Em uma sala da Universidade de Berlim, nos idos anos de 1938, os cientistas Otto Hahn, Fritz Strassman e Lise Meitner fizeram a descoberta que mudaria a história: como gerar energia nuclear. Os químicos bombardearam átomos de urânio grandes e instáveis com nêutrons minúsculos e descobriram que o processo poderia produzir bário, um elemento muito mais leve do que o urânio. Sendo assim, eles concluíram que era possível dividir os núcleos de urânio em componentes quimicamente distintos e menos massivos.
O descobrimento da energia nuclear não só otimizou seu uso para armas e causou mudanças drásticas no pensamento sociopolítico mundial, quanto significou o início do progresso para a modernidade e a evolução da indústria global de exportação. Além disso, o armamento bélico foi aprimorado quando a Marinha dos EUA lançou o USS Nautilus, em meados de 1954, o primeiro submarino a propulsão nuclear. Depois dele, vieram os navios e, de repente, a energia se tornou o centro das atenções.
Mas por que nunca existiram aviões movidos a energia nuclear?
Uma ideia revolucionária
Não foi por falta de tentativa. A União Soviética e os EUA lideraram a corrida para desbloquear o poder do átomo e inaugurar um capítulo de realizações na história humana moderna – o que, de fato, aconteceu.
Antes do míssil balístico intercontinental (ICBM) ou dos submarinos a propulsão nuclear, as aeronaves eram responsáveis por carregar armas nucleares o tempo todo nos primeiros dias da Guerra Fria, na esperança de entregar suas cargas úteis nos pontos focais de cada país. Porém, manter esses bombardeiros constantemente no ar exigia muita infraestrutura de apoio e planejamento, sobretudo, no que diz respeito ao reabastecimento, que limitava o alcance e resistência das aeronaves.
Esse problema, no entanto, poderia ser resolvido se os bombardeiros fossem a propulsão nuclear, porque, em teoria, teriam a capacidade de voar por longos períodos sem a necessidade de fazer paradas. Apenas comida, água e resistência a bordo seriam as únicas limitações. A princípio, substituir a alimentação convencional das aeronaves parecia uma tarefa fácil, porém, tanto não foi quanto foi amplamente rejeitada.
Em uma aeronave normal, o ar entra em um motor a jato, onde é comprimido, injetado com combustível e inflamado. Dessa forma, é criado uma explosão controlada forçada para trás, gerando empuxo e empurrando o aparelho para frente.
No caso de um avião movido a energia nuclear, o ar seria absorvido e comprimido, empurrado para fora da parte traseira do motor, criando empuxo e empurrando a aeronave para frente. A diferença é que, no que o ar fosse absorvido, ele atuaria como um refrigerador do reator, fluindo ao redor do próprio ou de um elemento de aquecimento dele. Esse ar superquente e comprimido esguicharia da parte traseira do motor, criando empuxo e empurrando o avião para frente. O ar não fluiria através do núcleo do reator em si, pois isso contaminaria o escapamento com radiação que seria ejetada para o ar.
Os problemas
(Foto: GettyImages/Reprodução) |
Nada era prático sobre um avião movido a energia nuclear. A começar pelo peso, para evitar que os pilotos e a tripulação fossem contaminados pela Síndrome Aguda de Radiação, foi necessário várias toneladas de chumbo no meio da fuselagem dos aviões testes para reduzir a exposição à radiação. Somado ao peso dos reatores, isso tornava os aparelhos mais lentos e, consequentemente, alvos mais fáceis para os inimigos.
Além disso, havia um perigo enorme em caso dos bombardeiros serem atingidos, podendo liberar material radioativo, ou até mesmo vazá-lo ainda no ar, prejudicando a todos. Com isso, havia a aceitação popular de ter nos ares uma ameaça como essa, que mais representava uma arma para a própria nação do que um benefício. Apesar de todo o projeto ter corrido em sigilo, havia o receio de que o público pudesse questioná-lo.
Se aeronaves movidas a propulsão nuclear saíssem da área militar e chegassem no mercado da aviação civil, havia a possibilidade de os passageiros não embarcarem em aviões comerciais equipados com reatores nucleares ativos, dada a preocupação com a segurança.
Isso e a criação dos ICBMs lançaram a ideia ao esquecimento conforme os anos foram se passando.
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