quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Sem fiscalização, curiosos se arriscam para ver aviões decolando no Rio


O local é tido por muitos como uma espécie de mirante natural, de onde se pode avistar, de um lado, o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor e a Marina da Glória; e, do outro, a ponte Rio-Niterói. Alguns vão a pé, sozinhos, em duplas e em grupos, de bicicleta ou de carro. Entram tão naturalmente quanto permanecem tirando fotos e observando os pássaros que descansam nas pedras ou que passam rasantes sobre os visitantes. A descrição poderia ser de um tranquilo retiro em meio à cidade, mas o barulho das turbinas e a passagem rasante de outro tipo de voo, que não o dos pássaros, é o verdadeiro atrativo de quem visita a cabeceira da pista do Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio de Janeiro.

Pequenas aeronaves e aviões de grande porte manobram e decolam a uma proximidade que normalmente não se tem acesso. Uma experiência interessante e arriscada. Entre os que circulam livremente, estão crianças e até cachorros sem coleira. A cerca de 300 metros da entrada da cabeceira da pista, placas de alerta avisam se tratar de uma área de segurança, com acesso restrito e "risco de vida".

Apesar do zelo na sinalização, o mesmo não acontece com o controle de acesso ao local, que é feito pela avenida Almirante Silvio Noronha. Qualquer pessoa pode entrar na área de entorno das pistas principal e auxiliar do aeroporto sem ser interpelado pelos vigias, passando pela cancela permanentemente levantada, sem a necessidade de mostrar qualquer identificação ou justificar o porte de objetos. "É uma oportunidade de ver os aviões decolando de perto. É muito bonito, mas muito perigoso também, já que um avião pode perder o controle num dia de chuva, por exemplo. Também existe o risco de alguém sair correndo ou de bicicleta para dentro da pista", afirmou o biólogo mineiro e morador de Campinas (SP) --que visitava o local pela primeira vez-- Thiago Miranda, 29. Ele aproveitou a oportunidade para fotografar os pousos e decolagens dos aviões.

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Mais acostumado a passear pelo local de bicicleta, o engenheiro paulistano Emerson Oliveira, 37, afirma que nunca teve problemas para entrar no local. "Só acho perigoso ficar exatamente na cabeceira da pista nos momentos dos pousos, quando um avião pode derrapar", disse.

A reportagem do UOL, sem se identificar, conversou com o vigia da guarita do local, que contou não serem raros casos de pessoas que correm para dentro da pista, além de já terem adentrado o pátio de aeronaves com bicicletas e skates.

"Se um dia alguém entrar com o avião já pousando ou decolando, não tem o que fazer. Nem a segurança nem o piloto", afirmou. Ele disse não ser possível controlar o fluxo de pessoas, já que a avenida Almirante Silvio Noronha, que passa em frente à pista do aeroporto, também serve de acesso à Escola Naval. Questionado se não seria mais seguro o acesso apenas a pessoas credenciadas, ele disse que "seria muito trabalhoso".

"É uma área de risco permanente. As pessoas não conseguem imaginar o poder destrutivo do sopro de uma turbina. É capaz de fazer um caminhão capotar várias vezes", alertou o especialista em segurança de voo Jorge Barros.

Foi o poder de uma turbina que, durante a decolagem de um avião, em 2002, provocou a morte do taxista Antônio de Almeida Macedo, 64, na mesma cabeceira de pista do Aeroporto Santos Dumont. Ele foi jogado para fora do carro que dirigia e arremessado contra as pedras que margeiam a Baía de Guanabara.

"Falta ali um rigor maior no controle de entrada. É preciso ser feita uma grande obra de infraestrutura (para separar a entrada da pista do aeroporto ao acesso à Escola Naval) ou uma conscientização permanente dos meios de controle de acesso, e não vejo perspectiva de nenhuma das duas a curto prazo", opina Jorge Barros. 

Enquanto a obra não acontece, o professor da Escola Politécnica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Respício do Espírito Santo sugere a utilização de uma sinalização mais eficiente e a automatização das cancelas.

Em nota, a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) disse que a avenida próxima à cabeceira da pista é "uma via pública, onde o controle de acesso é realizado por uma guarita, com sistema de alarme e cancela (...). A área não faz parte das áreas restritas do aeroporto".

Mas o órgão deixa transparecer a necessidade de maior zelo. "Há tratativas da Infraero com a Prefeitura do Rio com o objetivo de incorporar essa área ao aeroporto, para que possa ser realizado o controle efetivo no trânsito de pessoas e veículos".

Fonte e foto: Silvia Baisch (UOL)

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