O Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou nesta quinta-feira (8) que acusou a Boeing de conspirar para cometer fraude por não ter fornecido todas as informações sobre o processo de aprovação do 737 MAX, modelo de avião que sofreu dois acidentes fatais.
O gigante aeronáutico concordou em pagar mais de 2,5 bilhões de dólares para encerrar alguns processos, incluindo uma multa criminal de 234 milhões de dólares, além de 1,7 bilhão de dólares para seus clientes e 500 milhões de dólares para um fundo de indenização para os parentes das vítimas dos acidentes da Lion Air, em outubro de 2018, e da Ethiopian Airlines, em março de 2019.
Ambas as tragédias deixaram 346 mortos.
"Os funcionários da Boeing preferiram os lucros à honestidade, ao ocultar da FAA (autoridade de aviação dos Estados Unidos) informações importantes sobre o uso de seu avião 737 MAX e ao tentar acobertar sua fraude", denunciou o funcionário do Departamento de Justiça David Burns, por meio de um comunicado.
O acordo entre as autoridades e a empresa "responsabiliza a Boeing pela conduta criminosa de seus funcionários, aborda o problema do impacto financeiro dos clientes das companhias aéreas da Boeing e, espera-se, proporcionará alguma forma de compensação para as famílias e entes queridos das vítimas de acidentes", acrescentou.
A Boeing disse, por sua vez, estar satisfeita por deixar a investigação para trás. "Acredito, firmemente, que chegar a esta resolução é o correto para nós: um passo que reconhece, justamente, como deixamos a desejar em nossos valores e expectativas", declarou o CEO da empresa, David Calhoun, em um comunicado.
"Esta resolução é uma séria lembrança para todos nós sobre o quão crítica é nossa obrigação de transparência para com as autoridades e sobre as consequências que nossa companhia pode enfrentar, se algum de nós não cumprir essas expectativas", acrescentou.
Meias-verdades e omissões
A Boeing, sempre de acordo com o comunicado, admitiu que dois de seus funcionários enganaram o grupo FAA encarregado de avaliar a segurança da aeronave sujeita ao programa de voo MCAS, relacionado com os dois acidentes.
Os funcionários usaram "meias-verdades e omissões", que ocultaram o sistema MCAS das autoridades, disse a procuradora Erin Nealy Cox.
Os documentos posteriormente emitidos pela agência de aviação não continham informações essenciais sobre este "software", que, portanto, não foi incluído nos manuais para pilotos e treinadores.
Com isso, as autoridades tomaram conhecimento da existência do MCAS (sistema que evita a perda de sustentação da aeronave e um fator primordial nos acidentes), depois da queda do avião da Lion Air.
A FAA "conheceu, então, pela primeira vez", detalhes cruciais do MCAS que haviam sido "ocultados pela Boeing".
Nos termos do acordo, a Boeing concordou em continuar cooperando com as autoridades em todas as investigações em andamento e futuras. A fabricante também se comprometeu a informar as autoridades sobre qualquer exemplo, ou suspeita, de fraude cometida por um de seus funcionários.
A empresa demorou seis meses para começar a colaborar com as autoridades neste caso.
O Departamento de Justiça não considerou necessário nomear um inspetor independente para a empresa.
O 737 MAX permaneceu em terra por 20 meses após o segundo acidente, em março de 2019. Foi liberado para voar em novembro passado nos Estados Unidos e em outros países logo depois.
Via AFP
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