sábado, 23 de março de 2024

Empresários querem reformar o primeiro avião produzido em série no Brasil; e não é da Embraer

Grupo de apaixonados por aeronaves se une para manter viva a memória da aviação brasileira, e não apenas nos museus: querem voar com as relíquias.

Rafael Daré, da Revoar, em seu escritório: “Para pessoas como eu, é como se um carro do
Ayrton Senna estivesse esquecido em um estacionamento” (Leandro Fonseca/Exame)
“Já ouviu falar em Ada Rogato?”, pergunta Rafael Daré, empresário do ramo imobiliário. Diante da negativa, ele explica: “Foi a primeira aviadora brasileira. Ela partiu da Terra do Fogo e foi até o Alasca voando em um ‘cesninha’”. Para os desconhecedores do mundo da aviação, “cesninha” é um monomotor produzido pela Cessna, empresa americana líder em aeronaves de pequeno porte. Uma viagem dessas seria desafiante hoje, com toda a tecnologia embarcada até nos pequenos aviões. Ada concluiu o voo em 1951, sozinha.

O fato lamentado por Daré nessa história é que o “cesninha” esteve no aeroclube de Atibaia, interior de São Paulo, e nunca mais voou depois disso. Para ele, um pedaço da história da aviação brasileira, que poderia estar inspirando mais pessoas a se apaixonarem pela aviação, se perdeu. “Para pessoas como eu, é como se um carro do Ayrton Senna estivesse esquecido em um estacionamento”, compara.

Daré e um grupo de amigos, todos fanáticos pelo ar, tentam evitar que o destino de aviões históricos, como o de Ada Rogato, seja o ferro velho. Para isso, criaram a Associação Revoar, cuja finalidade é a restauração de aeronaves antigas, com o propósito de deixá-las operantes e realizar eventos de demonstração. Por operantes, entenda-se, eles querem voar com aviões das décadas de 30 e 40. Além de Daré, o grupo é formado pelos empresários Fernando Crescenti, Cristiano Oliveira, Thiago Sabino e pelo executivo Daniel Cagnacci.

O primeiro avião fabricado em série no Brasil


Na garagem de Daré em Atibaia, encontra-se uma dessas relíquias – ou ao menos partes dela. A Revoar busca concluir seu primeiro projeto com a restauração de um Muniz M7, um avião para dois tripulantes fabricado no Brasil entre 1937 e 1941. É a primeira aeronave a ser produzida em série no país, antes mesmo da criação da Embraer, fundada em 1969.

Daré ao lado da estrutura e de um pedaço da asa do M7: reforma deve levar cerca de 1 ano (Leandro Fonseca/Exame)
O Muniz M7 foi projetado pelo Major Antônio Guedes Muniz. Sua empresa, a Aviões Muniz, entregou 28 unidades, 11 delas para a Escola de Aviação Militar e o restante para aeroclubes. A aeronave tinha como principal função o treinamento de pilotos. “Ele e a esposa empenharam tudo o que tinham para realizar esse sonho”, conta Daré.

A reforma do M7 deve levar mais um ano, totalizando dois para ser concluída. Com o avião funcionando, a expectativa é angariar fundos por meio de eventos. A Revoar também está em processo de se adequar às regras das leis de incentivo. Os custos de reforma das aeronaves são altos, podendo chegar a 100.000 dólares, segundo Daré.

Na fila da oficina, estão outros aviões históricos, como o North American T6 Texan, utilizado pela Esquadrilha da Fumaça, e um PT19 da Força Aérea Brasileira que foi pilotado por Ozires Silva, o idealizador da Embraer, nos anos 50. “Queremos que todos os nosso aviões revoem, por isso nosso símbolo é uma fênix”, afirma Daré.

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