domingo, 19 de abril de 2009

Perigos na conexão Brasil-Angola

Aumento do número de pernambucanos viajando com destino ao país africano deixa em alerta autoridades sanitárias que temem que novas e antigas doenças cheguem ao país

Foto: Agenor vai embarcar para Angola no próximo mês e já tomou cinco tipos de vacina: "Temos que tomar vários cuidados".

Passagens compradas e malas prontas. Destino: Angola. As oportunidades de investimentos naquele país africano têm atraído um número cada vez maior de pernambucanos. Em geral, trabalhadores pegando voo no deslanchar de diversos setores, como a construção civil, consultorias jurídicas e financeiras, tecnologia da informação, comércio e os mais diversos serviços, da produção de alimentos ao salão de beleza. Sem contar com as famílias de quem vai para lá a negócio. Mas tanta procura tem gerado preocupação das autoridades sanitárias. É que naquele país, assim como em outros destinos africanos e asiáticos, a exemplo da Nigéria, China e Índia, há registro de doenças que não existem no estado, como malária, poliomielite, febre amarela e sarampo. Um risco, já que além de ficar de cama durante a estada no exterior, o viajante ainda pode trazer essas enfermidades na "bagagem" para o estado.

No começo do ano passado, quando começou a observar o crescimento dofluxo de pernambucanos para Angola, a unidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Aeroporto do Recife / Guararapes resolveu contabilizar esse aumento. Só entre maio e dezembro do ano passado, mais de 700 pessoas partiram do estado para aquele país. Neste ano, até o dia 15 deste mês, já foram 417, 26% das 1.594 pessoas atendidas na unidade da agência no aeroporto. Além de estar atenta à saúde do viajante, a Anvisa está preocupada com o risco de entrada (ou retorno) de algumas doenças. A poliomielite, por exemplo, foi erradicada do país em 1994 e os únicos casos registrados no Brasil de sarampo desde 2001 foram "importados" de outros países.

No mundo, 129 países exigem vacinação dos seus visitantes. Mas a única imunização obrigatória é a que protege contra febre amarela - a exceção é a cidade de Meca, na Arábia Saudita, que exige que o visitante tenha tomado vacina tetravalente contra meningite, que nem está disponível no Brasil. Apesar de não serem obrigatórias, a Anvisa recomenda mais duas vacinas para quem vai para a Angola, Índia ou Nigéria: poliomielite e sarampo (a dupla ou a tríplice viral). E até quem já tomou essas doses quando era criança precisa receber reforço.

Foi o que fez Agenor Maurício Tavares, 51 anos. De malas prontas para embarcar para Angola, no final deste mês, ele recebeu vacinas contra febre amarela, rubéola, tétano (a primeira dose), tuberculose (BCG) e até contra febre tifoide, que tem proteção apenas de 47%. Engenheiro agronômico, ele irá trabalhar como encarregado de almoxarifado em um empreendimento da Queiroz Galvão. "Como é um país que vem de sucessivas guerras civis e a saúde pública é deficitária, tem que tomar vários cuidados", alegou, dizendo-se feliz com a viagem.

Segundo a coordenadora do Programa Nacional de Imunização em Pernambuco, Adriana Baltar, um adulto que viaja para países onde há circulação de sarampo e de poliomielite tem risco de ficar doente, mesmo se tiver tomado todas as doses preconizadas quando era criança. "Se não tomar cuidado com os viajantes, eles podem acabar trazendo a doença para cá", disse. Segundo ela, mesmo com a existência de duas campanhas anuais contra a paralisia infantil - onde todas as crianças, mesmo aquelas que tomaram o esquema de vacinação rotineiro, recebem um reforço - não dá para achar que o risco de retorno da doença não existe. De acordo com Adriana, vacinas contra poliomielite e sarampo não conferem proteção de 100%. Por isso, adultos que tomaram as doses preconizadas quando criança, são orientados a receber um reforço. São três, que devem começar a ser tomadas preferencialmente oito semanas antes da viagem.

"Quanto ao sarampo, a gente se preocupa porque há adultos que nunca tomaram a vacina. Numa situação dessa, a pessoa vai lá (no país onde a enfermidade circula) e pode trazer o vírus", disse. Só em 2006, foram confirmados 57 casos da doença em cinco municípios do interior da Bahia. São casos de pessoas que passaram pela Europa e Ásia ou contraídos por quem teve contato com essas pessoas. A boa notícia é que com acampanha de vacinação contra a rubéola, em 2008, cuja dose também protege contra sarampo, 95% da população pernambucana havia sido imunizada até fevereiro deste ano. Índice que só chegou a 70% em algumas cidades.

Serviço

Disque-notifica (para profissionais de saúde): 0800.281.3041
Disque saúde (para tirar dúvidas da população): 0800.61.1997

Saiba mais

Cuidados em viagens pelo Brasil

Risco de transmissão de malária na Amazônia legal

A vacinação contra febre amarela é recomendada para viajantes que se dirigirem aos seguintes estados:

Acre
Amazonas
Amapá
Distrito Federal
Goiás
Maranhão
Minas Gerais
Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Pará
Roraima
Rondônia
Tocantins
E alguns municípios dos estados do Piauí, Bahia, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul

O Brasil não tem qualquer exigência sanitária

Fonte: Juliana Colares (Diário de Pernambuco) - Foto: Inês Campelo (DP/D.A Press)

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