.

O sacrifício, pelo visto, valeu a pena: "Loucos pela tempestade" está há semanas na lista dos mais lidos no jornal "New York Times". Para Norman, o sucesso de seu livro deve-se ao fato de sua relação com seu pai ser universal.

- As pessoas querem vivenciar as ligações entre as pessoas e os relacionamentos, e um livro é uma forma muito íntima de embarcar numa viagem. Além disso, meu pai é um personagem muito excitante para se acompanhar numa história - acredita o autor.

Fonte: Florença Mazza (O Globo) - Imagens: Reprodução/Divulgação

MAIS

Data do acidente: 19/02/1979 (07:36 hs.)
Aeronave: Cessna 172
Operador: Central Aviati
Prefixo: N1527V
Descrição: Caiu em Mt. Baldy, nas montanhas de San Bernardino a 7.300 pés (2.225 metros), durante um voo para Big Bear, na Califórnia. Três de quatro pessoas a bordo morreram. Um deles morreu depois, mas em decorrência do acidente. O piloto continuou em voo VFR em condições meteorológicas adversas.

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