Yves Rossy, também conhecido pelo apelido de "fusionman", durante a travessia do Canal da Mancha
"Eu não sei o que me motiva, mas quero me superar, ir fundo nos meus sonhos", conta o primeiro homem voador a cruzar o Canal da Mancha com reatores sob uma asa colada a seu corpo. Entrevista.
swissinfo: O céu não é mais o limite para o Jet-man?
Yves Rossy : Estou voltando da Espanha onde fui testar uma queda livre em Empuriabrava, próximo de Figueras. A vantagem é que lá há espaço suficiente ao redor do aeroporto, caso precisasse largar a carga sem correr o risco de atingir uma estrada ou uma casa.
Durante o inverno, construí dois novos protótipos de asas, em colaboração com a Ruag, em Emmen (cantão de Lucerna. Red: subsidiária das empresas de armamento da Confederação) e fui lá testá-las. O antigo modelo era menos estável. A situação melhorou. Posso seguir em frente com meu projeto de atravessar o Grand Canyon, no Arizona. Há um mês, analisei o local e encontrei um ponto favorável para o vôo. É um lugar de muitos simbolismos, magnífico, incluindo até uma reserva indígena.
Os seus testes e seus projetos são caríssimos...
A utilização do túnel de vento para reproduzir as condições de vôo requer muita energia. Para acelerar uma massa de ar a 300 km por hora com a ajuda de gigantescas hélices, é necessária, praticamente, a energia elétrica de uma pequena cidade. Dois dias de testes custam 100 mil francos. Até agora, tenho agido intuitivamente baseado nos primeiros estudos aerodinâmicos, efetuados há sete anos, com uma asa inflada, na fábrica de aviões Sukoï, em Kiev, Ucrânia. Mas a base é sempre a mesma. Simplesmente passamos para a asa rígida dobrável.
Quanto pesa sua asa atual ?
Pesa 55 kg, sem contar os dois reservatórios de 13 litros de combustível e 4 litros de fumaça (fumígeno). Com meu peso, são 145 kg que se projetam no espaço, quando saio do avião. Se eu precisasse de mais combustível para aumentar a autonomia de vôo, ficaria mais pesado, correndo o risco de perder velocidade e altitude. Mas a meta não é ir longe. Pretendo, acima de tudo, criar uma moto ou um jet-ski voador, um objeto lúdico para explorar a terceira dimensão.
Todos os adeptos do paraquedismo me dizem: "Que esse negócio seja para todo mundo". Da mesma forma que a asa delta ou o parapente, há um enorme potencial de desenvolvimento e simplificação. Eu jamais tentarei posar sem a ajuda de um paraquedas. A vantagem é que eu não preciso de uma pista para pousar. Mas o que será que eu coloco como trem de aterrissagem? Um rolimã no nariz?
O que o levou a voar desse jeito?
Tudo começou com a descoberta da queda livre. Eu também voei como piloto militar com o Vampire, o Venon, Hunter, Tiger e, principalmente, com o Mirage, um avião com o qual tenho mais de mil horas de vôo. Voei com o astronauta Claude Nicollier. Fazíamos combates aéreos, um contra o outro, ele em um Tiger e eu em um Mirage. É realmente um piloto de testes sem igual, um exemplo superior sob o aspecto humano e de conhecimentos. Sobre minha asa, recebi recentemente das forças especiais americanas um pedido relativo à possibilidade de aplicação militar desse engenho. Eles me enviaram um protocolo de avaliação para ser preenchido, mas ninguém apareceu para me ver voar.
Encontros aéreos exibiram um americano em vôo estacionário graças a mini-reatores em seus dois braços
Vi esse rocket-man (homem-foguete) voar. É extraordinário. Tem também em Asnières, França, um químico especializado em peróxido de hidrogênio que acelera os carros dragsters e detém o recorde de velocidade a 250 km/h, conquistado no aeroporto de Payerne, na Suíça. O processo transforma a energia em vapor de água, acionando dois pequenos reatores que dão 180kg de empuxe. Mas é uma técnica de vôo extrema.
Tive oportunidade de testar, sustentado por cabos, mas não consegui me manter. Atualmente, três "homens-foguetes" fazem exibições. Mas eles voam apoiados em apenas dois únicos pontos, quase sem capacidade de sustentação. Se a propulsão cessa, caem como pedra. Há também o problema de peso: 30 litros de peróxido representam 40 kg nas costas. Queimam um litro de combustível por segundo contra 5 a 7 decilitros com meus quatro reatores. A duração do vôo não passa de 30 segundos contra 13 minutos de minhas asas.
Você também poderia participar de exibições aéreas?
Já me convidaram, mas para uma exibição desse tipo você precisa voar perto da terra para ser visto. Por segurança, eu vôo a um mínimo de 800 m do chão. Para me ver voando, seriam necessárias grandes telas, senão iria parecer apenas "um mosquito barulhento" . Uma solução seria colocar os espectadores no alto de um monte. Como fiz a 2.000 m, em La Croix de Javerne, próximo de Bex (cantão suíço de Vaud). Eu posso passar a 100 m do público, mantendo uma margem de segurança sob meus pés.
Você poderia viver normalmente da sua paixão?
Como piloto de um Airbus A-320, da Swiss, obtive uma licença sabática de três anos. Mas estou sempre procurando patrocinadores para fechar meu orçamento, da ordem de 600 mil francos anuais. Com seu projeto de avião solar, Bertrand Piccard está mais dentro dos objetivos ambientais. Meu projeto é mais emocional: rodar como um satélite das nuvens por dez minutos produzindo o máximo de emoção. Mas eu me interesso também pelo meio ambiente. Sonho utilizar o biocombustível, carburante produzido a partir de dejetos, com a colaboração da Escola de Engenharia de Genebra.
Fonte: Olivier Grivat (swissinfo.ch) - Traduzido do francês por J.Gabriel Barbosa - Foto: Bruno Brokken
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