Operação foi dividida em dois voos que partiram do Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP); touros Guzerá vão promover melhoramento genético de rebanhos na África.
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Entenda como mais de 300 touros brasileiros viajaram de avião ao Senegal (Fotos: Cristiano Lima/Divulgação) |
Baias no lugar das poltronas, temperatura de 15 ºC e nada de lanchinho: em uma operação atípica no início deste mês, 312 touros brasileiros viajaram mais de 5 mil quilômetros de avião para o Senegal, na África.
Os animais foram transportados em dois voos exclusivos, depois de uma compra do governo senegalês, que encomendou touros da raça Guzerá para o melhoramento genético dos rebanhos locais.
Já a escolha pelo avião foi por causa do número de bovinos a serem deslocados, pois, para o transporte em navios, mais comum para cargas vivas, é necessário juntar pelo menos mil animais. O custo total da operação não foi divulgado.
A primeira viagem foi no dia 7 de maio, quando 155 touros da raça Guzerá embarcaram. No dia 10, foram 157, sendo 155 touros Guzerá e um casal da raça Sindi.
Todos saíram do Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), e aterrissaram no Aeroporto Internacional Blaise Diagne, em Dakar, no Senegal.
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Avião que levou touros Guzerá não tinha espaço para passageiros (Foto: Cristiano Lima/Divulgação) |
O avião
Para a operação, foi utilizado um Boeing 777F da Ethiopian Airlines, avião com capacidade para transportar 102,8 toneladas, segundo a própria fabricante.
Além dos touros, estavam a bordo somente o piloto, dois tripulantes e o dono da empresa que intermediou a compra dos animais, Cristiano Lima, que detalhou a operação ao g1.
“É um avião cargueiro, onde vão somente as baias com os touros. Junto com o piloto, tem só mais quatro cadeiras, então você vê o piloto pilotando. É uma experiência inédita, inexplicável”, afirma o presidente-executivo da GBC Internacional, responsável pela exportação.
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Touros foram colocados em baias de madeira para transporte em avião (Foto: Cristiano Lima/Divulgação) |
Por que Viracopos?
O Aeroporto de Viracopos possui o maior terminal de cargas do país. Segundo a direção da unidade, todo o trabalho de transporte de carga viva é realizado com a autorização e fiscalização do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Em abril, o local já havia recebido o maior transporte de carga viva de sua história. “Duas aeronaves trouxeram 900 suínos reprodutores, de grande porte, utilizando 25 das baias do curral de carga viva”, lembra Marcelo Mota, diretor comercial de Viracopos.
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Entenda como 312 touros brasileiros viajaram de avião ao Senegal (Imagem: Wagner Magalhães/Arte g1) |
Voo cheio
Para organizar a viagem dos touros Guzerá, foi necessário checar as medidas do avião. De acordo com o Mapa, é preciso saber peso e densidade dos bichos para estabelecer o número de animais a cada 10 metros quadrados da aeronave, além das dimensões das baias.
No caso da operação para o Senegal, foram organizadas 33 baias de madeira, com capacidade para quatro ou cinco touros cada uma.
Elas foram forradas com palha de arroz para evitar que os dejetos dos animais sujassem a aeronave e foram posicionadas no cargueiro conforme o espaço recomendado, de acordo com Lima.
Quarentena
A empresa de exportação também destacou que, antes do embarque, os touros ficaram 20 dias em quarentena em uma fazenda em Ibitinga (SP), onde receberam vacinas contra a febre aftosa, contra a brucelose e a tuberculose. Além disso, todos fizeram exame andrológico, para constatar a fertilidade.
“Todo animal foi pesado um a um, e as baias também foram pesadas antes da viagem. Os touros ainda receberam um chip na orelha para que o Ministério da Agricultura possa rastreá-los", conta o dono da companhia.
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Veja o trajeto dos touros Guzerá do Brasil ao Senegal (Imagem: Kayan Albertin/Arte g1) |
Sem lanche
O trajeto foi de mais de seis horas e, durante este período, os animais ficaram sem alimentação.
