AMIGOS? - Nikita Kruchev se reúne com John Kennedy (à esq.) e abraça Fidel Castro. Eles foram os atores do conflito
A atual ameaça nuclear vinda do Irã ou da Coreia do Norte soa até inocente diante dos 13 dias de outubro de 1962 em que americanos e soviéticos estiveram muito perto de um embate atômico de proporções assustadoras, separados apenas pela estreita faixa de mar entre a Flórida e Cuba, então recém-alinhada ao comunismo soviético. O relato desse episódio da história, conhecido como Crise dos Mísseis, ganha uma valiosa contribuição com Um Minuto Para A Meia- -Noite – Kennedy, Kruchev E Castro À Beira Da Guerra Nuclear (Rocco, 448 páginas, R$ 58, tradução de Jussara Simões e Marcos Santarrita).
A obra, do veterano jornalista americano Michael Dobbs, do The Washington Post, se aprofunda na tensão vivida pelas duas principais figuras da crise: o presidente americano John Kennedy (que viria a ser assassinado um ano depois) e o secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética Nikita Kruchev. Por isso, quase metade do livro se volta para um só dia do conflito, por ter sido o mais nervoso de todos: sábado 27 de outubro.
O trunfo de Dobbs, que faz um relato hora a hora do chamado Sábado Negro, com fotos e documentos inéditos, é desfazer a impressão histórica de que Kennedy fora um líder com uma visão privilegiada durante todo o conflito. Embora determinado a evitar a hecatombe, não tinha controle total de seus comandados, assim como Kruchev. Daí a importância dada aos incidentes daquele sábado, que poderiam ter iniciado a guerra nuclear à margem do conhecimento dos dois.
O dia começa com o presidente cubano, Fidel Castro, ditando um telegrama em que incitava Kruchev a usar o arsenal nuclear instalado em Cuba. Sem autorização expressa de Kruchev, ogivas nucleares são deslocadas para mais perto dos mísseis que as lançariam – a descoberta desses mísseis por missões americanas de espionagem foi o que deflagrou a crise, 12 dias antes. Mais tarde, um avião espião U-2, dos Estados Unidos, é abatido ao sobrevoar o território cubano. Já pego de surpresa por essa notícia, Kennedy é informado horas depois que outro U-2 invadira, sem propósito militar, o espaço aéreo soviético pelo Alasca. Com seu sarcasmo peculiar, Kennedy reage com a seguinte frase: “Tem sempre um filho da p... que não recebe o recado”. O frenético sábado termina com um acordo em que Kennedy se compromete (não publicamente) a se desfazer de mísseis americanos na Turquia cinco meses depois do início da retirada do arsenal soviético de Cuba, que deixou Fidel inconformado.
O autor conclui que, mesmo se uma “sorte cega” contribuiu para o fim pacífico do confronto, Kruchev e Kennedy tiveram o mérito de esperar até onde foi possível para não tomar uma decisão desastrosa. “A verdadeira boa sorte é que homens sadios e equilibrados (...) ocupavam a Casa Branca e o Kremlin em outubro de 1962.”
ATAQUE - Nesta foto inédita, feita a partir de um filme de espionagem, um avião dos EUA sobrevoa uma base soviética em Cuba (destaque) em 26 de outubro de 1962. No dia seguinte, essa mesma base abateu um avião espião americano. A faixa preta é uma fita usada para colar dois fotogramasA obra, do veterano jornalista americano Michael Dobbs, do The Washington Post, se aprofunda na tensão vivida pelas duas principais figuras da crise: o presidente americano John Kennedy (que viria a ser assassinado um ano depois) e o secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética Nikita Kruchev. Por isso, quase metade do livro se volta para um só dia do conflito, por ter sido o mais nervoso de todos: sábado 27 de outubro.
O trunfo de Dobbs, que faz um relato hora a hora do chamado Sábado Negro, com fotos e documentos inéditos, é desfazer a impressão histórica de que Kennedy fora um líder com uma visão privilegiada durante todo o conflito. Embora determinado a evitar a hecatombe, não tinha controle total de seus comandados, assim como Kruchev. Daí a importância dada aos incidentes daquele sábado, que poderiam ter iniciado a guerra nuclear à margem do conhecimento dos dois.
O dia começa com o presidente cubano, Fidel Castro, ditando um telegrama em que incitava Kruchev a usar o arsenal nuclear instalado em Cuba. Sem autorização expressa de Kruchev, ogivas nucleares são deslocadas para mais perto dos mísseis que as lançariam – a descoberta desses mísseis por missões americanas de espionagem foi o que deflagrou a crise, 12 dias antes. Mais tarde, um avião espião U-2, dos Estados Unidos, é abatido ao sobrevoar o território cubano. Já pego de surpresa por essa notícia, Kennedy é informado horas depois que outro U-2 invadira, sem propósito militar, o espaço aéreo soviético pelo Alasca. Com seu sarcasmo peculiar, Kennedy reage com a seguinte frase: “Tem sempre um filho da p... que não recebe o recado”. O frenético sábado termina com um acordo em que Kennedy se compromete (não publicamente) a se desfazer de mísseis americanos na Turquia cinco meses depois do início da retirada do arsenal soviético de Cuba, que deixou Fidel inconformado.
O autor conclui que, mesmo se uma “sorte cega” contribuiu para o fim pacífico do confronto, Kruchev e Kennedy tiveram o mérito de esperar até onde foi possível para não tomar uma decisão desastrosa. “A verdadeira boa sorte é que homens sadios e equilibrados (...) ocupavam a Casa Branca e o Kremlin em outubro de 1962.”
Fonte: Juliano Machado (Revista Época) - Fotos: Reprodução
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