sábado, 20 de junho de 2009

Veja o que diz o manual brasileiro de investigação, com base internacional

O G1 teve acesso a Manual do Sistema de Prevenção do Cenipa.

Em quase 180 páginas, texto indica parametros de análise.


Destroços do Airbus resgatados pela Força Aérea Brasileira

O procedimento padrão de investigação de causas de acidentes aéreos foi organizado, no Brasil, em um manual que indica os caminhos a serem seguidos pelos pesquisadores do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). Mesmo que o acidente com o voo AF 447 esteja sendo investigado pelo Escritório de Investigações e Análises da França (BEA, na sigla em francês), o trabalho de investigação é ligado a tratados, convenções e atos internacionais de direito aeronáutico. O manual segue a Convenção Internacional de Aviação Civil (de Chicago), de 1944, a mesma seguida pelos investigadores franceses.

O G1 teve acesso ao Manual de Investigação do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), aprovado em 2004 para suprir os investigadores de um documento padronizando a metodologia das operações de investigação de causa do acidente. A investigação deve, diz, buscar condições que possam ameaçar a atividade aeronáutica, não a punição ou inquisição. O livro tem 178 páginas, incluindo anexos como trechos da convenção internacional e até técnicas de entrevistas a serem realizadas pelos investigadores.

O manual divide a investigação em várias fases. Na ação inicial, propõe medidas que visam preservar os indícios: investigação inicial dos destroços, coleta inicial de informações através de entrevistas, gravação e fotografias. Ele se baseia especialmente na possibilidade de o acidente acontecer em terra, permitindo a coleta de todos os destroços, assim como a marca deixada pela aeronave no solo, a posição das partes do avião, como forma de determinar o modo como o acidente aconteceu, o ângulo da queda e a velocidade, bem como a trajetória.

Em caso de acidente na água, como aconteceu com o voo 447, o manual sugere que seja avaliado o custo de localizar e recuperar os destroços submersos. Ele admite que normalmente não se consegue recuperar tudo e que há risco de corrosão

A investigação deve analisar o peso e balanceamento da aeronave, a distribuição dos passageiros e da bagagem, bem como a quantidade de combustível. Isso é feito com documentos e com testemunhas. Também se buscam as informações sobre a aeronave, seu histórico, suas inspeções. Esta ação inicial já coleta informações sobre toda a tripulação, horas voadas, histórico e formação. Para isso, a estrutura básica de equipe de investigação inclui além de estudos sobre a parte técnica e mecânica da aeronave, analistas de fator humano, tanto no aspecto operacional quanto no aspecto psicológico e médico.

Operação

A área operacional da investigação analisa as informações sobre a relação entre homem e máquina. Os investigadores estudam de forma minuciosa o operador do voo (no caso, a Air France), o histórico da tripulação, o planejamento do voo, o peso e o balanceamento da aeronave, a meteorologia, o tráfego aéreo, as comunicações, as navegações, as instalações do aeroporto, o cumprimento das normas operacionais e a manutenção da aeronave. De acordo com as informações já divulgadas a respeito do voo 447, desses itens, apenas o mau tempo enfrentado pela aeronave, o desempenho da aeronave e o cumprimento das normas operacionais aparentam poder ter algum problema, segundo pilotos e analistas de aviação ouvido pelo G1. Os investigadores levantam as informações por meio dos documentos relacionados ao voo e de entrevistas com testemunhas e pessoas relacionadas com a tripulação.

Os investigadores analisam todos os detalhes a respeito da carreira da tripulação, desde a tarefa desempenhada a bordo, a idade, o currículo profissional, registros médicos, experiência total com a aeronave, a rota e as condições de voo. Eles levam em consideração todas as atividades da tripulação até 48 horas antes do acidente, dando atenção especial ao aspecto psicológico e físico, buscando mudanças substanciais e até mesmo problemas com períodos de sono dos tripulantes.

Segundo o manual, foi nos anos 70 que se passou a ver o erro como algo inerente, não como uma falha possível de ser evitada em todas as situações. Eles observam a participação deles na preparação do voo e os períodos de revezamento que pode haver durante a viagem. Tudo com documentos e entrevistas. O objetivo é recompor o papel de cada membro da tripulação durante a viagem, bem como observar as variáveis individuais, psicossociais e mesmo organizacionais da empresa operadora.

O plano de navegação específico do voo acidentado também é de suma importância, mais de que o plano repetitivo registrado previamente. Ele é documentado junto à companhia aérea e pode trazer revelações sobre as condições em que o acidente ocorreu. Eles estudam ainda declarações e registros de comunicação durante voos anteriores.

Mau tempo

Quando a meteorologia é fator determinante no acidente, como no caso do Airbus da Air France, o manual indica que é preciso ter um analista do assunto na equipe de investigadores. Ele diz que deve-se registrar as condições do clima por diferentes fontes que revelem desde nuvens até os ventos e a visibilidade, bem como as previsões de que dispunha a tripulação.

O manual confirma que a função do controle de tráfego aéreo é evitar o choque entre aeronaves, mas diz que as informações deste setor podem ser úteis mesmo quando não se trata de um acidente deste tipo, pois ele ajuda a determinar a hora e o local do acidente, bem como outras informações sobre as condições de voo.

Para analisar o desempenho da aeronave, os investigadores estudam o manual de voo, a fim de determinar os procedimentos de padrão e de emergência para o avião acidenteado, estudando o que deveria ser feito para comparar com o que aconteceu e buscar determinar o que deu errado.

O resgate dos corpos das vítimas do acidente, por sua vez, é importante para que a determinação da causa da morte revele novas informações que ajudem a descobrir as causas do acidente.

A investigação deve fazer também uma observação detalhada de todos os equipamentos do avião, incluindo os já citados e polêmicos tubos de pitot, as turbinas, elementos mecânicos, elétricos e até bússolas. O manual traz um guia de técnica de entrevistas para os investigadores.

Fonte: G1 - Foto: Reprodução/FAB

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