“No aeroporto, eles recebem feno e água. Em seguida, a gente coloca os touros nas baias e carrega o avião. Quando chega, descarrega, e os animais vão para o caminhão. Na fazenda, eles recebem alimentação novamente”, detalha o empresário.
Outra medida foi regular a temperatura da aeronave. Segundo Lima, o ar-condicionado foi ajustado entre 15ºC e 18ºC para manter os animais calmos durante a longa viagem.
Durante a operação, veterinários também ficaram à disposição para atender os touros no caso de alguma eventualidade. No entanto, a empresa garantiu que a operação foi concluída com sucesso, sem mortes de animais.
Interesse de longa data
Toda essa operação começou bem antes da chegada ao aeroporto. O trabalho com o gado teve início em 2015, quando o governo do Senegal entrou em contato com GBC Internacional, manifestando interesse em comprar touros brasileiros da raça Guzerá.
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Touros ficaram no terminal de cargas do Aeroporto de Viracopos (Foto: Thiago de Jesus/Divulgação) |
A raça se destaca por ter dupla aptidão, ou seja, pode ser usada tanto para produção de carne quanto de leite, explica Antônio de Salvo, criador da raça Guzerá em Minas Gerais e presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg).
“Normalmente a África compra muito zebu brasileiro. Eu já vendi mais de 100 cabeças pro Senegal porque eles entendem que temos um clima semelhante da África. E eles preferem buscar aqui do que na Índia pela performance, pelo melhoramento que os produtores brasileiros têm", afirma Salvo.
“Eles [senegaleses] querem zebuíno que produza leite, sendo assim você já elimina várias outras raças. Foram atrás do Guzerá porque ele pode fornecer um queijo a cada uma semana, a cada dois dias, e ainda ser um alimento nobre para eles", continua.
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Cada baia de madeira tem capacidade para quatro ou cinco touros Guzerá (Foto: Cristiano Lima/Divulgação) |
Por isso, ainda em 2015, 360 bovinos dessa raça, entre touros, vacas prenhas e bezerros, foram levados do Brasil ao Senegal. Neste ano, além dos 312 touros Guzerá, um casal da raça Sindi voou para a África.
Com o êxito da operação, foi feito um contrato com o governo senegalês para a exportação de mil touros brasileiros por ano. E a intenção é expandir o programa para outros países do oeste da África.
“Nesse caso, eles tinham pressa por causa de um evento que vai ter ainda em maio com o presidente do Senegal, então compraram 300 touros. Quando comprarem mil, dá para fazer o transporte de navio, e a logística sai pela metade do preço”, afirma Cristiano Lima.
Conheça um gado Guzerá
Animal rústico, de origem indiana, o Guzerá prosperou no Brasil pela fácil adaptação nas propriedades rurais do país.
Segundo o criador Antônio de Salvo, que há quatro gerações trabalha no melhoramento genético da raça, ela é uma das mais puras e antigas do mundo e ajudou a criar boa parte da base zebuína brasileira.
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Touro Guzerá prosperou no Brasil pela fácil adaptação nas propriedades rurais do país (Foto: Cristiano Lima/Divulgação) |
Quanto custa
Um touro Guzerá melhorador, ou seja, que vai servir para procriar e promover o melhoramento genético do rebanho, custa de R$ 12 mil a R$ 30 mil, de acordo com o pecuarista.
Os animais são catalogados pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), que tem registros sobre a linhagem do touro e suas características.
Salvo afirma que, mesmo com o alto custo para a compra dos 312 touros, vacinas e toda a logística de transporte aéreo, a operação do governo do Senegal valeu a pena.
Segundo o especialista, a conta é simples: se um touro melhorador reproduz com aproximadamente 40 vacas por ano, os 312 que foram ao Senegal serão pais de cerca de 12.480 novos bezerros, que vão pesar mais que os das gerações anteriores e produzir muito mais carne.
Em dois anos, os bezerros já podem ir para o abate e, conforme Salvo, o valor adquirido com a venda de carne da primeira gestação já deve pagar os custos da compra dos touros e da operação de transporte, e ainda gerar lucro.
Via g1