quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Infraero descartou reparo em pista que evitaria fechamento de Viracopos

Aeroporto fechou por 45 horas porque avião quebrou na pista principal.

Documento mostra que taxiway poderia ser usada, mas faltou manutenção.

A falta de manutenção na pista de taxiamento do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), impediu o funcionamento parcial do aeroporto após o incidente com um avião cargueiro, no último dia 21, quando as operações no local ficaram totalmente suspensas durante 45 horas. Documento obtido pelo G1 mostra que a pista auxiliar é homologada desde 1981 para voos eventuais, mas a precariedade na pavimentação gerou um alerta de segurança, em 2006, para que a taxiway não fosse mais utilizada.

A suspensão das atividades em Viracopos afetou 25 mil passageiros e causou um prejuízo estimado de R$ 20 milhões às empresas aéreas. Isso porque a companhia proprietária do cargueiro, a Centurion, teve dificuldade para remover o avião da única pista em atividade no aeroporto.

Equipe retirou avião cargueiro da pista com a ajuda de carretas

Aviso aos navegantes

A pista de taxiamento de Viracopos tem como função principal o deslocamento de aeronaves do local de embarque até a pista de voo. Entretanto, a portaria 227 de 20 de novembro de 1981 determina que, a partir daquela data, fica "homologado e aberto o tráfego aéreo”.

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a função de "segunda pista de pousos e decolagens" foi embargada há seis anos, desde que a Infraero disparou um “Aviso aos Navegantes” (Notam), no qual informa a toda comunidade aeronáutica sobre a precariedade da pavimentação. A estatal admite o problema, mas diz que seria impossível realizar reparos no local sem comprometer as atividades na pista principal e, portanto, julgou a obra inviável.

A pista de taxiamento tem 2,7 mil metros de comprimento por 23 metros de largura e uma das principais restrições para que ela opere em situações emergenciais é justamente a qualidade do asfalto. Apesar da Infraero descartar a manutenção, a própria Secretaria de Aviação Civil (Sac), a quem a estatal responde, estuda melhorar as taxiways dos aeroportos brasileiros para serem usadas durante incidentes como o ocorrido em Campinas.

Alternativa para o fechamento

Para o professor do Departamento de Engenharia Aeronáutica da USP James Waterhouse, a manutenção da pista seria uma medida importante para evitar os transtornos ocorridos após o incidente. “Se nós tivéssemos uma pista de táxi homologada com tudo em ordem, pelo menos os ATRs poderiam ter operado lá”, disse. A companhia aérea Azul, responsável por 85% das operações domésticas de Viracopos, possui em sua frota 11 aeronaves deste modelo.

Avião cargueiro ficou quebrado por dois dias na pista principal

Para o professor, a Infraero falhou em não cuidar da manutenção da pista, que significaria uma alternativa para prevenir os transtornos pós-incidente. “A filosofia da aviação é sempre estar à frente do problema, e tanto a pista de táxi quanto a aquisição de um equipamento de remoção de aeronaves são alternativas viáveis neste caso. Faz parte de todo um hall de checagens que pelo visto não foram feitas. É mais uma das pérolas da Infraero”, disse.

O que diz a agência fiscalizadora

À Anac caberia a função de fiscalizar o cumprimento das normas de aviação civil nos aeroportos brasileiros. A agência informou, por meio de sua assessoria, entretanto, que “não é atribuição dela exigir o funcionamento da pista”. Isto, segundo a assessoria de imprensa, é função do administrador, que pode optar ou não por operar. A Anac informou, ainda, que faz vistorias periódicas no Aeroporto de Viracopos. 

Acesso das aeronaves à pista de taxiamento no Aeroporto Internacional de Viracopos

O que diz a Infraero

Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a Infraero confirma que o Notam impede que a pista seja utilizada em voos e que, desde 2006, quando o aviso foi disparado, não realizou os reparos necessários porque “na obra de recuperação do pavimento seria necessária, entre outras coisas, a interrupção das atividades na pista principal, resultando em impacto operacional”. Segundo a estatal, “isso impediria, também, os pousos e decolagens no aeroporto, visto que na execução dos reparos seriam interrompidos os acessos aos pátios”.

A Infraero justifica, ainda, que, apesar da pista ser homologada, houve uma transformação no perfil de voos em Viracopos desde a homologação e que a adequação da via para pousos e decolagens exigiria a implantação de sinalização horizontal, um sistema de pista, e também adequação às luminárias de balizamento. A estatal afirma, por fim, que na situação do último dia 21, se oporia à liberação da pista. 

“Uma eventual liberação dependeria de análise sobre as características de homologação da pista, das aeronaves e das condições atuais de segurança. (...) Haveria risco para os usuários se fosse liberada para pousos e decolagens, sem os devidos ajustes e planejamento acima mencionados”, diz a nota.

Após a concessão

O Aeroporto Internacional de Viracopos passa a ser administrado pela concessionária Aeroportos Brasil no dia 14 novembro. A empresa, que já anunciou o prazo para a construção de uma segunda pista de pouso e decolagem para 2017. Até lá, entretanto, a empresa informou por meio de assessoria de imprensa que cogita realizar as obras de manutenção na taxiway para que ela possa funcionar como pista de pousos eventuais.

Fonte: Lana Torres e Leandro Filippi (G1 Campinas e Região) - Fotos: Lana Torres/G1

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